Correio Braziliense
postado em 01/03/2020 04:17
Estima-se que a medicina ayurveda exista há 5 mil anos — uma das mais antigas do mundo. No entanto, só há 16, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecê-la como tal. No Brasil, ainda há quem considere algo alternativo, até místico. Quem a procura, porém, costuma endossar a efetividade desse sistema em todos os níveis: fisiológico, emocional, espiritual. A terapeuta ayurveda Mima Mascarenhas explica que o tratamento, nessa medicina, nunca é para a doença, mas para o indivíduo. “O mesmo problema de saúde pode ser tratados de diferentes formas.”
Da cultura indiana, a ayurveda vê o indivíduo como um todo. “Eu costumo brincar que cada ser humano deveria vir com um manual. Mas não vem, então, a ayurveda ajuda a descobrir o que te faz bem, o que te nutre e o que te desequilibra”, explica o terapeuta ayurveda Daniel Salles. Por isso, segundo ele, a ayurveda é também um sistema de autoconhecimento profundo que dá ferramentas para manter a saúde.
Antes advogada e hoje psicoterapeuta corporal, Carolina Ávila, 41 anos, praticante de meditação e ioga, sempre preferiu remédios naturais aos alopáticos e tem um estilo de vida que valoriza a busca pelo equilíbrio do corpo e da mente. Conduzida por esse caminho, conheceu a medicina ayurvédica em 2011 por meio de uma massagem.
Dois anos depois, fez um curso de massagem para gestantes e lá conheceu quem até hoje é sua terapeuta ayurvédica. “Sempre achei as massagens aiurvédicas muito profundas. Foi aí que comecei a vivenciar mais diariamente o ayurveda”, afirma. Entre as práticas que incluiu na rotina está o ritual matinal de limpeza facial (nariz, língua, ouvidos, etc.) e o consumo de diferentes tipos de ervas nas refeições diárias.
Tratamento e cura
Em 2019, Carolina foi diagnosticada com adenomiose uterina, que se caracteriza pela presença de glândulas do endométrio no interior da camada muscular do útero. Aquilo lhe causava muitas dores, além de aumentar o volume do útero. “Era insuportável, chegava a urrar de dor”, relembra. Na medicina ocidental, o tratamento mais comum é o uso contínuo de anticoncepcional, porém, por ter tido uma trombose em 2009, Carolina preferiu buscar uma alternativa, mesmo sabendo que poderia usar o contraceptivo DIU, com uma dose hormonal mais baixa que os demais.
Com o consentimento da ginecologista, Carolina não pensou duas vezes em decidir pelo tratamento aiurvédico. Procurou sua terapeuta, que, baseada no diagnóstico médico e na consulta em consultório, lhe prescreveu o panchakarma — um processo que ajuda a desintoxicar e a purgar as toxinas do corpo e a alinhar os doshas agravados. Segundo o terapeuta Daniel, a diferença entre outros “detox” da moda é que o expurgo de toxinas na ayurveda é feito de tal forma que o corpo é também nutrido.
O processo, ela admite, não é fácil. “O paciente precisa se entregar ao tratamento completamente e seguir à risca, porque é algo sério. Uma escapadinha na dieta alimentar pode causar muito mal à pessoa. Além de que custa caro”, alerta. No total, foram 30 dias de muitos procedimentos, entre eles: readequação alimentar, fitoterapia ayurvédica, tratamentos corporais com purgações, aromacologia, argiloterapia, massagens, pranayamas, ioga e muita meditação.
Seis meses depois, ao repetir o exame de ultrassonografia pélvica, Carolina recebeu a feliz notícia de que seu útero havia reduzido 38cm³ de volume. “Isso, para mim, foi maravilhoso, confirmou ainda mais o poder da medicina ayurvédica”, acredita.
Carolina, que já era vegetariana, se tornou vegana. Hoje, após o fim do tratamento, continua vegana, mas sem radicalismos, se permitindo umas escapadas conscientes. “Se eu vou a Minas visitar a família, não resisto às guloseimas de uma bela mesa de café da tarde com seus bolinhos fritos, broas e bolos. Isso me traz felicidade e boas memórias.”
