Correio Braziliense
postado em 03/02/2020 17:25
“Passei anos sem uma rotina de exercícios. Não era muito ligado à alimentação, todo fim de semana exagerava e, inclusive, bebia bastante. Até que voltei a fazer atividade física cinco vezes por semana e há dois meses e meio mudei totalmente minha alimentação e aumentei a intensidade dos exercícios. Meu condicionamento e disposição são outros. Também estou muito menos ansioso e estressado e mais concentrado nos meus estudos.”
Adalto Mateus, 31, conseguiu retomar a rotina de exercícios depois de quatro anos sedentário. Ele conta que o processo iniciou há um ano, com acompanhamento de uma personal. “No início, foi difícil. Todo início é difícil e até mesmo estressante. Mas a rotina de academia e uma boa alimentação não eram mais uma escolha. Eu precisava disso para passar no teste de aptidão física do concurso para carreira policial que prestaria”, relata.
O estudante fazia parte da população que faz menos de 150 minutos de atividade física moderada por semana, frequência recomendada pela Organização Mundial da Saúde para uma vida saudável. No Brasil, quase metade da população se encaixa nessa condição. Entre os sedentários, a falta de motivação e a carência de perspectiva são comuns.
O especialista em inteligência espiritual e coach Fabrício Nogueira afirma que o indivíduo sedentário é viciado em estar desmotivado. Ele explica que a própria mente se acomoda, porque, para o corpo, é natural priorizar a economia de energia. “O sedentarismo é um vício mental de acomodação. A pessoa não percebe que precisa se mover, e isso pode até nutrir uma visão negativa sobre si. Sem entender que precisa se respeitar e correr atrás de saúde.”
E, muitas vezes, o maior incentivo que alguém pode receber é, na verdade, uma ameaça. “Quando um médico falar que a condição do indivíduo está péssima, aí ele começa a se preocupar, porque isso assusta. E não é para menos, o sedentarismo piora muito a qualidade de vida.”
A boa notícia é que fazer uma caminhada já tem algum potencial transformador. Cientistas britânicos apontaram em estudo que o deficit calórico dos exercícios físicos também controla o apetite. “O exercício tira do vício, ajuda os neurotransmissores e produz hormônios que geram sensação de saciedade”, acrescenta Fabrício.
De sedentária a fitness
Marcia Pinheiro, 57, assim como muitas pessoas, reduziu o ritmo da atividade física — até praticamente parar — porque o trabalho exigia muito. Era difícil dar sequência a alguma aula ou academia — que, por sinal, ela não gosta. Hoje, o trabalho continua puxado. Marcia é assessora técnica e precisa viajar muito. Mas faz um ano que decidiu priorizar a saúde e encaixar a prática de exercício físico em algum momento do dia.
“Sabe quando você sobe três andares de escadas e sente ficar sem fôlego? Alguma coisa está errada”, pondera. O hipotireoidismo associado à vida sedentária que levava também contribuíram para alguns quilinhos a mais. Ela conta que a consciência pesou. “Sou o tipo de pessoa que cuida muito do filho, de amigo, de cachorro e esqueço de mim. Precisava parar e me dar esse direito.”
No fim de 2018, ela se aventurou no remo. Mas as particularidades do esporte exigiam que ela fosse ao clube às 5h30 da manhã ou no final da tarde. O horário acabava sendo pouco prático. Depois do contato com o remo, Marcia conheceu outra modalidade: a canoa havaiana, que é praticada em grupo.
“Fiz por um tempo para experimentar e realmente gostei. O professor nos acompanha por mensagem, manda a programação, então fica difícil faltar. Fui conseguindo me dedicar, fiquei firme, colocava um objetivo. Se a aula fosse às 16h30, eu ia. Disse para mim mesma que iria me organizar e sair mais cedo do trabalho.” Ela garante que o fato de o esporte ser coletivo é mais um incentivo para persistir na vida fitness.
Por onde começar?
Quem não se exercita regularmente há algum tempo — pelo menos um ano — não deve começar com todo o gás de intensidade e volume. O educador físico especialista em treinamento esportivo Guilherme Salles recomenda introduzir os novos hábitos aos poucos. Deve haver, sim, motivação e vontade. Mas, por mais que a empolgação esteja grande, a ideia é fazer os exercícios com calma e — fundamental — com orientação.
O especialista explica que as pessoas que estão saindo do sedentarismo tendem a escolher exercícios considerados mais básicos, como andar e nadar, fazer alguns abdominais, subir escadas sempre que possível. Até os aplicativos de celular aparecem como saída para quem quer começar ou retomar os exercícios.
“Temos que ter em mente que, principalmente no início, essas práticas trazem muito resultado, são interessantes. Mas não têm sobrecarga muscular e não exigem que você vença uma resistência, como aconteceria com a musculação ou com o pilates. Por isso, dependendo do perfil, pode ser que não seja suficiente. A dica é procurar um profissional que possa avaliar limitações individuais e buscar meios que tornem o treino, mesmo em casa, funcional”.
O que vale nesta fase é mudar de hábito e buscar se adaptar. A fisioterapeuta e educadora física Grisiela Santos explica que a etapa de início é momento de reeducar o corpo, criar uma rotina e buscar ter disciplina para incluir a atividade física no dia a dia.
Se os resultados esperados não vêm logo de cara, a dica é persistir! “Encarar como uma fase: os resultados precisam ser valorizados, por menores que pareçam. Afinal, mudar de hábito é um desafio diário”, ela explica.
Perigo
A atividade física é uma das mais significativas práticas a favor da saúde. Especialistas alertam sobre os efeitos quando deixamos o exercício físico de lado:
- Tem resultados mentais, como inquietação e ansiedade.
- Quando a inatividade física está associada a uma alimentação inadequada, produz hormônios que causam estresse, como o cortisol.
- Praticar algum esporte ou exercício físico diminui problemas de hipertensão arterial e ajuda no colesterol; reduz riscos de infarto, de acidente vascular cerebral, lesões articulares e diminui o risco de desenvolver câncer. Além do risco de obesidade.
- O sedentarismo também é considerado um dos principais fatores de risco de morte súbita.
Como incentivar
- Dar uma forcinha com palavras de incentivo nunca é demais. Busque reforçar para o outro que a atividade física vai ajudar, principalmente, a mente. E ajude a encontrar um propósito que o motive.
- “Mas quem fala muito e exagera nos comentários pode não conseguir gerar muita transformação no outro. O discurso ‘faça como eu fiz’ é muito mais poderoso”, aconselha o especialista em inteligência espiritual Fabrício Nogueira, que sugere dar o exemplo.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
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