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Fugindo da multidão

Se você é daqueles que até gostam de carnaval, mas têm medo de ir a lugares muito cheios, pode estar vivendo um quadro de claustrofobia. Entenda o que é esse temor patológico e saiba como tratá-lo

Correio Braziliense
postado em 23/02/2020 04:09
Ayana Saito em uma festa junina, na qual, assim como nos carnavais e shows, foge das aglomerações e fica em ambientes espaçosos para evitar o nervosismo

Carnaval é sinônimo de festa, brilho e bloquinho de rua para se divertir no meio da multidão. Esse encontro, movido a muita animação, pode ser uma oportunidade para muitos entrarem na celebração, mas, em outros casos, é a definição de um verdadeiro pesadelo. Afinal, os dias de folia levam um número expressivo de pessoas às ruas, que se apertam para não perder o trio elétrico, causando uma sensação de falta de ar capaz de desencadear um comportamento aparentemente descontrolado em alguns, conhecido como claustrofobia.

Ayana Saito, estudante de 21 anos, conta que ficar no meio desse aglomerado lhe causa uma angústia significativa. “Passo mal, fico muito nervosa e estressada até conseguir sair do meio da multidão, a ponto de mudar meu temperamento e o jeito como trato as pessoas. É uma sensação de desespero no meio de um mar de gente.”

A estudante diz não saber se a reação é proveniente de um quadro de claustrofobia intensa, mas, segundo as explicações do psiquiatra Fábio Aurélio Leite, a conduta dela é compatível com o medo de espaços apertados. “As fobias são medos patológicos ou exagerados muito específicos, diferentemente do pânico. O paciente pode começar a ficar agitado, nervoso, com falta de ar ou suar frio quando submetido a uma situação que desencadeia o quadro.”

O médico esclarece que existem, sim, níveis de atuação da fobia que podem determinar uma reação mais exagerada ou não. Mas, de maneira geral, todos os pacientes sentem essa sensação de sufocamento e desespero por acharem que não conseguirão sair do local.

Ao descobrir a fobia, Ayana passou a se desviar de grandes grupos de pessoas no carnaval, no são-joão e até em shows para evitar a angústia. “Não consigo mais ir a alguns blocos que cheguei a frequentar, por conta da lotação. E está cada vez mais difícil achar lugares com pouca gente. O carnaval me desanima pela multidão e outras situações, como o machismo que, infelizmente, enfrentamos”.

Fábio Aurélio Leite confirma que o medo é capaz de interferir nas rotinas, uma vez que a pessoa passará a evitar alguns ambientes sempre que possível, e que, por isso, o diagnóstico, a partir de uma entrevista clínica, e o tratamento tornam-se indispensáveis para encontrar a cura.

*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

Sinais de alerta

Uma vez que toda fobia se origina a partir de quadros de ansiedade — e manifestam-se como uma ansiedade a um objeto ou situação específica —, é possível encontrar vários desses temores em nossa sociedade. Entre os mais comuns, estão:

  • Aracnofobia: manifestado na presença de alguma aranha — ou foto de algum aracnídeo.
  • Acrofobia: também conhecido como fobia de altura, surge quando o indivíduo se coloca em algum patamar acima do solo.
  • Tripofobia: reação provocada pelo contato com objetos ou imagens que tenham agrupamentos de pequenos buracos ou padrões irregulares.
  • Agorafobia: medo de lugares públicos ou situações que possam causar constrangimento. Relaciona-se com a claustrofobia quanto à sensação de aprisionamento em multidões, mas, na contramão, também pode se manifestar no momento em que o indivíduo se vê sozinho em grandes espaços. Mais do que a sensação de sufocamento, é o medo patológico causado pela dificuldade de se sentir seguro em alguns locais e, geralmente, está ligado à preocupação de ter um ataque de pânico.
  • Transtorno de ansiedade social: é a fobia causada pelo temor de interagir com outras pessoas.
  • Coulrofobia: medo patológico de máscaras, pessoas mascaradas e/ou palhaços.

Alguns indivíduos podem desenvolver diferentes fobias simultaneamente e, assim como acontece com a claustrofobia, suas origens podem estar relacionadas a traumas experienciados na infância ou não. Os sintomas podem variar dependendo da causa do temor, mas os transtornos de ansiedade normalmente envolvem nervosismo ou inquietação, sudorese excessiva, aumento do ritmo cardíaco, tontura e hiperventilação. Fique atento aos sinais que fujam de uma reação comum e não hesite em procurar ajuda especializada. 


Medo de lugar fechado

Diferentemente de algumas fobias, em que o paciente consegue manter distância do objeto ou da situação, a claustrofobia requer um enfrentamento — ou desvio — frequente, uma vez que se deparar com multidões e ambientes apertados não é tão incomum.

Foi durante o que parecia ser apenas um exame médico que Maria do Carmo Ferreira, bancária de 48 anos, teve uma reação inesperada e descobriu o medo. “Fui fazer uma ressonância magnética, na qual teria que encaixar o crânio em um equipamento parecido com um capacete e uma outra peça também seria colocada na face. Passei mal e não consegui fazer o exame”, lembra.

Segundo ela, passar por multidões em ambientes abertos não é um problema, pois o que de fato motiva sua claustrofobia e causa a falta de ar são os lugares pequenos e fechados — como o temor experimentado pelo confinamento em um avião durante duas horas e meia. “Agora, vou pensar muito antes de viajar novamente”.

Devido às interferências que a fobia causa em diversas atividades, Maria do Carmo iniciou terapia com psicólogo e passou a fazer acupuntura visando à melhoria do quadro, além de ter desenvolvido um método pessoal para se acalmar diante do medo. “Eu desvio o pensamento para outra coisa e faço uma oração, que já tenho na cabeça. Também tento respirar profundamente.”

A psicóloga Carolina Alcântara esclarece que existem opções de linhas terapêuticas, como as comportamentais e analíticas, que buscam compreender o sintoma e traçar novas estratégias de enfrentamento a partir de diferentes abordagens, que podem ser benéficas para estabilizar a fobia, assim como tratamentos com que faz uso de hipnose e mindfullness, entre outros.


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