Para controlar os danos, Carolina também aprendeu algumas estratégias: “Se eu como algo que me intoxica, faço um ritual de desintoxicação no dia seguinte”. Além disso, preza por dormir cedo para acordar cedo e praticar meditação e ioga pela manhã. “A vida tem sua natural fluidez e, no tempo certo, a gente vai aprendendo a navegar nesse fluxo com mais sabedoria”, diz, tranquila com cada escolha que faz.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Massagem que cura
“A massagem ayurvédica traz inúmeros benefícios para a saúde e, em alguns casos, pode contribuir para a melhora de quadros de pacientes com doenças crônicas”, garante Pedro Vasco, especialista na modalidade e sócio-proprietário do Eliá SPA. No Brasil, a terapia complementar foi popularizada somente a partir dos anos 1980.
A técnica é realizada em um tatame no chão e tem duração de 50 minutos. Ela é indicada como um dos tratamentos auxiliares para inúmeras doenças, tais como depressão, ansiedade, estafa, fadiga, estresse e fibromialgia. “São massageados as costas, braços e as pernas com os pés, tornando o trabalho ainda mais intenso. Com manobras de tração e alongamentos, visa reequilibrar totalmente o corpo e a mente”, detalha Pedro.
Em um plano geral, os benefícios dessa massagem incluem: aumento da energia vital, alívio de tensões, liberação da energia estagnada, desintoxicação do organismo, aumento de flexibilidade nas articulações, alongamento dos músculos, relaxamento e equilíbrio interior, conhecido como alinhamento dos doshas.
Dores recorrentes
Há 22 anos, a hairstylist Verônica Medeiros Brandão, 46, sofre com dores severas. O quadro iniciou com dores de cabeça persistentes e foi agravando gradualmente, até que comprometeu o movimento das mãos, da boca e do pescoço. “Passei por diferentes especialidades médicas e não obtive sucesso com os medicamentos passados. Às vezes, tomava remédios no hospital e já saia de lá com dores”, conta.
No período, teve diagnósticos incorretos, atestando desde fibromialgia a cefaleia mais grave. Em decorrência das paralisias temporárias e das dores fortes, ficou impossibilitada de trabalhar. “Eu tentei de tudo um pouco: acupuntura, fisioterapia, quiropraxia, mas nada melhorava”, relembra.
Quando se mudou de Manaus para Brasília, o último diagnóstico indicava que Verônica estava com cefaleia de Arnold — caracterizada pela inflamação de estruturas nervosas. Novamente, procurou profissionais especializados e fez uso medicamentos e testes de infiltração em centro cirúrgico. No entanto, o corpo nem sempre respondia bem aos remédios, o que resultava em dores e crises constantes.
“Nesse ponto, o médico descobriu que eu tinha artrose cervical, três hérnias de disco e os canais da medula afunilados. Conversando com uma amiga, que é médica, fui encorajada a tentar a massagem ayurvédica. Não sabia do que se tratava. Meio que sem fé, fiz um teste com algumas massagens e esperei se surtiriam resultados”, explica.
Com alguns meses de tratamento, observou melhoras graduais. O opioide — medicamento com morfina — de uso diário, passou a ser ingerido dia sim, dia não. Quanto mais aumentava a frequência das sessões de massagem, mais resultados positivos eram perceptíveis. Acompanhando a evolução com os médicos, a cirurgia que estava marcada não foi necessária realizar.
“Ainda não estou completamente curada e faço as massagens semanalmente, mas costumo dizer que a ayurveda me proporcionou uma vida com mais qualidade. Sinto que a melhora foi significativa, não só nas dores que sentia, mas no funcionamento do meu corpo por inteiro. Hoje, retenho menos líquido, não tenho mais paralisia na mão e minhas enxaquecas diminuíram. Foi milagroso e inusitado”, afirma.
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