Correio Braziliense
postado em 29/03/2020 04:09
Manter as crianças dentro de casa neste período de quarentena é indispensável, mas pode representar um grande desafio. Devido ao recesso forçado de escolas, academias, cinemas, parques e brinquedotecas, os pais e responsáveis passaram a se desdobrar para manter os pequenos ativos entre quatro paredes.
Nem sempre o esforço para criar uma nova brincadeira todo dia é necessário, uma vez que o interesse pode surgir nas tarefas rotineiras de casa. Os horários reservados para limpar e cozinhar, por exemplo, podem virar atividades de descontração e união, além de fazer com que o pequeno se sinta responsável por algo e até coma com mais vontade o que ajudou a fazer.
A influenciadora digital e fotógrafa Lívia Pacheco (@mamaevirtual), 38 anos, encontrou nesses momentos prazerosos algo para compartilhar com o marido e o filho Filipe, de 7 anos. “Ele nos ajuda a fazer o almoço ou até mesmo um bolo para o café da tarde e, com isso, aproveitamos para conversar e ficar mais tempo juntos”.
Em sua conta no Instagram, Lívia relata ter contato com mães que não sabem o que fazer com os filhos no isolamento social. Uma dica fundamental que dá é explicar para o pequeno o que está acontecendo: “Foi graças a essa conversa que, até o dia de hoje, ele está muito tranquilo. Dissemos que era uma gripe de contágio rápido e que precisamos ficar em casa para não pegar, transmitir e para não precisar ir ao hospital. Apenas segunda e terça ele perguntou quantos dias ia ficar em casa e quando poderia ver os amigos, então conversamos mais e ele entendeu”, esclarece.
A psicóloga e gerente da Escola da Inteligência, Rafaela Perim, enxerga como indispensável o cuidado dos familiares de conversarem com as crianças sobre o coronavírus sem transferir ansiedade ou medo. A indicação é que o diálogo seja pautado no repertório da faixa etária para facilitar a compreensão, e que abra espaço para falar sobre dúvidas e emoções do pequeno. “É importante não diminuir o medo. Acolher, dizer que o entende e que isso vai passar, mas nunca mentir sobre o que está acontecendo ou usar como forma de barganha e dizer se não fizer isso o coronavírus vai te pegar”.
Algumas dicas da internet podem ajudar, como a instrução para usar um recipiente com água e pimenta-do-reino e colocar sabão no dedo para mostrar o poder da higiene das mãos para afastar os vírus. Além disso, o cuidado com os conteúdos adultos que passam na televisão — como os jornais — e que são consumidos pelas crianças são fundamentais para não causar uma interpretação errada e desesperá-las.
Além da conscientização sobre o coronavírus, a estadia em casa pode proporcionar uma troca de valores entre pais e filhos. A professora de línguas Aline Patrícia Ferraz, 39, tem aproveitado o momento para compartilhar com a filha de 3 anos, Luara Alana, ensinamentos sobre o cuidado com a natureza.
Recentemente, elas construíram uma hortinha com broto de feijão que encantou a criança. “Lembrei da coisa da infância de plantar o feijão com o algodão e tive a ideia da mini-horta. Foi muito legal para trabalhar a ansiedade, o processo de procurar o pote, molhar o algodão, ver a plantinha crescendo. Quando pegou certo tamanho, até plantamos no quintal.”
Além da horta para se alimentar de forma orgânica, Aline dá a dica de fazer uma colagem com restos de papéis que iriam ser jogados no lixo. Essa é uma oportunidade interessante para falar sobre uso consciente dos recursos.
Márcia Marques, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, acredita que o fato de residir em apartamentos não impede o fornecimento de oportunidades para a criança conhecer a diversidade das formas de vida presentes na natureza, mas essa iniciativa deve partir dos responsáveis.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Brincando em casa
Para esses dias de quarentena, as dicas da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza são:
Acampamento: A ideia pode ser feita no quintal ou na sala. No último caso, você pode criar um cenário de floresta, utilizando vasos com plantas para ajudar a aflorar a criatividade.
Piquenique: Aproveite o cenário do acampamento e proponha um piquenique. Separe uma toalha colorida, uma cestinha e coloque dentro frutas, sucos naturais, biscoitos e alimentos novos que as crianças possam experimentar.
Caça ao tesouro sensorial: Outra brincadeira simples que pode estimular ainda mais a curiosidade e aproximação da criança com a natureza é a caça ao tesouro sensorial. Para tanto, selecione cinco ou mais elementos com texturas diferentes: liso, aveludado, áspero ou macio. Para isso, você pode usar folhas, flores e outras plantas.
