Revista

Comer sem preocupação

O nigeriano Chidera Ifeanyi chegou em Brasília para cursar engenharia eletrônica, mas foi a gastronomia africana que o fez famoso

Correio Braziliense
postado em 12/01/2020 04:09
Chidera Ifeanyi: à frente do restaurante Simbaz, o lema africano

Quando se entra no restaurante Simbaz, percebe-se logo a estética africana. Na parede, uma frase conhecida por muitos brasileiros, graças à Disney: “hakuna matata”. O nigeriano Chidera Ifeanyi, 31 anos, chef e dono do estabelecimento, conta que significa basicamente “não se preocupe”. Ele acredita que, por meio das refeições, é possível melhorar o humor das pessoas e fazer com que os problemas sejam vistos por outras perspectivas. “Eu quero que todo mundo saia daqui melhor do que entrou”, afirma.

A primeira refeição completa que Chidera cozinhou foi aos 10 anos. Serviu à família. Na época, ele conta que se falava que cozinha era lugar de mulher. Na casa dele, era diferente. “Meu pai cozinhava bastante e me ensinava algumas coisas”, recorda-se. Porém, aprendeu ainda mais quando foi morar com a tia e começou a fazer algumas das coisas mais básicas da culinária de vários países africanos: feijão e fufu. O fufu é feito à base de um carboidrato, que pode ser mandioca ou inhame, e lembra a nossa polenta. O feijão deles, costuma ser o fradinho e vai também azeite de dendê.

O chef chegou em Brasília para cursar engenharia eletrônica na Universidade de Brasília (UnB), mas o sonho dele era trabalhar com gastronomia. Sempre cozinhava para os colegas as delícias da Nigéria. Em uma viagem ao Canadá, viu um homem fazer o churrasco típico africano — e ganhar dinheiro com aquilo. Era algo que sabia fazer, mas nunca tinha oferecido aos amigos. Resolveu testar a aceitação deles. Nada de temperar a carne só com sal grosso. No churrasco de Chidera, vão muitos outros temperos.

Com espírito empreendedor e muito talento, o negócio em Brasília começou a deslanchar. Foi contratado por calouros do UniCeub para fazer um churrasco africano para a turma. Depois, algumas embaixadas também começaram a chamá-lo. “Antes da Copa, escrevi uma proposta para a Embaixada da Nigéria. Eles aceitaram e fui o cozinheiro oficial da delegação”, conta orgulhoso.

Com o sucesso dos seus pratos, chegara a hora de fazer o que sonhava desde que colocou os pés  no Brasil, mas era desestimulado por alguns conhecidos, que diziam: “Brasileiro não vai gostar de comida africana”. Depois de muitos cursos, inclusive vários do Sebrae, e de procurar o antigo dono de um restaurante africano na capital federal para pegar dicas do que dava ou não dava certo, ele abriu o bem-sucedido Simbaz há mais de dois anos.

Chidera admite que muita gente chega no restaurante receoso, mas logo veem que a comida é boa e voltam trazendo amigos. “Muitos acham que vai ser apimentado”, compreende, “mas, aqui, a pimenta sempre vem à parte”, garante. Ele admite que, no prato dele, gosta de carregar. Segundo o nigeriano, a trajetória foi muito difícil, mas além de ter realizado um sonho, foi a oportunidade de ficar no Brasil.

O sabor africano
“Nós não economizamos no tempero”, refere-se Chidera à, provavelmente, uma das principais características da culinária africana. No Brasil, é em Minas Gerais e na Bahia que ele diz encontrar as comidas mais parecidas com as de seu país. O acarajé baiano é uma variação do akara africano, que é apenas o bolinho de feijão-fradinho, sem nenhum recheio. Os cozidos mineiros são bem semelhantes com os africanos, com diferença de alguns temperos específicos.

Lá, também se usa muito ingredientes naturais, pouco processados, e muitas verduras. Como muitos países vivem da agricultura, verduras e legumes são peças-chave para a composição de um prato. O Simbaz, portanto, não poderia ficar sem opções veganas e vegetarianas. No Brasil, o azeite de dendê se tornou uma marca da influência africana por aqui. Ele foi uma adaptação do azeite de palma africano. E não à toa. Chidera conta que, na África, o azeite é colocado até no feijão. Uma das principais diferenças nos sabores brasileiro e africano está no alho. O chef conta que, na África, ele é bem menos usado que aqui. Lá, o foco é maior na cebola.





Inhame com verduras

Ingredientes

*  Espinafre ou couve
*  Inhame
*  Azeite de dendê
*  Cebola picada em cubos
*  Alho (opcional)
*  Sal a gosto
*  Pimenta-de-cheiro a gosto
*  Cogumelo ou carne ou frango ou peixe  (opcional)

Modo de fazer
*  Em uma panela, cozinhe o inhame em água com sal
*  Em outra, refogue bastante cebola no azeite de dendê
*  Acrescente o espinafre ou a couve picada e refogue
*  Depois, acrescente a carne, frango ou o peixe em cubos ou o cogumelo (para vegetarianos)
*  Depois, é só adicionar o inhame e acertar o sal a gosto





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