Revista

O mês da diversidade

Séries, reality shows e até desenhos aproveitam junho para combater o preconceito e celebrar o orgulho LGBTQIA+

Correio Braziliense
postado em 21/06/2020 04:27
Os apresentadores de Queer eye quebram preconceitos ao transformar a vida das pessoas




Em referência à revolta de Stonewall, ocorrida em Nova York, em 1969, junho passou a representar o mês do orgulho LGBTQIA+. Por isso, a temática ganha mostras e estreias na televisão aberta, na TV a cabo e no streaming. São produções para todos os gostos, indo da comédia romântica a seriados mais combativos, dos reality show aos desenhos animados. Recentemente, Bob Esponja postou uma rede social sobre o orgulho gay, confirmando que ele é homossexual e ajudando a normatizar a ação entre o público infantil e juvenil.

Durante todo o mês, o Canal Brasil dedica boa parte da programação à temática, a começar pela estreia da segunda temporada do talk show TransMissão, com Linn da Quebrada e Jupp do Bairro, passando por uma maratona com os episódios de Toda forma de amor, série original dirigida por Bruno Barreto, com a brasiliense Gabrielle Jolie no elenco, a partir do próximo domingo.

A seção Especial Orgulho LGBTQIA exibe 12 títulos. E tem espaço para produções inéditas, caso dos documentários Rogéria: Senhor Astolfo Barroso Pinto e Mr. Leather. Na próxima quarta-feira, às 4h, será a vez da reprise de Tinta bruta. O premiado filme de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon acompanha o cotidiano de Pedro (Shico Menegat), jovem tímido que se solta na internet ao protagonizar lives sensuais. As descobertas de Pedro e o nada amigável mundo que ele encontra pela frente dão a tônica do filme.





Reality show
Juntando realidade, emoção e muita diversão, a Netflix estreou neste mês a quinta temporada de Queer eye — sem contar a especial em que os Five Fabs foram para o Japão. A dinâmica continua a mesma: amigos e gays assumidos, Antoni Porowski, Tan France, Karamo Brown, Bobby Berk e Jonathan van Ness acompanham uma pessoa por alguns dias e transformam a vida dela no aspecto escolhido. Especialistas em gastronomia, moda, estilo de vida, decoração e cabelo e maquiagem, os rapazes vão fundo e, não raro, levam o participante e o espectador às lágrimas.

Um dos destaques desta temporada é a história de um pai de noiva que quer dançar a valsa com a filha e saber como suportar a falta que ela vai fazer em casa. A transformação nele vai muito além e até a sorrir ele reaprende. O episódio da pediatra que acaba de ser mãe e não consegue se dividir entre a maternidade e a vida profissional também é de arrepiar.

Engajados é o nome da série que o serviço de streaming Looke lançou este mês. A produção é francesa e traz a história de amor improvável de Hicham e Thibaut. Os dois jovens se conheceram em Lyon, onde o ativista Thibaut roubou um beijo do inexperiente Hicham. Só que, para Hicham, foi muito mais do que isso e ele foge de casa para procurar o novo amigo.

Nessa jornada, ele se descobre e ainda conhece um universo novo do qual ele passa a pertencer. A questão é que, aos poucos, ele vai vendo quem Thibaut realmente é.



“Ainda existe uma batalha para se colocar um beijo gay na televisão aberta”

O autor Felipe Cabral junta arte e ativismo pela causa LGBTQIA . Ele colaborou nas novelas Bom Sucesso e Totalmente demais (reprisada na faixa das 19h na Globo), sempre escrevendo para personagens gays, e também dá voz a Ferdinando, concierge vivido por Marcus Majella em Vai que cola.

Prestes a lançar o sexto curta-metragem e na labuta para escrever o primeiro romance, Felipe comemora alguns avanços na teledramaturgia, especialmente em séries da TV a cabo. Ele aponta que ainda há muito que se caminhar, especialmente na televisão aberta e deseja: “Já passou da hora de naturalizar as pessoas LGBTs e seus afetos na teledramaturgia brasileira.” A seguir você lê os principais trechos da entrevista com Felipe. Confira!





Entrevista // Felipe Cabral

O que sentiu quando soube da volta de Totalmente demais? O que essa novela representa na sua carreira?
Essa novela foi um divisor na minha carreira. Foi minha primeira novela como autor colaborador. Então, além de me ajudar a ter um salto financeiro, me deu uma projeção maior como roteirista no mercado. Saber da reprise no meio da pandemia foi uma alegria no meio de tanta tristeza. Está sendo uma delícia rever essa história e esses personagens sem a preocupação de alterar nada ou debater nada. Agora é só curtir.

Sente que Totalmente demais ainda está atual?
Sim e não. Acredito que ela aborda temas que ainda estão atuais, mas acho que, se ela fosse escrita agora, daríamos mais alguns passos à frente.

Em Bom Sucesso, você escreveu o primeiro beijo gay de uma trama das 19h. Incomoda o fato de esse beijo ser tratado como um “beijo gay” e não como um “beijo”?
Esse marco é mais do que especial pra mim. O que me incomodaria, mais do que ele ser tratado como “beijo gay” e não como um “beijo” seria não exibi-lo. Ainda existe uma batalha para se colocar um beijo gay no ar na televisão aberta. Não é tão simples como pode parecer. O que aconteceu, neste caso em específico, e que me deixou muito feliz foi que o beijo entre o William (Diego Montez) e o Pablo (Rafael Infante) não foi dado numa cena romântica e, sim, numa cena totalmente cotidiana. O William estava saindo de casa para trabalhar e precisava se despedir do namorado em cena. Quando fui escrever, me perguntei como ele se despediria do namorado. Só poderia ser um selinho, como qualquer casal faria. Assim, escrevi a cena, os autores curtiram, ela seguiu para a gravação e, depois, exibida. Nós não lidamos com aquele momento como uma grande cena de “beijo gay”. Era uma cena como qualquer outra, em que um casal se beijava. Foi isso que chamou atenção do público, a normatização do afeto entre aqueles personagens. Eu espero que esse caminho seja levado adiante. Não deveríamos ter que negociar tanto para inserir um beijo entre personagens LGBT nas novelas.

Tanto nas duas novelas como no Vai que cola você aborda a questão LGBTQIA , mas quase sempre com o humor prevalecendo — por mais que Max (Pablo Sanábio em Totalmente demais) tenha sofrido com homofobia. Acha que essa é uma maneira de chegar a um público maior?
Com certeza. Acredito muito na força do humor para comunicar com o público. Desde o começo da minha carreira como ator e, posteriormente, como roteirista, sempre tive facilidade com a comédia. Quando conseguimos fazer com que o público ria, se divirta, ele automaticamente fica mais receptivo, mais aberto para rir junto contigo. E é possível fazer do riso um meio de abordar qualquer assunto sério. Eu realmente acredito nisso.









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