Correio Braziliense
postado em 17/05/2020 04:27
Neste mês de maio, o mundo lembra os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial — dia 8 de maio de 1945, os nazistas capitularam. As celebrações foram contidas por causa da guerra atual contra um inimigo mais insidioso, que nos força a recuar em vez de atacar, a buscar a segurança do bunker doméstico, e não a luta aberta.
Valente agora é quem fica em casa. A estupidez dos nossos tempos transforma luta e drama em bravata ou gaiatice. Mas, já na Primeira Guerra Mundial, o brasileiro demonstrava uma disposição ufanista que deixa os que hoje se dizem patriotas lambendo sabão.
Enquanto o Brasil se mantinha neutro, o povo se esbaldava com canções como Ai!... Philomena (de Bahiano), Luar do sertão (Eduardo das Neves) e O meu boi morreu (com os dois) mas bastou o vapor Paraná, que carregava sacas de café, ser torpedeado pelos alemães, em abril de 1917, para a valsa mudar.
“Kaiser, sangue, submarinos/ Torpedos, pirataria/ Eis a Bíblia – covardia/ Dum povo de desatinos/ Portanto seja a razão/ Transformada em extermínio/ Seja a Justiça o assassino/ Nossa lei seja o canhão”, cantava o povo.
Canções como esta estão esquecidas, muitas sequer foram gravadas, mas estão caprichosamente compiladas na época pela mãe do pesquisador Renato Vivacqua, num caderno com letras de músicas, com caligrafia impecável, entre canções de amor. Algumas podem ser ouvidas hoje, caso de Às armas, na voz de Vicente Celestino, gravada em 1917.
Diz a letra: “Brasileiros, às armas corramos/ Vinde à luta trazer vossas vidas/ Pela pátria querida que amamos/ Derramar nosso sangue nas lidas/ ...Nossos peitos marchando para morte /
Será a morte que as hordas difundem”, palavras de Antônio Caxias, embora no selo disco atribuídas a W.A.R.
Havia brasileiros abespinhados com o conflito desde 1914, como o compositor Alberto Nepomuceno que criou peças como Oração à pátria (1914) e Tambores e cornetas (1918). Mas fora da seara erudita, a preocupação só começou quando quatro navios brasileiros foram afundados. O Brasil não lutou na Europa, mas pegou em armas, ou melhor: brandiu palavras:
“Olhai agora o mais atroz;/ A nossa noiva, o nosso amor/ Aos pés do torpe usurpador/ Erguendo os braços para nós” (Marcha do soldado brasileiro).
”Não me abatem desgostos da vida/ Pois a todos eu hei de vencer/ Pela pátria adorada e querida/ Quero sempre lutar e morrer” (Canção do soldado).
“Nossa bandeira/ Bela e altaneira/ Que em todo mundo é querida e respeitada/ Jamais nos consentiremos/ Ou morreremos, se ela for enxovalhada” (Marcha patriótica).
“A pátria mãe seus filhos chama/ Avante, pois! Somos herdeiros/ De quatro séculos de combate/ E o sangue hostil de avós guerreiros/ Nos corações toca e rebate” (Avante mocidade!).
“Por guardar-vos e por defender-vos/ Esplendores da terra natal/ Rija pedra serão nossos nervos/ Nossos músculos rijo metal” (Para a frente).
“E depois da vitória alcançada/ E alcançardes a glória viril/ Toda Europa dirá assombrada:/ O gigante do mundo é o Brasil” (Canção de guerra).
Mas isso foi antes de os brasileiros começarem a brigar entre si.
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