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Em busca da imunização

A propagação do coronavírus pelo mundo deu início a uma corrida científica em busca de uma vacina para a doença. Entenda como é o processo de produção do medicamento

Correio Braziliense
postado em 14/06/2020 04:34
Nunca a criação de uma vacina foi tão urgente, e mesmo que o mundo inteiro esteja na corrida para produzi-la, a previsão dos cientistas é de que imunização contra a covid-19 chegue em, no mínimo, três meses. Esse pode vir a ser ser um dos maiores feitos da história da vacinas. O soro mais mais rápido a ser fabricado até hoje foi contra o sarampo, que levou dez anos para ficar pronto. 

O processo de pesquisa e desenvolvimento até chegar à produção de uma nova vacina é bastante complexo, longo e depende das peculiaridades de cada vírus ou bactéria, assim como da complexidade das doenças. “Não é algo que se elabore de um dia para o outro ou mesmo de um ano para outro. Há casos em que se pode levar 15, 20 anos para se chegar a um imunizante”, explica Sheila Homsani, diretora médica da multinacional farmacêutica Sanofi Pasteur.

Por meio de pesquisas, é necessário, primeiramente, entender como a doença age no organismo e qual o melhor caminho para provocar a produção de anticorpos de maneira efetiva. Anamélia Lorenzetti Bocca, professora titular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (UnB), explica que só essa fase, chamada de pré-exploratória, pode levar cinco anos. 

“Neste momento, os cientistas buscam entender o agente infeccioso analisando centenas de moléculas a fim de descobrir qual será a melhor composição do imunizante. As estratégias são muitas: pode ser usado o vírus morto, à base do RNA, e até mesmo parte do vírus ativo nas chamadas vacinas de vírus atenuado”, elucida Anamélia.

O estudo desses componentes pode gerar vários tipos de vacina, segundo Sheila Homsani. As mais comuns são: as vacinas atenuadas, que trazem na sua composição agentes infecciosos vivos, mas em uma estrutura enfraquecida. Vacinas inativadas, com agentes infecciosos mortos e vacinas vivas atenuadas que têm o vírus vivo e enfraquecido. “Há, ainda, as vacinas toxóides, que são aquelas feitas com toxinas modificadas, também incapazes de causar doença”, explica Homsani.

Apenas depois dessa série de estudos é que os soros começam a ser testados. Primeiramente em animais, na fase pré-clínica; posteriormente em humanos, na fase clínica. Durante os testes, anos de pesquisa podem cair por terra, pois mesmo apresentando sinal promissor nas experimentações in vitro (em laboratório), a composição pode não surtir o efeito desejado e é preciso recomeçar.

No caso das vacinas que vêm sendo testadas para a covid-19, um fator decisivo é que os estudos não estão partindo do zero. Pesquisas do Sars-CoV, vírus pertencente à mesma família do coronavírus (Sars-CoV-2) e responsável pelo surto de síndrome respiratória aguda grave (Sars) em 2002, estão sendo cruciais para a fabricação da vacina.

Segundo a diretora médica da Sanofi Pasteur, Sheila Homsani, o cenário enfrentado é bastante atípico, visto que a pandemia está fazendo vítimas ao redor do mundo, por isso o momento de unir forças. “Centenas de estudos globais, desenvolvidos neste momento em busca da imunização, miram um objetivo importante: preservar vidas. A expectativa é de que a vacina esteja disponível até o segundo semestre de 2021”, diz.
 

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