Correio Braziliense
postado em 29/03/2020 04:09
Alguns dos grandes afetados pela pandemia são os profissionais autônomos, que cobram por hora de serviço ou por tarefa. São manicures, personal trainers, massagistas, diaristas e inúmeros outros trabalhadores que estão sentindo no bolso os efeitos do vírus que levou a população a se isolar dentro de casa.
Para Alessandra Espírito Santo, 41, funcionária pública, uma das formas de fazer um bom uso de seu privilégio é continuar pagando os profissionais liberais que costumava contratar semanalmente. “É uma forma de dividir o prejuízo”, afirma. Alguns dos serviços que contratava semanalmente são manicure e pedicure, diarista, professor de dança. Ela faz questão de pagá-los durante o período da quarentena. “Enquanto eu puder, eu vou continuar, porque é aquela agonia de pensar como essas pessoas vão viver com tudo parado”, lamenta.
Nas últimas semanas, ela tinha agendado serviços de cabeleireiro e manicure, mas suspendeu, por conta do isolamento social recomendado. Mesmo assim, pagou pelos procedimentos que faria, ainda que pudesse, simplesmente, cancelar. O isolamento de Paula de Melo Maia, 30, administradora e digital influencer, começou mais cedo do que para a maioria. Tinha voltado do Egito e de Portugal havia 14 dias e estava com sintomas de gripe. Dispensada do trabalho até que tivesse o exame certificando de que não estava com a Covid-19, ficou em casa sem contato com ninguém por 48 horas, até que o resultado saísse. Para o alívio dela, negativo. Depois da apreensão vivida, resolveu tomar a medida de isolamento imediatamente. E incluiu a diarista nisso: dispensou a profissional cerca de uma semana antes de a maioria das pessoas se recolherem em casa. No entanto, fez questão de continuar pagando o valor da diária. “Eu estou trabalhando em casa e não vou ter o meu salário reduzido. Inclusive, enclausurada em casa, eu estou gastando menos, então, não me custa fazer isso por ela”, afirma.
Ela admite que não tem como saber se a profissional está, de fato, ficando em casa, mas entende que está fazendo a parte dela. Além da dispensa remunerada, também fez questão de conversar com a funcionária sobre a gravidade da situação e tentar esclarecer por que é importante não se expor. “Perguntei sobre a família dela, se ela tinha parentes mais velhos, expliquei que se muita gente pegar a doença, o sistema de saúde não vai conseguir atender a todos”, conta.
Na rua, com amor
Na última segunda-feira (23/3), um grupo de sete jovens doou 200 marmitas a moradores de rua do Setor Comercial Sul (SCS), graças à contribuição em dinheiro de brasilienses. “A ideia é ajudar em duas pontas. Fizemos um projeto para ajudar tanto o pequeno empreendedor, que está sofrendo muito nesta fase, quanto os moradores de rua”, explica Catarina Henriques, estudante de medicina e uma das idealizadoras do “Quarenteneamor”.
Com todos dentro de casa, não há quem dê qualquer moeda a quem mora na rua. Por isso, Catarina e a irmã Victoria Henriques, advogada, tomaram essa iniciativa. Em especial, depois de verem um vídeo sobre a situação dessa população no Rio de Janeiro. Entenderam que aqui não seria diferente. O SCS, por exemplo, sempre cheio de pessoas indo e vindo, agora está deserto.
As duas irmãs resolveram, então, chamar cinco amigas que têm o histórico de se mobilizar para ajudar o próximo e começaram a divulgar o projeto. Em menos de três dias, conseguiram mais de 600 seguidores no Instagram. Além da parceria com um pequeno restaurante que faz as marmitas, também contaram com o apoio de Rogério Barba, um ex-morador de rua engajado na qualidade de vida de quem vive na rua. É ele quem, de fato, entrega as marmitas.
Com o sucesso do Quarenteneamor, elas, agora, planejam entregar marmitas em outros locais que também carecem.
Os autônomos
Quando as aulas foram suspensas, por meio de decreto do governador Ibaneis Rocha, no dia 11 de março, e, em seguida, com o isolamento ficando mais forte, a servidora pública Lauana Moura, 44, se preocupou com a situação dos ambulantes que ficam na frente da escola do filho, onde a filha mais velha também já estudou. A família conhece o vendedor de pipoca há muitos anos e sabe que a mulher dele tem a mesma atividade em outra escola. Nos fins de semana, eles trabalham em festas, que também estão suspensas desde que a crise do coronavírus começou.
Como Lauana participa de um grupo de WhatsApp com mães de ex-alunos, por conta da filha, e de outro de atuais alunos, por causa do filho, decidiu mandar mensagens em ambos expondo a situação do profissional e pedindo ajuda. “Eu me surpreendi, porque todo mundo abraçou a ideia. Logo uma conseguiu o número da conta dele e todos ajudaram como puderam.
“O que está acontecendo, eu vejo como um problema de todo mundo. Mais para frente, de acordo com o tanto que demorar para tudo se normalizar, ajudamos de novo”, garante.
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