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Conheça mulheres que valorizam cachos e crespos após a transição capilar

Foi-se o tempo em que só os cabelos lisos atraíam os elogios. A cultura de valorização dos cabelos crespos e cacheados revelou a beleza. Quem alisou fios passa pela transição capilar

Correio Braziliense
postado em 17/06/2020 14:00
A trancista Jéssica Alves
A era dos cabelos lisos está chegando ao fim com a valorização dos cachos e crespos e cada vez mais as pessoas estão largando a chapinha, o secador, o alisante e as progressivas para deixar as madeixas ao natural. Engana-se quem acha que é moda. A transformação revela um movimento de aceitação de quem antes sofria com a pressão estética e com o preconceito. Para muitos, é resistência.

Porém, para assumir o cabelo natural, é necessário passar pela transição capilar. “Durante esse período, os fios têm duas ou mais estruturas, até que o cabelo natural cresça o suficiente para que as pontas alisadas possam ser cortadas. É uma grande tendência neste momento em que a beleza é compreendida pela diversidade”, explica  Kédima Nassif, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

A dica dela é usar a texturização (é um método que transforma o cabelo liso para o cacheado). “Isso pode ser conseguido pela associação de produtos modeladores de cachos ao uso de difusor, assim como ao prender um coque com o cabelo semisseco ou fazer uma trança”, sugere.

O uso de penteados como tranças e coques também auxilia quem passa pela transição capilar. “Quanto mais hidratado o cabelo estiver, mais fácil será modelá-lo. Assim, o uso de xampus suaves, leave-ins à base de óleos ou com ativos de ativação de cachos e hidratações semanais auxiliam na formação de ondas e cachos com menos frizz”, explica ela graduada em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
 

Amor próprio e liberdade


A trancista Jéssica Alves, 26 anos, conta que a transição capilar dela foi extremamente difícil. “Na verdade, eu nunca usei nada de química. Mas, só o fato de usar o calor da prancha direto acabou tirando meus cachos. Daí comecei a usar trança para disfarçar as duas estruturas”, diz. A jovem decidiu passar pelo processo, porque queria as madeixas naturais. “Eu me sentia muito presa por usar a chapinha, queria liberdade e me sentir bem novamente”, diz.

Ela revela que se preocupava muito com a opinião das pessoas e queria satisfazê-las. “Diziam: ‘mulher, alisa esse cabelo, você fica mais bonita’. Eu deixava liso para agradá-las e para fazer parte do mundo delas. Não gostava de alisar.”. Jéssica conta que “passou se amar novamente, do jeito que realmente é.” O processo de transição durou cinco anos. “Eu assumi meus cachos em 2019”, relata.

 No começo, a ela ficou insegura e quis desistir por ter passado por situações constrangedoras sobre o cabelo. “Sofri preconceito e isso acabou comigo. Antes, eu não estava preparada para as críticas, mas, hoje, estou com a cabeça mais aberta”, observa. “Alisei porque ia muito pela cabeça dos outros. A opinião deles valiam mais que a minha. O que eu diria para quem está passando por isso? É que nunca desista, olhe para o espelho e diga: eu posso, eu quero, eu consigo.”
 
 

Aceitação e paciência


Para algumas pessoas, a transição capilar pode ser mais tranquila, mas o verdadeiro problema é aceitar o cabelo como é. “Alisava meu cabelo desde muito nova, porque me impuseram que o bonito era o liso. Quando era criança o que mais ouvia: ‘cabelo duro, cabelo de Bombril’, era triste ouvir isso”, conta a criadora de conteúdo a Jéssica Souza Santos Nogueira, 28 anos. 
A dica de Jéssica Souza é persistir nos cuidados, não desistir e procurar influências
A instagramer explica que quando menina pediu à mãe para alisar, mesmo não querendo. “As pessoas dificilmente aceitam cabelo crespo. Eu decidi passar por esse processo por causa da minha filha e pensei como seria a vida dela em relação ao cabelo. Como eu poderia dizer o quanto ela era linda e o meu eu não aceitava?”, questiona. 

A outra dificuldade dela foi lidar com as duas texturas, tanto que acabou alisando novamente e voltou para a segunda transição. “O maior problema é a aceitação, aprender a lidar com o cabelo novo e que você não sabe qual é”, analisa.  A segunda transição foi mais tranquila para ela porque já tinha referências. “Contudo, não há tantas referências de crespas nas mídias sociais em geral, mas há várias blogueiras que ajudam.” A dica dela é persistir nos cuidados, não desistir e procurar influências.
 