Mini-horta: Quem nunca plantou um feijão no algodão? Uma das formas de incentivar a alimentação saudável e prender a atenção dos pequenos para os cuidados com a natureza é construir uma mini-horta dentro de casa. Ela pode ser feita na varanda, no quintal ou na cozinha, adaptando um espaço para pequenos vasos. Com a mini-horta, é possível ensiná-los a cuidar de cada espécie, seja plantando frutas, legumes, verduras, seja ervas, além de estimular a alimentação saudável com produtos naturais plantados e colhidos pela família.
Pulseira viva: No quintal ou na varanda, podemos encontrar alguns elementos da natureza, como folhas, flores, sementes e pedrinhas. Usando fita adesiva, cola e esses elementos, é possível deixar a criatividade fluir com a brincadeira da pulseira viva.
Teia de aranha: Também utilizando uma fita adesiva, desenhe e construa uma teia de aranha em uma das paredes ou na porta de casa. Depois, reúna objetos leves que possam ser arremessados e que se fixem com facilidade na fita, como bolinhas de algodão, sementes, bolinhas de papel reciclado etc.
Caça às cores: Simples, essa brincadeira ajuda as crianças a identificarem e aprenderem novas cores ao seu redor. Procure opções variadas em plantas, alimentos ou bichinhos com diferentes cores dentro de casa. Eles podem se surpreender com a diversidade que existe na natureza.
Brinquedos de sucata: Quando falamos sobre conhecer e proteger a natureza, uma das formas de incentivar o cuidado é ensinar sobre a importância da reciclagem e da reutilização. Aproveitando embalagens vazias, caixas e objetos quebrados, é possível estimular a criatividade das crianças montando brinquedos ou novos objetos associados a elementos naturais, como animais, pedras e plantas.
Mímica animal: Ensine aos pequenos as principais características dos animais de cada ecossistema, como as espécies aquáticas, as que vivem nas florestas ou nos desertos. À criança, caberá a missão de imitar um animal de cada ambiente. Impossível não se entreter e gargalhar com as imitações que podem surgir.
Na rede
Apesar de, às vezes, ser um empecilho na hora de se concentrar nos estudos, os celulares e tablets podem cooperar para manter as crianças e os adolescentes distraídos neste período de reclusão. Melhor ainda é se os conteúdos forem educativos. Diversas plataformas liberaram o acesso gratuito aos textos com dicas, vídeos e jogos e separamos alguns para você se divertir com seu filho:
PlayKids: A plataforma de conteúdo infantil oferece dicas de mais de 30 brincadeiras para fazer com os pequenos, atividades para ensinar matemática, outras para imprimir e completar e vídeos sobre a higiene das mãos.
Palavra Z: A produtora cultural oferece espetáculos de teatro on-line em alguns dias da semana. Para saber mais detalhes, acesse www.palavraz.com.br.
Kidsbook - Itaú Criança: Plataforma do banco que disponibiliza 13 livros digitais, basta acessar www.euleioparaumacrianca.com.br.
Guia TempoJunto Covid-19: Guia digital com brincadeiras e atividades para a época de reclusão. Disponível em www.tempojunto.com.
Histórias de todos os cantos: Página no Facebook que divulga o perfil de diversos contadores de histórias que estão fazendo vídeos durante o período de confinamento.
Campeonato de videogame: Essa última dica não é de nenhuma plataforma específica, mas sim sobre o videogame que tanto distrai o seu filho. Uma boa maneira de delimitarem o tempo diário de uso da tecnologia é criar um campeonato com participação de toda família.
Estudando em casa
O compromisso com a rotina de estudos deve permanecer para que as crianças não confundam com as férias e compreendam que, após o recesso forçado, as aulas voltarão ao normal — algumas instituições passaram a enviar tarefas para casa.
O ideal, segundo Bruna, que também é coordenadora pedagógica do Kumon, é montar um cronograma com as crianças no qual haja períodos de descanso, brincadeiras e estudo. Os responsáveis podem adaptar à realidade da casa o esquema de atividades escolares — o horário do parquinho pode virar o momento da massinha.
Além disso, ter um ambiente específico, iluminado e organizado, para os períodos de concentração, evita distrações para os grandes e pequenos. "Pais que estão trabalhando de casa podem acompanhar a realização da tarefa escolar. Permaneçam no mesmo cômodo, criem uma atmosfera de trabalho que envolva a criança”, indica ela. O maior desafio, normalmente, é controlar o uso exagerado dos eletrônicos. Segundo o educador Leonardo Lopes, “é importante certificar as configurações de privacidade e segurança dos dispositivos conectados à internet. Não será possível vigiá-los 24 horas por dia. Se alguns acessos estiverem bloqueados, como salas de bate-papo com desconhecidos, é uma coisa a menos para se preocupar”.
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