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Durante isolamento, o tie dye volta com tudo e colore o guarda-roupa

O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário

Correio Braziliense
postado em 08/07/2020 09:00
A consultora de imagem Thais Parreira aderiu ao estilo tie dye e até se aventurou em fazer alguns modelos
O tie dye é, provavelmente, uma das tendências de moda que mais aparece no feed do seu Instagram neste momento. Diante da realidade atual, em que muitos estão isolados em casa, essa alternativa de tingir tecidos com cores vibrantes para renovar o astral da peça tem conquistado muita gente. Mas, afinal, o que é tie dye?

Thais Parreira, 33, consultora de imagem da equipe Resolva Meu Look, explica que essa é uma antiga técnica, de origem japonesa e tradicionalmente utilizada por várias culturas no mundo, especialmente asiáticas e africanas. “Teve seu ápice entre as décadas de 1960 e 1970, com adeptos do movimento hippie, que usavam roupas e cangas com a técnica em festivais musicais, como símbolo de liberdade e revolução social. Em meados da década de 1990, o tie dye foi resgatado pelos clubbers. A abundância de cores em uma só peça era ideal para representar o estilo de vida deles”, explica.

Segundo ela, no contexto atual, o tie dye ressurge como uma forte tendência por causa da necessidade de termos peças personalizadas e exclusivas, e também pelo fato de estarmos mais tempo em casa, onde o conforto nas roupas se torna prioridade — motivo pelo qual podemos perceber uma releitura da técnica em moletons.

Para Thais, toda cor transmite uma mensagem e tem um significado. Quando usamos roupas coloridas, passamos uma imagem de acessibilidade, alegria, vitalidade e energia. “Nós, seres humanos, somos muito sensíveis às cores e, ao tomarmos consciência disso, podemos usá-las a nosso favor para nos ajudar a transmitir determinadas mensagens e até para alterar nossos sentimentos e disposição.”

A consultora, inclusive, experimentou fazer seu próprio tie dye. Em sua página no Instagram (@thaisparreira.resolva), compartilhou um vídeo com o passo a passo da técnica que se caracteriza por jogar tinta na roupa com o auxílio de um pincel. Ela detalha que a “técnica do pincel” não pode ser considerada tie dye, pois não tem amarrações, mas achou bem divertida a experiência de fazer a própria arte. “Também fiz o modelo tradicional, no qual você enrola o tecido, amarra com liguinhas, dividindo os espaços, e depois vai colorindo com tinta acrílica para tecido diluída em um pouco d’água. Achei o resultado incrível, e já estou pensando qual próxima peça tingir.”

Sem regras


Pessoas predominantemente criativas, provavelmente, aderiram à tendência facilmente, mas não há regra. O tie dye pode ser inserido nos mais diversos estilos, uma vez que sua versatilidade permite levar mais cor a algumas peças ou menos a outras, e se encaixar em vários contextos.
Os modelos feitos por Fernanda Queiroz fizeram tanto sucesso que ela abriu uma lojinha no Instagram
A personal trainer Fernanda Queiroz, 35, conta que sempre gostou do estilo, mas não achava nenhuma peça que se sentisse atraída a comprar. “Como eu tinha algumas roupas que não usava mais e gostaria de dar uma nova vida a elas, comecei a pesquisar como fazer para desenvolver as peças exatamente como queria.”

Para ela, é uma forma de adicionar cor ao armário e uma oportunidade de dar uma nova cara para as roupas que estavam esquecidas, deixando o processo mais sustentável. “Muita gente tem o costume de usar sempre as mesmas cores. Eu mesma sou muito básica, uso muito branco, preto, cinza, jeans, e o tie dye traz uma explosão de cores. Isso leva mais alegria para os nossos dias.”

