Correio Braziliense
postado em 02/02/2020 04:31
A saúde bucal não é essencial apenas para o bem-estar dos seres humanos, mas também para os pets. O cuidado, muitas vezes, não é tão levado a sério e muitos tutores sequer sabem da necessidade de escovar os dentes de cães e gatos e fazer visitas regulares ao dentista.
Isso mesmo, assim como existem especialidades para a dermatologia e a oncologia na medicina veterinária, existem os profissionais que se dedicam a cuidar dos dentes e da boca dos animais.
Apesar de não ser tão difundido, o cuidado com a higiene bucal de cães e gatos é tão importante para a saúde quanto outras medidas, como as vacinas, por exemplo. Quando não são limpos ou tratados, os dentes podem desenvolver uma série de doenças que podem se tornar sistêmicas e causar sérios problemas ou doenças.
A médica veterinária especializada em odontologia Julie Minner Viegas, da clínica Sorrivet, afirma que o problema dentário mais comum, tanto em cães quanto em gatos, é a doença periodontal.
Cerca de 80% dos animais que visitam o consultório da dentista apresentam a condição, que pode se apresentar de forma mais branda ou mais grave. A doença infectoinflamatória é causada pelo acúmulo de placa bacteriana nos dentes, o que é chamado comumente de tártaro.
Conforme a placa se forma, sem a limpeza adequada, vai causando a mineralização nos dentes do animal. “Em casos mais graves, se forma o cálculo dentário e removemos verdadeiras pedras de cima dos dentes do animal”, alerta Julie.
A doença consiste na perda dos tecidos de sustentação dos dentes, o que faz com que eles tenham maior mobilidade e acabem caindo. Ocorre também a perda óssea e, por meio dos dentes ou da gengiva, as bactérias começam a ter acesso à corrente sanguínea, podendo atingir outros órgãos.
Um dos sinais iniciais da doença é a gengivite, na qual a gengiva fica avermelhada, inchada e apresenta sangramentos. Quando não é tratada e evolui, o animal começa a ter perda de apetite e dificuldade para se alimentar por causa da dor na boca.
O tratamento, uma vez que o dente já tem a formação de tártaro é feito sob anestesia geral. A médica veterinária especializada em odontologia Thaíssa Quintas Nogueira, explica que muitos donos ficam com medo e optam por não fazer o tratamento, mas que, nesses casos, a doença pode se agravar e causar severos danos à saúde do animal.
“Muitos donos não querem dar a anestesia geral pelo animal ser cardiopata, nefropata, diabético ou apresentar outros problemas de saúde, mas todas essas condições podem ser agravadas pela doença periodontal”, ressalta Thaíssa.
Doença
No tratamento, o animal é anestesiado para a remoção do tártaro, é feito polimento dos dentes e a radiografia da boca para verificar se há dentes comprometidos pela doença, nesses casos, é feita a extração.
A prevenção, assim como no caso dos humanos, é a escovação. “Sem escovação, esse processo vai acontecer. E é o único método de prevenção, não existem produtos ou soluções milagrosas”, alerta Julie. Ela ressalta ainda que os tutores acham normal os animais perderem os dentes quando se tornam mais velhos, mas, com cuidado, é possível que eles mantenham todos os dentes.
Outro problema de saúde bastante comum que acomete os felinos, a causa de 70% dos problemas dentais em gatos, é a lesão de reabsorção dentária. A doença não tem causas conhecidas e consiste na perda progressiva da substância dentária.
Ou seja, o organismo começa a absorver os dentes, que começam a se tornar ossos, causando dor intensa aos animais. Os gatos começam a ficar extremamente incomodados, parando de comer e se afastando dos tutores. Em outros casos, ficam agressivos e acuados.
Nesses casos, a solução é remover os dentes acometidos e fazer visitas regulares ao dentista para verificar se outros dentes são atingidos.
A gatinha Pandora, de 11 anos, já tinha perdido alguns dentes quando chegou ao dentista e precisou remover outros seis em decorrência da doença. A pet sitter da gata informou a sua tutora, a socióloga Caroline Dantas Coelho, 43 anos, que Pandora estava com um bafo estranho e recomendou a visita a um dentista veterinário.
Pastas dentais
“Fiquei surpresa, porque por mais que cuidasse muito bem das minhas gatas, não sabia que existia essa especialidade”, lembra. Ao visitar o consultório, descobriu sobre a doença e aproveitou para tratar também a doença periodontal de Pandora e da outra gata, Habiba, 9 anos.
Os animais não tinham tanta placa bacteriana, pois Caroline sempre fez uso das pastas dentais para animais com as gatas, fazendo a limpeza dos dentes. “Apesar de não fazer a escovação ainda, sempre oferecia as pastinhas para elas”, conta.
Depois do procedimento, as visitas ao dentista se tornaram anuais e a escovação em casa, com a escova de dentes para bebês, se tornou rotina.
Para Caroline, investir na saúde dos pets, seja bucal ou geral, faz parte da responsabilidade de se ter um animal. “A saúde delas depende totalmente de mim e fico feliz de poder proporcionar isso a elas e ensinar minhas filhas como o cuidado com todos os seres vivos é fundamental”, completa.
Outro problema bucal bastante comum em pets são os dentes fraturados. Objetos mais duros, brinquedos e ossos, sejam eles naturais ou sintéticos, são os maiores causadores do problema. Além de dor, os dentes quebrados se tornam vias de alta velocidade para que as bactérias e os vírus cheguem à corrente sanguínea, podendo causar graves doenças ao animal.
O tratamento consiste na remoção do dente fraturado ou em um tratamento de canal, o dentista faz a recomendação e o tutor escolhe o que mais se adequa.
Dicas de escovação
- O ideal, segundo os veterinários, é que a escovação dos dentes dos cães e gatos seja diária ou de 48 em 48 horas.
- As pastas usadas devem ser sempre as de uso animal, nunca as para humanos pois estas podem causar problemas de saúde ao pet.
- As escovas podem ser as feitas para bebês, pois são menores e tem as cerdas macias, incomodando menos o animal.
- Acostume o animal aos poucos e evite que a atividade seja estressante.
- Tente tornar a manipulação oral prazerosa ao pet, oferecendo petiscos e carinhos.
- Comece aos poucos, toque a boca, os lábios, os dentes. Fazendo o toque de maneira progressiva e conforme a permissão do animal.
- Quando ele estiver mais acostumado, introduza o uso da escova.
- Nunca se esqueça da compensação do animal, facilitando o processo.
- Não ofereça brinquedos duros ou ossos, que são vendidos, muitas vezes, como facilitadores na remoção do tártaro. Esses produtos mais rígidos são responsáveis por grande parte das fraturas dentárias em cães e gatos.
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