Correio Braziliense
postado em 29/03/2020 04:09
O impacto da rápida disseminação da Covid-19 chegou até o mundo dos pets. Fotos de cães com máscaras circulam pela internet, causando um certo receio em alguns tutores. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há nenhuma evidência de que cães e gatos possam contrair o novo coronavírus ou transmiti-lo para humanos. Mas o que fazer com o pet se o dono estiver infectado com esse vírus?
“A recomendação é manter o animal isolado desse tutor ou de quem está com suspeita da infecção. E sempre lavar as mãos com água e sabão antes e depois de tocar no pet, por mais que não se tenha evidências de que o bicho possa pegar a enfermidade”, afirma Thaís Matos, médica veterinária da DogHero, empresa de serviços pets.
A higiene é um cuidado essencial que deve ser incluído na rotina, independentemente da situação. “Mantenha potes de água e comida sempre limpos. Lave com sabão e água corrente, inclusive brinquedos, caminhas e guias”, orienta. A veterinária informa para não passar álcool em gel nas patas, pois a limpeza com água e sabão é suficiente. “Também é possível encontrar produtos próprios para limpeza em pet shops.”
Thaís instrui deixar o bicho sempre limpinho, após passeios e brincadeiras, limpar patas e áreas que sujam. Cuidado também para não deixar as áreas úmidas, ou seja, seque bem. “Não esqueça de manter o local que ele faz as necessidades limpo, incluindo, tapetes higiênicos e fraldas, caso o pet use”, relembra.
Para Cleber Santos, veterinário especialista em comportamento animal, além de usar produtos específicos antibactericidas, há a higienização feita por meio do banho a seco. “O álcool em gel não pode ser passado no cão ou no gato, somente na coleira e guia que o dono geralmente manipula. Pois lenços com cheiro ou álcool podem causar irritações e alergias no animal. Ele também pode ingerir o produto e passar mal”, diz.
É preciso cuidado com o uso de equipamentos, como coleiras e sacolas, entre outros. “Se uma pessoa infectada estiver segurando a guia, e outra pessoa pegar, pode existir essa transmissão. Então, antes e após tocar o equipamento, aplique o álcool em gel”, alerta o veterinário.
A empresária Juliana Guimarães, 34 anos, trabalha em home office com dois pets ao lado, Pipo (chihuahua de pelo longo) e Chiara (mistura de pinscher com poodle). “A vantagem é que moro em casa e não em apartamento. Então, eles têm muito espaço para correr, se divertir, brincar e também ter os momentos em família”, conta. Ela observa que, agora, já que tanto as crianças quanto os pets estão em casa, isso ajuda a distrair um ao outro. Mas, como trabalha remotamente, o período de recomendação de quarentena pelo governo não mudou muito a rotina dela. “Já que não podemos sair, tivemos que adequar as nossas agendas, inclusive, para ter tempos de qualidade e desenvolver atividades de queimar energia”, relata.
Juliana está preocupada com o tempo de isolamento, pois são cachorros que costumavam sair muito. “Eu me pergunto quanto tempo eles vão ficar satisfeitos de ficar em casa com as crianças. As pessoas que passavam sempre os chamavam para fazer um carinho. Creio que sentem muita falta disso e também de andarem pelo condomínio, encontrar os outros animais”, observa. “Mas é uma medida necessária para preservar a nossa comunidade e o bem-estar.”
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Máscaras em pets
- Algumas imagens de cães com máscara apareceram na internet. Essa medida, porém, pode trazer problemas para o bicho. Ao colocar esse objeto no focinho, pode até fazer o tutor se sentir mais seguro, mas não protegerá o bichinho. O adequado é se informar com fontes confiáveis, como a OMS, e entender se esse tipo de vírus pode afetar os animais para evitar possíveis consequências para a saúde deles.
Fonte: Thaís Matos, veterinária da DogHero.
Orientações e dicas
- A recomendação do Conselho Federal de Medicina Veterinária é que os animais tenham passeios mais rápidos, apenas para satisfazer as necessidades fisiológicas. “Deve-se evitar parques e praças, onde o número de pessoas e animais pode ser maior. Os passeios devem ocorrer em horários tranquilos”, orienta Paulo Sergio Salzo, professor de medicina veterinária da Universidade de São Judas.
- Ele explica que em residências onde houver pessoas infectadas pelo vírus, deve haver restrição do contato com os animais, até que novos estudos sejam realizados. “Os tutores que vivem em áreas onde há casos humanos conhecidos de Covid-19 devem lavar as mãos antes e depois de interagir com os pets e usar máscaras perto deles”, diz. O médico veterinário orienta que banhos em pet shops devem ter frequência reduzida, ou de preferência, feitos em casa. Deve-se evitar pânico desnecessário.
Posso pegar a Covid-19 do meu amigão?
- Não há evidências de que animais que fazem companhia ou de estimação, como gatos e cães, tenham sido infectados ou possam espalhar o novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que, até o momento, não há nada significativo de que eles possam ficar doentes ou transmitir a doença. Mesmo assim, a recomendação é de que as pessoas infectadas evitem o contato com seus cães e gatos.
Fontes: Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Preste atenção!
- Fique de olho no comportamento do seu cão: ele pode ser afetado por conta da quarentena e desenvolver ansiedade por separação, estresse, entre outros. Cães ansiosos podem acabar sofrendo mutilação (morder o próprio rabo, lamber a pata até fazer ferida, etc). Além disso, eles podem começar a destruir móveis e fazer xixi fora do lugar.
- Mude a rotina: a mudança de hábito de passeios está mais relacionada a humanos do que a animais, pois fazer passeio com os cães ou levá-los a parques aumenta o risco de exposição entre humanos. Você pode investir em enriquecimento ambiental por meio de brinquedos interativos, dar a alimentação em brinquedos inteligentes que incentivem o pet a “caçar” a comida (tenha que descobrir como obter a comida do brinquedo), entre outros, para distrair o pet e fazê-lo gastar energia.
Fontes: veterinários Cleber Santos e Thais Matos.
Você sabia?
- Recentemente, fizeram exames em um cachorro em Hong Kong, na China, e registraram baixo nível de coronavírus. Mas ainda não há confirmação ou comprovação científica se o vírus pode afetar os animais de estimação ou, então, se pode transmiti-lo aos humanos.
- O caso ainda está sendo investigado, mas o animal se encontra em quarentena, não desenvolveu a doença clínica e apresentou um nível baixo (fraco) de infecção. Isso pode ser indicativo de uma contaminação ambiental, ou seja, provavelmente ocorreu pelo contato próximo do cão com o tutor, que estava infectado com a Covid-19.
- O que se sabe é que, em 1980, uma espécie de coronavírus canino matou cerca de 80 mil cachorros em São Paulo. Esse vírus, porém, não afetava os humanos e tinha outros sintomas: desenvolvia gastroenterite viral canina, falta de apetite, prostração, diarreia e vômitos.
Fontes: veterinários Thais Matos e Claudio Rossi.
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