A personal trainer acredita que as peças supercoloridas se tornam únicas, mas também vê charme nas manchadas apenas com cores neutras. Para ela, a técnica de tingimento é legal justamente por conseguir criar de peças básicas a ultracoloridas. Fernanda costuma usar as peças tingidas com calças e short jeans, principalmente com modelos rasgados e desfiados, ou compor um look todo tie dye. “Faço conjuntos que não sejam dos mesmos tons. Também gosto de usar canga ou saída de praia tie dye com biquíni, acho que fica bem verão.”

A paixão de Fernanda pela tendência a levou até a abrir uma lojinha no Instagram (@lojinhafequeiroz), em que vende roupas de produção artesanal. Tudo começou quando ela, que também é influenciadora digital da área fitness, passou a compartilhar as roupas que tingia no perfil pessoal e começou a receber solicitações dos seguidores.

A personal começou ensinando as pessoas a fazerem o próprio tie dye, mas elas reclamavam que nem sempre ficava como queriam. “Os seguidores diziam que queriam peças parecidas com as minhas. Como não dava conta de fazer para todos que me pediam, resolvi criar umas peças e colocar na lojinha”, explica. Entre os modelos estão shorts, camisetas, camisetão de manga longa, moletons e algumas peças únicas, como o macaquinho e uma camisa jeans que tinha no acervo. Todos tingidos em tie dye, claro.

A voz da experiência

Desde a década de 1970, as peças em tie dye de Diana Diano fazem sucesso na feirinha da Torre de TV
Engana-se quem acredita que o tie dye é uma modinha. A artesã Diana Diano carrega experiência com a técnica de tingimento desde a década de 1970, quando começou a confeccionar peças e comercializá-las na Feira de Artesanato da Torre de TV de Brasília.

Tudo começou com seu pai, que era tintureiro em São Paulo e veio com a família para a construção de Brasília, na década de 1960. “Como a tinturaria não seria o ramo dele aqui, resolvi fazer o contrário. Ele recuperava roupas, e eu decidi manchar roupas e pintá-las da cor da vida”, detalha Diana.

Ao lado da filha Vera Veronika, artesã, professora e cantora de rap, ela permanece criando e vendendo suas roupas únicas no mesmo local até hoje. A família, inclusive, é o maior propósito da confecção. “Tenho outra filha, que é publicitária, e mantenho um orfanato para crianças abandonadas. O Recanto da Paz é uma casa abrigo sem vínculo governamental. Então, todas as roupas que produzimos é para criar nossas crianças.”

Para produzir as peças – femininas, masculinas e agênero –, ela pesquisa tendências, desenha os modelos e usa técnicas de tie dye, tingimento e descoloração para pintura. O cliente pode, ainda, entregar sua peça para customização.

Com a grande experiência vêm os aprendizados. “Antes, a gente tingia um pedaço de tecido e acabava indo muito retalho embora ou ficava com duas roupas no mesmo tom. Hoje, as roupas são costuradas primeiro e tingidas depois. Fazemos peças exclusivas, cada uma com um tingimento diferente, mantemos a exclusividade na cor.”

Outro diferencial da marca são os tamanhos. “Fabricamos até o número 70, mas, se precisar, fazemos maior. Além do tie dye, trabalhamos com patchwork, técnica chamada antigamente de retalhos, e tingimos o patchwork também”, relata. As artesãs produzem, ainda, turbantes, colares, brincos e pulseiras com materiais naturais, que combinem com as roupas confeccionadas e valorizem a cultura afro-brasileira.
Angélica, filha de Diana, com uma das peças criadas pela artesã
Elas voltarão a expor suas criações cheias de tie dyes coloridos quando a feira retomar o funcionamento. Enquanto isso, estão frequentemente atualizando o Instagram (@dianaarteemroupas) da marca e construindo o site da Diana Artes em Roupas, que, em breve, também estará no ar.

