Correio Braziliense
postado em 23/02/2020 04:09
As fobias, muitas vezes, são classificadas como medos incontroláveis pelos pacientes, algo que apenas quem sofre conseguiria entender a dimensão. Apesar da premissa, a claustrofobia tem o poder de interferir na rotina das pessoas com quem se convive também, como relatam Silvia Benigno, empresária de 32 anos, e a mãe, Jareuza Damasceno, 57.
As duas sempre moraram juntas, mas, em 1992, essa parceria ganhou ainda mais importância. “Nesse ano, tive uma crise de coluna forte e me amarraram naquela mesa para esticar. Não tenho certeza se foi isso, só sei que depois não prestei mais para nada”, lembra Jareuza. Após esse tratamento, ela desenvolveu um quadro de claustrofobia que a impede de tomar banho ou dormir de porta fechada até hoje.
Além das situações em locais apertados, Jareuza também passou a ter medo de ficar sozinha, momento em que a companhia da filha se tornou fundamental. Normalmente, é Silvia quem acompanha suas consultas médicas, exames e tenta confortá-la durante o pavor.
Em uma recente experiência, a calma e a paciência da empresária foram fundamentais. “Pegamos um trânsito, achei que não conseguiria sair daquela fila de carros e comecei a passar mal. Foi ela quem me disse para respirar com tranquilidade para melhorar.” Jareuza passou a fugir de elevadores ou espaços com muitas pessoas e deixou de usar roupas justas e com golas, que dão a sensação de enclausuramento, para evitar as crises.
Ansiedade
Durante a busca por tratamento, a aposentada explica que chegou a se consultar com psiquiatras e psicólogos, porém não encontrou o que esperava. “Só disseram que eu tinha ansiedade e passaram remédios. Por causa de uma alteração no coração, tenho muito medo de tomar remédio e passar mal, então não continuei o tratamento.” Apesar disso, ela conta com orgulho que superou alguns temores e já consegue ficar em casa sozinha durante o dia.
O psiquiatra Fábio Aurélio Leite explica que esse diagnóstico de Jareuza não é à toa, já que toda fobia está associada a um quadro de ansiedade. “Esse é um medo patológico, gerado por uma ansiedade específica. Na claustrofobia, o lugar fechado é a situação específica que desencadeia a reação.”
O médico ainda esclarece que não há uma idade específica para o desencadeamento de uma fobia. “Em qualquer estágio da vida, ela pode surgir, basta exposição do indivíduo a um contexto particular que provoque o medo.”
Tratamento e cura
A publicitária Bruna Portela, 23 anos, guarda uma história de superação em relação ao medo de ambientes com multidões. Ela conta que, aos 9 anos, era portadora da fobia, posteriormente tratada. “Lembro-me de uma vez que fui passar o réveillon em Copacabana e eu não queria nem entrar no metrô porque estava cheio. Chegando à praia, por causa da lotação, fiz toda minha família ir embora mais cedo.”
Além da claustrofobia, Bruna afirma que o transtorno de ansiedade por separação e medo de violência urbana, na época, originaram a fobia de aglomerações. A jovem fez um tratamento com medicações e terapias durante dois anos com o incentivo dos pais e o acompanhamento da escola. Hoje, considera-se curada. “Já não sinto mais receio de ficar em multidão. Não vou dizer que é algo agradável, mas minha ansiedade nesses momentos não passa mais do limite do normal. Já fui a vários carnavais e shows!”, afirma.
Para a psicóloga Carolina Alcântara, não é regra que a claustrofobia apareça associada a outras fobias, mas isso ocorre com frequência. “Estudos indicam a presença de comorbidades psiquiátricas entre 50% e 80% dos casos. Sintomas como esse podem estar relacionados a aspectos sociais. É interessante perceber que vivemos em uma sociedade que busca o controle de todas as situações e que a sensação de vulnerabilidade é evitada e temida.”
Trauma
A claustrofobia pode apresentar uma origem traumática de qualquer vertente. Não é necessariamente um trauma experienciado em local lotado ou pequeno que desenvolverá a fobia, uma vez que os medos podem ser ressignificados. Ou, simplesmente, ela pode aparecer sem uma causa muito clara. Mais significativo é procurar um diagnóstico e indicação de tratamento — podendo se valer de acompanhamentos psicológicos ou até medicamentos psicotrópicos.
Carolina explica que, em consultório, é possível compreender a fobia e os sintomas, aprender exercícios de respiração para controle e, assim como aconteceu com Bruna, alcançar a remissão do quadro para enfrentar as situações que antes evitava. Dá até para aproveitar o carnaval no meio da multidão.
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