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Saiba quais alimentos ingerir durante o tratamento de distúrbios psíquicos

Matéria-prima para diversas funções do organismo, os alimentos são capazes de estabelecer relações com o bem-estar do cérebro

Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 04:10
O cacau é aliado da mente e indicado por nutricionistas para consumo - em forma de chocolate amargo ou nibs - e melhora do humorA escolha do que colocamos no prato interfere, por vezes, em mais áreas do corpo do que simplesmente no trato intestinal. Pode soar estranho em um primeiro momento, mas a relação entre alimentação e o funcionamento do cérebro apresenta um grau de intimidade relevante o suficiente para nos chamar a atenção.

A nutricionista Juliana Andrade alerta que essa ligação se estabelece desde as funções vitais do organismo. “Os alimentos são a matéria-prima para a formação de todas as células do corpo humano. A partir dos nutrientes entregues, são formados hormônios e neurotransmissores, responsáveis pela modulação do humor. Uma alimentação com característica inflamatória promove um corpo que adoece, e essa inflamação ocorre a nível intestinal, cerebral e sistêmico”.

A comida que causa apenas leves desconfortos durante um dia, por exemplo, pode ter um papel mais grave quando ingerida durante um quadro de depressão, como relata a estudante de turismo Rafaela Alves “Em uma consulta médica, descobri ser celíaca e que o glúten causava em mim o efeito colateral de mudanças de humor repentinas e piora da depressão”. Desde o aviso, a jovem de 20 anos reformulou seu cardápio e cortou totalmente o glúten das refeições.

Quando falamos sobre os distúrbios psíquicos e, mais especificamente, a depressão, há uma preocupação notável com a saúde da chamada microbiota intestinal. “Noventa por cento da nossa serotonina é produzida no intestino. Dessa forma, o intestino não apenas ajuda a digerir os alimentos, mas também possui uma influência direta sobre as nossas emoções”, explica a nutricionista Juliana.

Segundo ela, é necessário entender que mente e corpo se comunicam e que, combinar abordagens para um tratamento global, pode ser benéfico em diversos casos. “A nutrição tem seu lugar importante nos quadros de ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos alimentares, autismo, entre outros”.

Exercícios

Apesar dos alertas, a associação de comidas à piora de quadros nem sempre é imediata. Larissa Souza, de 35 anos, precisou de uma sugestão da psicóloga para investigar o que agravava sua ansiedade. “Fui diagnosticada com transtorno de ansiedade em 2014, mas apenas recentemente percebi, por meio dos exercícios da minha terapeuta, que alimentos ricos em açúcar, fast food e os que possuem farinha branca na composição são gatilhos para minha ansiedade”.

A justificativa está na satisfação momentânea, seguida de arrependimento e frustração que essas comidas são capazes de causar nela. “A terapia cognitivo-comportamental me levou a perceber que alguns alimentos ajudam a desencadear momentos ansiosos, enquanto outros me traziam saciedade e mais calmaria, como a banana, que é ótima para isso!”, explica a servidora pública.

Além da relação biológica, a conexão emocional que construímos com as comidas podem piorar e até desencadear transtornos. Nathalia Patrão, nutricionista da Leve Nutrição Descomplicada, pontua que os transtornos alimentares são exemplos dessa complexa ligação. “Alguns transtornos mentais não são apenas relacionados com a alimentação, mas causados em torno do comer como bulimia, anorexia e compulsão alimentar”. Para esses, a mudança de cardápio pode passar por estágios diferentes e, agora como os demais, sempre com acompanhamento especializado.

Ela cita que, de maneira geral, alguns alimentos são contraindicados durante tratamento de distúrbios psíquicos, para evitar interferências na produção hormonal correta e outras funções. São eles os que contribuem para a constipação intestinal, além de serem pobres em vitaminas, minerais e fibras, como carboidratos simples e frituras.

Os cuidados sistemáticos, que levam em consideração terapias, modificações no cardápio, prática de exercícios físicos e outras possibilidades para a saúde da mente e do organismo têm uma enorme capacidade de restabelecer um quadro de distúrbio, mas a nutricionista faz um adendo.

“Os transtornos mentais exigem que o centro do tratamento seja psicológico, o nutricionista surge como uma figura de parceria com esse profissional. Com um contato entre os dois conseguimos melhorias na qualidade de vida do paciente de forma mais ágil e definitiva”, diz Nathalia.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
 
 
"Fui diagnosticada com transtorno de ansiedade em 2014, mas apenas recentemente percebi, por meio dos exercícios da minha terapeuta, que alimentos ricos em açúcar, fast food e os que possuem farinha branca na composição são gatilhos para minha ansiedade
Larissa Souza, servidora pública

O que inserir no cardápio? 
  • Assim como existem alimentos que interferem negativamente nos tratamentos de transtornos, outros são capazes de promover melhorias no humor e são ótimas opções para inserir no cardápio. As nutricionistas indicam o consumo de cacau — pode estar na forma de chocolate amargo, cacau em pó, nibs de cacau —, banana, castanhas, nozes, amêndoas, pistache e o grão-de-bico. “Além desses, a suplementação de ômega 3, vitamina D, vitamina B12, de acordo com as necessidades individuais, são importantes. Quanto mais nutritiva e antioxidante for a alimentação, mais promovemos um intestino saudável, e consequente um corpo equilibrado”, esclarece Nathália.


 

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