Orgulho LGBTQIA%2b


A Dane-se (@usedane_se) lançou, em junho, uma coleção sobre o orgulho LGBTQIA . Segundo o sócio criador da marca, Daniel Moreira, 32, a PRIDE traz roupas inspiradas nas cores do arco-íris e na bandeira do movimento. E a cada peça vendida são doados R$ 10,00 para o Centro LGBTS de Brasília (@centrolgbts).  “O público LGBTQIA abraçou a Dane-se desde o começo. Somos gratos e vamos, todos os anos, usar esse mês como momento de enaltecer, divulgar, defender e ajudar da maneira que for possível.”
O modelo e responsável pelas fotos da coleção é Henrique Almeida (@henriquealmeida), fotógrafo, designer gráfico e criador de filtros
O modelo e responsável pelas fotos da coleção é Henrique Almeida (@henriquealmeida), fotógrafo, designer gráfico e criador de filtros. 

“Com esse lance da pandemia e do distanciamento social, escolhemos a dedo uma pessoa que conseguisse fotografar e imprimir esse movimento da causa. Henrique é um menino lindo e participativo, está com um perfil no Instagram superlegal e tem marcado sua posição no mundo digital.”

Uma das camisetas dessa coleção cápsula traz a estampa tie dye, feita artesanalmente por Daniel. Para ele, as tendências são interessantes para quebrar as barreiras e colocar à prova a opinião das pessoas. “É o tal do dane-se, é cool agora, vou usar isso.”
 

Negócio entre irmãs


As irmãs Thais Castro Alves, 30, administradora, e Virgínia Castro Alves, 22, estudante de arquitetura e urbanismo, também começaram a confeccionar peças em tie dye graças à herança familiar. “Minha mãe faz trabalhos manuais de todos os tipos. Minha avó passou isso para ela e, agora, ela passa para nós. Ela já tinha feito muito tie dye quando era da minha idade. Já eu e minha irmã tivemos o primeiro contato agora, com a Tela”, explica Virgínia.
As irmã Thais e Virgínia Castro Alves, criadoras da marca Tela
A marca Tela (@_____tela) surgiu em novembro de 2019 como fonte de renda extra para o casamento de Thais. A ideia era criar um espaço digital e produzir peças de processo artesanal que fossem atuais e fizessem sentido com o estilo das duas. Neste momento, estão dedicadas ao tie dye, e criam camisetas e conjuntos de moletom. “Vemos a volta do tie dye como parte de um movimento muito maior de valorização do artesanal, de apoio a pequenos negócios e à disseminação de tendências por canais digitais – o que faz todo sentido no contexto que estamos inseridas, conversando diretamente com nosso estilo pessoal”, afirma a administradora.

A produção leva, em média, três dias, desde a preparação da peça branca até a secagem completa da tinta. A dupla usa diferentes técnicas, de acordo com o tecido e a padronagem que querem criar. As irmãs costumam sempre fazer testes e adaptações para alçar o resultado desejado, que pode ser impactado por vários fatores, como clima e absorção da tinta. “Por isso, estamos sempre fazendo testes e adaptando a técnica”, explica Thais. Para Virgínia, o tie dye pode até parecer simples no estilo “faça você mesmo”, mas a venda requer uma padronização mínima dos produtos, que não é tão fácil de se obter.

A procura por peças tie dye, garantem, está em alta, e, em média, 70% das vendas da marca são para o público brasiliense. Um dos motivos, acreditam, é que a cidade, muitas vezes, tem temperaturas de verão e inverno no mesmo dia. “Os moletons quentinhos, confortáveis e coloridos poderão ser usados até mesmo depois da estação mais fria.”

DIY para criança

Bruna Garcia Demczuk, fonte de inspiração da mãe
Crianças e adolescentes também parecem gostar da ideia de colorir e customizar a própria roupa, desfilar peças feitas por eles mesmos e exercitar a criatividade em uma atividade divertida. Para a advogada e empresária Iza Garcia, 39, essa é, inclusive, uma oportunidade de exercício. “Durante o processo de tingimento artesanal, as crianças praticam a atenção plena, ou mindfulness — um estado mental que se caracteriza pela autorregulação da atenção para a experiência presente, numa atitude aberta, de curiosidade, ampla e tolerante, dirigida a todos os fenômenos que se manifestam na mente consciente.”

