Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 04:26
Assim como Isabella Amorim, Isadora Couto Fleury Curado também comemorou seus três anos durante o isolamento social. Desde o início do ano ela comunicou na creche que teria uma festa com o tema “Show da Luna”.
A mãe, a servidora pública Uiara Couto de Mendonça, 36 anos, conta que a família tinha combinado que se não fizesse festa este ano, iria viajar, mas quando soube pela professora do comunicado da filha para os colegas, achou graça na empolgação e resolveu fazer uma pequena comemoração na creche.
Mas vieram o isolamento, a suspensão das aulas e não apenas da festa, mas também da viagem em família. Como Isadora já estava com uma grande expectativa pelo aniversário, Uiara manteve os enfeites com o tema escolhido para a comemoração em casa e começou a considerar outras possibilidades. “Ela é uma criança muito intensa, não podia deixar passar em branco”, lembra.
"Ela é uma criança muito intensa, não podia deixar passar em branco"
Uiara Couto de Mendonça, servidora pública
Ao saber de um projeto no qual uma banda estava se apresentando embaixo dos prédios em Águas Claras, Uiara resolveu que um show seria uma forma de incrementar o aniversário da filha e também de levar um pouco de alegria aos vizinhos.
A servidora fez um convite informando sobre o show, o horário e convidando todos para cantar parabéns para Isadora nas janelas e varandas. Junto, entregou uma rosa em cada um dos 90 apartamentos.
Em casa, com as decorações do Show da Luna, salgadinhos, doces e bolo, Uiara, o marido — o servidor público Clóvis Felix Curado Júnior, 51 — e a enteada Giovanna Pinheiro Fleury Curado, 15, cantaram parabéns e fizeram videochamadas para a família e amigos.
No horário combinado do dia 14 de abril, vários vizinhos estavam com taças, brindando, chamando Isadora. Um deles tocou parabéns no saxofone e a noite se transformou em uma grande festa. Eufórica, Isadora não acreditava que todos estavam cantando para ela.
“Obrigada, meu aniversário foi inesquecível”, foram as palavras de agradecimento da aniversariante. Uiara conta que vizinhos interfonaram agradecendo também, pessoas se emocionaram, pediram para conhecer a família quando tudo se normalizasse.
A servidora acredita que a iniciativa tirou um pouco o peso que todos estão sentindo durante o isolamento e permitiu que vizinhos que não se conheciam se conectassem e passassem a conversar pelas janelas. “Foi algo simples e muito gratificante. O retorno que tivemos foi maravilhoso”.
A conspiradora de surpresas
Em alguns casos, a iniciativa partiu de parentes ou amigos, que não queriam deixar a data passar em branco. A empresária Raíssa Oliveira Guimarães, 30, esteve por trás da organização de duas surpresas de aniversário, da prima mais nova e da cunhada.
Raíssa conta que a caçula entre 10 primos comemorou 18 anos no dia 3 de maio, no meio do isolamento social, e como ela seria a última da geração a completar a maioridade, a família, que estava sempre reunida, não queria deixar a data sem uma comemoração adequada.
A estudante Gabriella Oliveira Fontenele, 18, estava ansiosa para as comemorações com a família em um restaurante e com os amigos em um clube, além de estar animada para “finalmente” tirar a carteira de motorista, mas viu todos os planos serem adiados.
"Chorei demais, fiquei emocionada e muito grata por tanto amor. Mas ao mesmo tempo foi um pouco agoniante não poder abraçar todos que amo"
Gabriella Oliveira Fontenele, estudante
Enquanto estava em um churrasco no quintal de casa, apenas com os pais e irmãos, Gabriella foi vendada pela irmã e levada para a rua, chegando lá, a estudante foi surpreendida por uma carreata com todos os primos, amigos, tios e tias.
Com balões, apitos, buzina e muita alegria, a família comemorou junta, mas cada um da sua janela. “Chorei demais, fiquei emocionada e muito grata por tanto amor. Mas ao mesmo tempo foi um pouco agoniante não poder abraçar todos que amo”, confessa Gabriella
Até a avó, que não via nenhum dos 10 netos desde o início do isolamento, pode mandar beijos distantes, da janela fechada, para toda a família. “Somos muito grudados e minha avó não passava um dia sem ver pelo menos um de nós. Então, foi muito bom para ela também”, conta Raíssa.
A outra comemoração que Raíssa ajudou a organizar foi menor, mas não teve menos amor. A estudante Nathália Figueiredo Dias, 28, é irmã de consideração do marido de Raíssa, o analista de TI Marcos Vinicius Noronha Tavares, 30, e madrinha do filho caçula de Raíssa, Ravi, 8 meses.
A família via-se todo fim de semana e Nathália participava de todos os “mesversários” de Ravi. “Era o primeiro aniversário dela como madrinha e comadre e não queríamos deixar de fazer algo especial”, lembra Raíssa.
Surgiu então a ideia de levar um pequeno recado para a madrinha. Raíssa, Marcos, Ravi e a filha mais velha da empresária, Suri Guimarães Corezzi, 11, escreveram bilhetes e entraram no carro para distribuir um pouco mais de alegria.
"Era o primeiro aniversário dela como madrinha e comadre. Não queríamos deixar de fazer algo especial."
Raíssa Oliveira Guimarães, empresária
Nathália, que tinha o hábito de sempre comemorar o aniversário com a família e os amigos, estava em casa com o pai, a mãe e o irmão quando pode matar as saudades do afilhado, mesmo que de longe.
Alguns amigos também passaram de carro para desejar parabéns das janelas e deixar presentes para Nathália. O aniversário, com recados distantes, foi diferente do que ela imaginava e esperava, mas foi especial. “Almocei com minha família, minha mãe fez um bolo e eu me emocionei com tanto amor”.
Raíssa acredita que suas ideias e a vontade de não deixar ninguém sem saber o quanto é amado vem do fato de ela mesma amar aniversários. “É uma data importante, de a gente ser grato por tudo que tem na vida e todas as pessoas ao nosso redor. Mesmo nesse caos que vivemos, é importante agradecer”, completa.
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