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Da engenharia à gastronomia: a história do chef do novo Aglio Gastrobar

Lucas Cappai mudou-se para a capital por conta do convite para chefiar a cozinha do Paris 6, franquia de São Paulo. Agora, abriu um gastrobar cujo cardápio tem pegada bem brasileira

Foi um professor de Lucas Cappai, durante uma festa com os colegas da faculdade para comemorar o fim do sétimo semestre de engenharia, quem fez a profecia: “O seu futuro está na comida. Você gosta mesmo é disso aqui”, disse, apontando para a “paella mineira” que o jovem universitário tinha preparado para a celebração. “Era um sábado. Na segunda-feira, tranquei o curso de engenharia e, logo depois, me matriculei em gastronomia.”

Neto de italianos, o mineiro Lucas cresceu em uma casa onde tudo acaba em festa. E sempre ao redor de uma mesa farta, claro. “Na minha família, até morte de cachorro é pretexto para nos reunirmos”, brinca. Ainda na adolescência, cozinhar passou a ser uma das paixões do rapaz. “Eu era convidado para as festas e, quando chegava lá, descobria que tinham me chamado para preparar a comida”, diverte-se. E ele não reclamava. Ao contrário, curtia deixar todos felizes com suas criações gastronômicas.

Dois meses após o início da faculdade de gastronomia em Belo Horizonte, um professor de Lucas o indicou para trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante japonês. Uma semana depois, o dono chamou o rapaz para chefiar a cozinha. “Eu já fui chef de cozinha logo no início da faculdade, o que não foi necessariamente algo bom”, analisa.

Como um dos donos do restaurante onde Lucas trabalhava era jogador de futebol, o jovem acabou conhecendo vários outros atletas e músicos. E muitos deles começaram a contratá-lo para cozinhar em suas casas. Assim, ele acabou se tornando, também, personal chef.

Com o diploma em mãos e a passagem por várias casas de Belo Horizonte no currículo, no início de 2018, surgiu o convite para o mineiro vir para Brasília chefiar a cozinha do Paris 6, franquia de São Paulo aberta havia poucos meses na capital. Lucas conta que foi uma experiência maravilhosa, principalmente para ele, que tinha começado a carreira já como chef, pois se tratava de um empreendimento muito grande. “Aí, sim, eu soube o que era comandar uma cozinha grande.”

Tinham, porém, dois problemas. O primeiro era que, por se tratar de uma franquia, o chef não podia criar receitas próprias; o segundo foi que Lucas começou a namorar a dona do restaurante. “Logo que comecei a me envolver, pedi para sair. Não queria misturar as coisas”, justifica.

O poder do alho

Lucas passou, então, a prestar consultoria para casas de Brasília, cidade que adotou. Ao mesmo tempo, começou a maturar um projeto antigo: abrir o próprio estabelecimento. Adepto de uma cozinha simples, cheia de afeto, mas sem deixar a qualidade de lado, pensou em montar uma espécie de boteco gourmet, onde as pessoas pudessem comer bem, ser muito bem atendido e não gastar muito. Surgia, assim, há menos de um mês, o Aglio Gastrobar — cujo nome é uma homenagem às suas origens.

“Dos 5 aos 10 anos, a minha avó italiana me fazia comer dois alhos crus por dia. Dizia que era bom para a minha imunidade. De fato, até hoje, nunca gripo”, afirma. E Lucas cresceu apaixonado pelo tempero, sempre presente na sua comida. “Aqui, todos os pratos saem com um dente de alho assado.”

No cardápio, pratos com uma pegada bem brasileira e muita comida de boteco. “Um dos carros-chefes da casa tem sido o Torresminho de frango, que nada mais é do que a pele do frango frita”, detalha. O croquete de costela bovina é outro sucesso da casa, assim como a panceta suína. Mas o menu não se restringe a petiscos. Entre os pratos principais, o ossobuco, que Lucas compartilha com os leitores da coluna, tem tido ótima aceitação.

“Eu quero que as pessoas tenham contato com a comida de verdade, sintam prazer em se deliciar com pratos simples, mas muito bem preparados”, resume. Outra prioridade do chef é o atendimento: “Aqui, tudo é muito informal, os nossos garçons recebem os clientes como amigos.”

Tudo isso tem uma razão de ser. Para Lucas, cozinhar é uma grande diversão. “No Aglio, nós cozinhamos felizes. Levamos muito a sério o que fazemos, mas estamos sempre nos divertindo.” E, para ele, isso se reflete na comida que serve aos clientes. Ainda bem que perdermos um engenheiro e ganhamos um cozinheiro!


Ossobuco


Ingredientes
  • 1 Ossobuco (de 550g a 650g)
  • 2 laranjas
  • 20g de sal
  • l 1 cabeça de alho descascada
  • 1 Cebola pequena
  • 1 cenoura pequena
  • 100g de alho-poró
  • 120g de salsão
  • 1 pimentão-vermelho
  • Pimenta-do-reino a gosto
  • 700ml de água
  • 150ml de azeite

Modo de preparar
  • Limpe o ossobuco usando uma faca para tirar todo o nervo que tiver em volta.
  • Coloque o ossobuco em um refratário com o suco de duas laranjas e uma pitada de sal e pimenta-do-reino.
  • Em uma panela funda, acrescente o azeite, uma cabeça de alho picadinha, uma cebola picadinha, uma cenoura em rodelas, alho-poró e salsão picados grosseiramente.
  • Acrescente o ossobuco e deixe que tudo doure.
  • Coloque água até cobrir todos os insumos, ponha em fogo brando e deixe cozinhando por quatro ou cinco horas. Para agilizar o processo, pode usar uma panela de pressão — o tempo reduz para 30 a 40 minutos.
  • Deixe cozinhar até atingir um ponto em que a carne do ossobuco fique bem macia e suculenta.
  • Sirva com arroz de açafrão e batatas rústicas fritas, como é no Aglio, mas também pode ser acompanhado por aligot, purê de batata-baroa, arroz com brócolis, fettuccine na manteiga de alho etc.!