Fundadora da Bela Mini (@belamini.vestidoteca), confecção brasiliense que oferece roupas artesanais para mães, filhos, bonecas e até pets se vestirem iguais, ela criou um kit de DIY (do it yourself, ou faça você mesmo, em livre tradução) para os pequenos criarem seu look tie dye. “O ateliê foi projetado para receber as crianças. Na quarentena, decidimos criar os kits DIY para que elas pudessem fazer a experiência na segurança de suas casas”, explica.

As peças disponíveis para tingimento são t-shirts, regatas com nó, legging e short-saias, que vêm acompanhadas de tintas, aplicadores, elásticos e itens de segurança, como luvas e aventais. Iza conta que fez diversos testes até chegar ao kit perfeito para o público infantil. “Escolhemos a tinta atóxica, fizemos um manual de orientações bem didático e já entregamos a tinta na diluição certa para evitar erros nesse processo.” 

Fonte de inspiração para Iza fundar a loja, Bruna Garcia Demczuk, 9, filha da empresária, ama tudo o que é colorido. Recentemente, elas se divertiram pintando roupas e fazendo novas misturas de cores. “Como o processo tem etapas, passamos muito tempo juntas. Ela escolheu as cores e fizemos a técnica tradicional espiral, a mais fácil para crianças. Ela amou o resultado e ficou orgulhosa de ter feito a própria roupa. A brincadeira é tão divertida que, depois do look, tingiu panos de prato, roupas de boneca, máscara e até a fronha do travesseiro.” 

A advogada vê a tendência como um lindo trabalho artístico e uma forma de reduzir, reciclar e reutilizar, uma vez que permite que peças sejam renovadas. “Gostamos de afirmar que não há dias cinzentos para quem sonha colorido.”

Para se inspirar

A consultora de imagem Thais Parreira comentou os looks de alguns artistas e influenciadores.


Caio Caramaschi, influenciador digital
Esse modelo de tie dye é bem versátil. Por ter apenas duas cores neutras, fica fácil de combinar com outras peças e pode ser usado, inclusive, para fazer um mix de estampas. Com a bermuda jeans, o look passa uma mensagem mais “informal”.
O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário

Lellê, cantora e atriz
O conjunto tie dye em um tecido mais refinado, combinado com um sapato de salto alto, deixa o look elegante. O legal do conjunto é que, depois, você pode usar as peças separadamente, multiplicando as possibilidades.
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Preta Gil, cantora
Temos visto muito o conjunto de moletom com tie dye. É um look casual, ótimo para ficar em casa nos dias mais friozinhos ou em momentos que não nos exigem formalidade.
O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário

D Lex, DJ
Uma peça colorida, como essa t-shirt, deixa o look mais divertido. Uma dica é combinar com a parte de baixo neutra. Se a intenção for deixar o visual mais elegante, é possível usar com uma peça social, como uma calça de alfaiataria, ou até colocar um blazer como terceira peça.
O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário

Preston Konrad, diretor-criativo norte-americano 
O tie-dye não precisa necessariamente ser na camiseta. Nesse caso, foi usado no casaco, com um tecido mais encorpado. Essa é uma ótima opção pra quem quer aderir à tendência passando uma mensagem um pouco menos informal.
O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário

Ingrid Guimarães, atriz e apresentadora
Para quem quer investir em uma peça tie-dye, mas não sabe qual, o quimono é uma boa opção, pois pode ser usado em diferentes ocasiões, como saída de praia, terceira peça para incrementar um look básico, ou até nos dias mais friozinhos, trocando apenas os acessórios.
 O isolamento social fez ressurgir uma antiga técnica de tingimento de roupas. Com mais tempo em casa, muita gente tem aderido ao tie dye e aproveitado para reciclar peças que estavam no fundo do armário
 
 
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

 

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