Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 04:34
Quem também está adaptando os festejos são as escolas. Muitas, conhecidas tradicionalmente por promover grandes festas, farão comemorações on-line. Uma delas é o Marista, que no próximo dia 20 promoverá a primeira festa on-line para os alunos, com direito a decoração e delivery de comidas típicas. Nestas semanas que antecedem a festa, cada família receberá, pelos Correios, um kit para decorar a casa, com direito a bandeirolas e materiais juninos que estão sendo trabalhados durante as aulas EaD para compor a festa. Jogos e brincadeiras estão incluídos para animar o dia.
Na casa do empresário Pedro Franarin Alves, 37, as encomendas chegaram há poucos dias e estimularam a criatividade dos filhos. Valentina, 6, e João Pedro, 9, estão contando os dias para fazer a decoração para a festa. “Eles receberam as correspondências em nome deles, o que já é uma novidade. Ao abrirem, viram que se tratava de material para decorarmos a casa para uma festa junina, ficaram superfelizes”, conta o pai.
Para o empresário, a iniciativa reforça a mudança de postura que vem sendo exigida em casa em conjunto com a escola. Segundo ele, os momentos de interação social entre as crianças foi um dos pontos mais impactados nesse novo modelo de educação on-line. Por isso, a iniciativa foi abraçada de forma positiva pela família.
Pedro diz que os kits estimulam a participação e criatividade, já que permitem que cada família monte sua decoração para que, depois, em conjunto, possam curtir uma festa junina. “Isso é fantástico, são momentos de descontração e alegria junto à escola, são os que ficam guardados em nossas memórias e espero que possamos curtir, mesmo que on-line, esse momento juntos”, comemora.
Fernanda Lages, gerente de relacionamentos do Marista, explica que a iniciativa do evento on-line foi uma forma de a escola manter a proximidade com os alunos. A ideia é de que as famílias possam montar um standard e no dia da live possam estar caracterizadas e no clima. Haverá uma plateia virtual para que os alunos possam interagir durante o evento.
O diretor do Colégio Marista Asa Sul, Rony Ahlfeldt, explica que a festa será uma celebração dupla para os alunos e familiares. “Além de ser um momento para nos unirmos e festejarmos, mesmo que a distância, é a data da celebração de São Marcelino Champagnat, fundador do Instituto dos Irmãos Maristas”, explica. “Temos motivos em dobro para comemorar e fortalecer os laços da nossa comunidade e celebrar tradições tipicamente brasileiras. Será uma grande festa com certeza”, conclui.
Além do evento on-line contar com apresentações de músicos, interações e brincadeiras, os pais podem encomendar comidas típicas que a escola vai produzir na cantina. “Vamos disponibilizar o cardápio alguns dias antes do evento e os pedidos vão ser entregues por meio de delivery ou os pais podem retirá-los na escola”, explica Fernanda Lages.
Temporada atípica
Há 24 anos ininterruptos participando dos circuitos de quadrilha do Distrito Federal, este é o primeiro ano que a tradicional Quadrilha Formiga não vai levar alegria para o público por meio das apresentações de dança. Patrese Ricardo da Silva Mendes, coordenador do grupo, conta que este ano a quadrilha estava se preparando para grandes projetos, entre eles voltar a se apresentar em Caruaru e Campina Grande, o maior São João do mundo.
“Nosso primeiro choque foi saber que isso não seria possível. Fomos o primeiro grupo do Distrito Federal a se apresentar por lá e era um projeto latente voltar a levar nossos dançarinos para esse intercâmbio cultural”, conta Patrese.
De início, o grupo acreditou que até o começo da temporada, neste mês de junho, a pandemia estivesse normalizada. Agora, com a proibição de eventos e aglomerações, busca novas formas de interagir com o público e manter o projeto em andamento.
Roseane Ferreira, integrante há mais de 15 anos, afirma que é importante dar continuidade ao projeto mesmo em tempos de crise, pois, para muitos, a quadrilha não é apenas diversão, mas uma forma de levar cultura e propósito para outras pessoas. “É uma válvula de escape. Alguns começam a dançar como uma terapia para problemas com depressão, ou desavenças familiares. Eles acabam se apaixonando pelo movimento com tanta força que conseguem trazer alegria pra dentro de si e para o próximo”, analisa.
A parceria com grandes organizações e o engajamento dos participantes tem ajudado a manter a quadrilha firme no propósito de levar alegria. Durante este mês, membros da equipe estão gravando vídeos em parceria com o Sesc, que promoverá uma festa junina on-line. “Esse projeto é com a terceira idade. Eu gravo uma coreografia aqui na minha casa e envio para o Sesc, que repassa o conteúdo para os idosos. A ideia é que no dia da festa a gente consiga fazer um quadrilhão com essas pessoas, só que cada um na sua casa, claro”, explica Leandro Mota, bailarino e coreógrafo da Formiga da Roça.
Nesse mesmo esquema, Leandro mantém os dançarinos com as coreografias alinhadas. Por meio de uma plataforma on-line, ele grava os movimentos que devem ser reproduzidos pelos dançarinos. “Dessa forma, quando eles me mandam o vídeo de volta, eu consigo corrigi-los e dar um feedback”, aponta. Outros setores do grupo, como o responsável pela quadrilha mirim, chamada Coisas da Roça, tem promovido lives com apresentações, debates e arrecadação de agasalhos.
A pandemia inviabilizou não apenas as apresentações, como interrompeu toda a cadeia de economia gerada pela quadrilha. Isso porque o processo de produção de uma apresentação quadrilheira envolve não só dançarinos e coreógrafos, como músicos, artesãos e costureiras. “Quando a pandemia estourou, nós estávamos no meio do processo de confecção dos trajes, criando o projeto musical com a nossa banda e a todo vapor nos ensaios. Tivemos que interromper toda a cadeia produtiva e até chegamos a nos endividar por conta disso”, conta o coordenador Patrese.
São mais de 120 pessoas envolvidas, entre eles o sanfoneiro e produtor musical da banda da Formiga da Roça, Fabio Viana. Ele, que vive da música, diz que o momento é delicado para todos que têm a arte como trabalho. “O ser humano tem por obrigação se adaptar. Creio que muitos não estão em uma boa situação, pois o artista não nasceu para ficar parado, ele faz arte para levar para os outros.” Além de produtor musical e professor de música, ele trabalha com live, que o ajuda a se manter firme e esperançoso. “É o que tem ajudado e ajuda outras pessoas”, diz ele, otimista para um pós-pandemia.
O mesmo sentimento de esperança é compartilhado por Leandro, que acredita que a temporada do ano que vem chegue com muito mais força. “A paixão virá muito latente. O quadrilheiro tem amor pelo São João e não viver uma temporada vai fazer com que o movimento volte como muito mais força. Vivemos em um mundo que as pessoas estão trancadas em casa com medo, e talvez esse seja nosso papel como artista: levar alegria para esse povo pós-pandemia”, conclui.
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