Revista

Mestres do companheirismo

Correio Braziliense
postado em 26/04/2020 04:15
Juntos há 19 anos, Luiza e Francisconi descobriram novas atividades como piano e exercícios a dois na piscina

Para Luíza Dornas, 67, e Jorge Francisconi, 78, a convivência intensa não é tanta novidade. Após se aposentar da Secretaria de Estado de Cultura há alguns anos, ela passou a dividir com o marido o escritório em casa, onde se dedica à produção cultural, enquanto Jorge presta consultoria e produz artigos na área de planejamento urbano.

O casal, que está junto há 19 anos, sempre prezou pelo companheirismo para aproveitar os ambientes da casa, mesmo antes da pandemia do novo coronavírus e do isolamento social. “Curtimos ficar em casa. Gostamos de caminhar, fazemos exercício na piscina e ele até resolveu aprender a tocar piano”, revela.

O verdadeiro desafio tem sido a distância dos familiares e amigos. A única filha de Luíza mora no Canadá, para onde eles viajariam em abril, mas os planos foram adiados. A casa, que antes era um ponto de encontro de muitas reuniões, passou a comportar apenas os dois por tempo indeterminado.

A solução temporária para a saudade vem das ligações diárias que fazem. “Não sei como seria essa quarentena sem internet para poder falar e ver minha filha, com meus netos, amigos, irmãos, trocar receitas e aprender tudo o que preciso”.

Experimentar e aventurar-se nas receitas, inclusive, é um novo prazer para a dupla. No início do isolamento, eles dispensaram remuneradamente Carlinhos, que os ajudava com a casa e a cozinha, e passaram a comandar o fogão por tempo integral. Os resultados são deliciosos e chegaram a surpreendê-los.

Assim como a vida, os afazeres da casa também são divididos. “Eu e Francisconi cuidamos da casa. Eu cozinho e ele faz a sua parte varrendo, arrumando o quarto, nos cuidados com as compras que fazemos por whatsapp na Vargem Bonita, ou até na cozinha mesmo”.

O tempero para uma boa relação parece ser realmente o equilíbrio, uma vez que, ao anoitecer, o casal não abre mão do momento de sentar na varanda para descansar e conversar enquanto bebem um vinho — de garrafa previamente esterilizada, com água e sabão, para garantir distância do Covid-19.

Além disso, Luiza e Jorge costumam partilhar momentos de se informar e de lazer frente à televisão. “Assistimos ao jornal da noite para ver o que está acontecendo no mundo e desligamos ou vamos assistir a uma série no Netflix ou algum programa do canal Arte 1. Recentemente assistimos juntos ao show Roberto Carlos”, lembra ela.

Para quem faz parte do grupo de risco, o menor dos cuidados faz a diferença, assim como um ambiente de companheirismo, coopera para a boa convivência. Por isso, o casal não pretende sair do isolamento tão cedo, já que se sentem protegidos e unidos dentro de casa.




Sinal de alerta

Enquanto para uns o isolamento reconecta casais, para outros, é apenas um agravante do pesadelo. No primeiro trimestre de 2020 foram registrados 313 casos de violência doméstica no Distrito Federal, o que representa um aumento de 16,4% no número de casos em relação ao mesmo período de 2013. O crescimento somado à situação de isolamento imposta à sociedade em decorrência do Covid-19 acendeu o alerta quanto à segurança das mulheres.

Isso porque o isolamento pode agravar a violência doméstica ao "prender" a vítima no mesmo ambiente que seu agressor, assim como há crescimento dos fatores de riscos que contribuem para a violência — isolamento social da vítima, desemprego recente, dependência econômica, baixa disponibilidade de recursos e serviços para proteção e abuso de substâncias entorpecentes.

Outros agravantes como diminuição dos fatores de proteção, apoio familiar e da comunidade também são afetados, fazendo como que a vítima possa ter menos acesso a recursos e serviços para proteção, independência financeira e acolhimento profissional.

Pensando nessa vulnerabilidade, ações de proteção contra a violência doméstica estão intensificadas, a exemplo da Lei nº 6.539, sancionada pelo governador Ibaneis Rocha em 14 de abril, que obriga condomínios a denunciarem os casos de abusos cometidos contra mulheres e idosos, sob multa de R$ 10 mil para quem descumprir a lei.

Além de ações governamentais, diversas empresas particulares entraram na causa de enfrentamento ao problema, como o movimento #IsoladasSimSozinhasNão endossado pelas empresas Natura e Avon como forma de alertar a população para a importância da vigília social, e que busca criar uma rede de apoio entre vizinhos, amigos e familiares e dando-lhes informações e ferramentas para que saibam como agir diante de um caso de violência.

Os crimes de violência doméstica são amparado pela Lei nº 11.340/2006, conhecida popularmente como Lei Maria da Penha. A recomendação das autoridades é acionar a polícia em casos flagrantes para que esta possa efetuar a prisão do agressor. Caso haja dúvida quanto a situação que vive, a mulher pode procurar informações pelo Disque 180, dos Direitos Humanos, ou pelo Centro de Atendimento à Mulher (Ceam), no número (61) 3207-6172.





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