 

Autoestima baixa e cuidados

Ana Flávia pesquisou sobre as possíveis soluções para se livrar de toda aquela química, sem ter que raspar o cabelo
Se pressão estética pode fazer as pessoas mudarem o cabelo sem vontade, a fase da autoaceitação pode ser difícil. “É um momento complicado que, se superado, vai te levar a uma beleza única e ao orgulho de assumir as lindas características naturais. Uma dica é ter um exemplo de alguém que passou com sucesso pela transição e, quando o desespero bater, usar métodos de texturização e focar no objetivo final”, afirma  Kédima Nassif, dermatologista.

É um processo lento, de muitas descobertas sobre si, que vão além da questão estética. “Depois de me cansar de tanto sacrifício durante anos tentando ter ‘praticidade e beleza’ com o cabelo alisado e perceber que a minha aparência não tinha nada a ver com minha essência e reconhecer que era viciada em alisamento”, a psicóloga Ana Flávia, 33, pesquisou sobre as possíveis soluções para se livrar de toda aquela química, sem ter que raspar o cabelo. 

“Eu fiz tranças (box braids) e me apaixonei completamente. Hoje, intercalo períodos com e sem tranças, mas amo muito minhas duas versões”, orgulha-se. Ela diz que não sabe o porquê de alisar, pois começou quando criança. “Acredito que, por falta de referência, porque praticamente todas as pessoas consideradas bonitas naquela época tinham os cabelos lisos ou alisados”, constata. 

A falta de produtos e conhecimento sobre como cuidar do cabelo natural pesou na decisão de alisar. “Minha mãe reclamava muito da dificuldade que era desembaraçar meu cabelo e fazia questão de me levar a salões de beleza.” Ana Flávia lembra que ouvia a mesma coisa que as outras colegas, como “cabelo duro”, “Bombril” , “ruim”, mas  são termos racistas. 

Cuide bem das madeixas

 
Prefira a temperatura baixa do secador e da chapinha
  • Utilize o secador com jato de ar em temperatura mais baixa, o processo de secagem pode demorar um pouco, mas isso ajuda a manter as cutículas dos fios seladas, controla o frizz e dá brilho.
 
Hidratar antes de usar o secador e a chapinha
  • A hidratação deve ser feita constantemente para manter a saúde dos fios. Se possível, opte por fazer a hidratação para cabelos em todas as lavagens, dessa forma, reduz o ressecamento e a quebra dos fios causados pelo calor do secador ou da prancha.
 
Use coquinhos 
  • São práticos e bem fáceis, além de dar o mesmo aspecto cacheado em todo o comprimento dos fios.
 
Olha os bigudinhos
  • O acessório é um dos melhores amigos daquelas que estão passando pela transição. São bem fáceis de achar e o resultado vale a pena! Isso porque os bigudinhos definem os cachos e ajudam a dar forma para a parte alisada.
 
Não esqueça dos penteados
  • Tranças, coques, rabo de cavalo e uso de acessórios.
 
Fonte: Salon Line, empresa de produtos de cabelo


Dicas e opções


Para a trancista Maria Clara Guerra, 22, conhecida como Macla, é um momento frágil e a sociedade está mudando os padrões de beleza. “Algumas pessoas optam por continuar com as madeixas lisas, mas, agora, sem as químicas. Mas que tal deixar seu cabelo natural crescer mais saudável? Se vamos transformar, que seja da raiz!”, afirma. Para deixar os fios longe dos danos do calor, as profissionais recomendam várias opções.



BIG CHOP: Para quem não está familiarizado com o termo, significa ‘grande corte’.  É a parte decisiva da transição, em que se remove todas as químicas do cabelo deixando apenas o natural. Aqui, depende do tamanho que a raiz está, a cada mês cresce em média 1cm.

APLIQUES: As laces são perucas com aspecto bem mais natural. São mais caras, podendo variar de materiais e acabamentos. Os entrelaces, que podem ser "tiras" de cabelo (orgânicos têm aspecto mais natural) ou  costuradas (linha e agulha mesmo!).  O cabelo natural fica protegido, podendo aguentar até, no máximo, três meses. 

TRANÇAS: São ótimas amigas na transição, das nagôs às box braids, muitas formas de serem feitas e vários materiais possíveis de usar. Seu cabelo fica protegido pelo material (lã, linha, cabelo) das agressões externas, e ainda dão muito charme! É recomendado usá-las por, no máximo, três meses, pois começam a pesar nos fios do cabelo e se passar do tempo podem enfraquecê-los e, no pior dos casos, podem quebrá-los!  
 
USE ÓLEOS VEGETAIS e XÔ SULFATO: São essenciais para o couro cabeludo e dão muita assistência (amêndoa e babosa), Shampoos com pouco sulfato evitam o ressecamento excessivo e hidratações são sempre bem-vindas!
 
*Estagiária sob supervisão de Taís Braga
 

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  • Foto: Arquivo pessoal
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