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Exercícios com brincadeiras tornam as atividades físicas mais prazerosas

Unir atividades físicas com brincadeiras pode ajudar na qualidade de vida de adultos e crianças durante o isolamento

Correio Braziliense
postado em 07/07/2020 10:00
Como mora em um condomínio, Ludmila aproveita para passear de bicicleta com o filho, Enzo, na orla do lago

Crianças são, naturalmente, ativas, por isso, o período de isolamento tem sido um desafio não apenas para os pais como, sobretudo, para os pequenos, que acabam reféns dos produtos eletrônicos. Para evitar essa dependência, recorrer a brincadeiras e atividades que movam o corpo é uma alternativa para desestimular o sedentarismo.

Ao contrário dos adultos, crianças não se dão bem com exercícios padronizados e sistematizados, o ideal, para elas, é diversificar o máximo possível. “Enquanto os exercícios para adulto buscam equilíbrio de peso e definição, as atividades físicas com os pequenos devem ter como princípio desenvolver habilidades”, explica a personal trainer Luciana Gusmão.

Entre as mais comuns estão a sociabilização e o desenvolvimento do saber perder, ganhar, ceder e dividir. A liberação de hormônios do bem-estar, como a serotonina, também ocorre, e é primordial para a qualidade de vida das crianças durante o isolamento. “Esses neurotransmissores de prazer são fundamentais para que a criança tome gosto por aquela atividade. Por isso, é interessante que os pais observem o que faz sentido para a criança, para aumentar a chance de ela querer repetir um exercício físico proposto”, explica o psiquiatra Luan Diego Marques.

Segundo o especialista, as atividades também ajudam as crianças a se sentirem menos isoladas. Estímulos para movimentar o corpo e interagir como outra pessoa da família são, portanto, essenciais à saúde mental. “Esses momentos de exercícios em família ajudam a suprir a interação e o contato físico que as crianças estão acostumados a ter na escola, por exemplo. Elas também sentem falta disso e, muitas vezes, nem entendem por que não podem mais ver os amigos. Isso gera uma carga de estresse nelas.”

Para adaptar as crianças a uma rotina que inclua a atividade física, um pouco de criatividade pode ser a chave para simplificar o processo. Os movimentos devem ser estimulados com tarefas simples, como juntar e arrumar os brinquedos, ou com brincadeiras de infância, como pique-esconde, pula-elástico e jogar bola.

De acordo com a personal trainer Luciana Gusmão, mesmo que alguns pais tenham espaço limitado, é possível fazer um bom trabalho com um pouco de boa vontade e interesse no desenvolvimento dos filhos. “O resto é relembrar a própria infância. Não existe uma receita pronta, pois, leva-se em conta o tempo de cada um e as complexidades da vida dos pais. Façam com qualidade, e o pouco tempo que tiverem será útil para uma vida inteira da criança”, garante.

Na casa da advogada Ana Clara Herval de Castro, 28 anos, a busca por atividades que envolvessem o desenvolvimento motor veio quando ela percebeu que a filha, Iolanda Paiva de Castro Herval, 2, estava muito dependente de telas para se entreter. “Eu estava muito envolvida com meu trabalho e percebi que ela não desgrudava mais da televisão. Foi quando vi que precisava fazer adaptações.”

Pela idade da filha, as atividades que a advogada propõe são bem leves, mas eficientes o bastante para fazer com que ela se movimente. “Ela gosta muito de brincadeiras de pular e dançar, há também o balanço, que ela adora. Percebo que, quando as atividades envolvem atividade física, elas rendem mais do que quando faço atividades de coordenação e concentração”, diz.

Estímulo


Já no caso do pequeno Enzo Francisco Sá Teles Pires, 5, foi mais tranquilo adaptar os exercícios físicos para o contexto da pandemia, pois ele já era uma criança bem ativa e se envolvia em muitas atividades extracurriculares, que iam desde caminhadas a escaladas.

Apesar de não ter estabelecido uma rotina fixa, a mãe, Ludmila Sá Teles, optou por manter os horários de refeição e um período, ou de manhã ou à tarde, reservado à atividade física para que Enzo não sentisse tanto os efeitos do isolamento. Por morarem em um condomínio próximo ao Lago Paranoá, a família faz caminhadas pela orla e nada em dias quentes. No entanto, a atividade preferida de Enzo é andar de bicicleta. “Nós corremos, e ele pedala”, diz Ludmila.

Em dias que não consegue reservar um tempo para sair, Ludmila programa atividades que o filho possa fazer no jardim e também o libera para nadar na piscina da família. “Antes, ele fazia aulas de natação; com a pandemia, tivemos que dar uma pausa. Agora, estamos tentando retornar, sempre com a vigilância de um adulto”, aponta.

Mas não é sempre que Enzo está ativo, por isso, ainda há dias em que ele fica apenas em casa, vendo televisão e jogando víideogame. “Nos finais de semana, reservamos mais tempo para brincadeiras. Às vezes, alugo um brinquedo inflável para que ele gaste energia. Mas confesso que há dias em que é um desafio tirar ele da frente da tevê.”

Já no quesito alimentação, Ludmila conta que estar em isolamento ajudou a família a se alimentar melhor. “A vida deu uma desacelerada, então passamos a incluir no almoço mais verduras preparadas na hora, e reservamos mais tempo para saborear a refeição juntos. Enzo deu um salto na qualidade da alimentação dele.”

Apesar de as crianças serem menos afetadas pela covid-19, a nutricionista Nathália Bandeira ressalta que cuidar da alimentação dos menores ainda é importante. “É a nutrição adequada que modula o sistema imunológico; além disso, é um fator primordial para a manutenção do sono, que ajuda a manter o peso equilibrado”, aponta.

Para pais com mais dificuldade em regrar a alimentação dos filhos, a dica é fazer com que eles participem do processo e possam abrir o paladar experimentando novas frutas e legumes ao longo da semana. “A melhor forma de fazer isso é criando memória afetiva entre os filhos e a comida, envolvendo-os no preparo. Evitar processados também é válido e, para isso, a dica é comprar menos para que eles tenham menos esses produtos à disposição”, recomenda Nathália.

Para fazer em casa


Para quem gosta de unir atividade físicas à tecnologia, a treinadora Gabriela Cangussu junto com a Queima Diária – plataforma de exercícios físicos on-line – criaram o programa Divertindo as Crianças. As aulas são de sete a 10 minutos, divididas em duas séries com quatro exercícios de 40 segundos cada, para todos gastarem muita energia. “Enquanto os pequenos brincam, eles também melhoram a flexibilidade, a força e a coordenação motora”, conta a treinadora. Confira alguns exercícios:

Agachamento
  • Agache e levante com os pequenos por 40 segundos.

Pulo do sapo
  • Agache em posição de sapo e pule, quando subir, durante 40 segundos.

Morto ou vivo
  • Quando o adulto disser “morto!”, as crianças devem agachar. Quando o adulto disser “vivo!”, elas devem dar um pulinho e ficar de pé.

Estátua imitando um animal
  • As crianças devem se movimentar imitando um animal e, quando o adulto disser “estátua!”, elas devem parar na posição sem se mexer. 

*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte



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