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Mulher de sucesso: entrevista com Sandra Costa, sócia do Grupo Sabin

Empresária conta como tem enfrentado os desafios com a pandemia e por que a empresa que comanda é exemplo de igualdade racial e de gênero

Correio Braziliense
postado em 12/07/2020 11:57

Ela é uma das mulheres mais influentes do Brasil, segundo a revista Forbes. Recebeu o título por dois anos seguidos, em 2016 e em 2017. Sócia-fundadora do Sabin e presidente do Conselho de Administração do Grupo de mesmo nome, a mineira Sandra Soares Costa comanda a empresa com a sócia, Janete Vaz, e, juntas, colecionam prêmios pela qualidade do serviço e pela cultura de empoderamento feminino.

Bioquímica, mestre em ciências médicas pela Universidade de Brasília (UnB), com diversos cursos de administração e gestão de negócios, Sandra também é casada, mãe de três filhos e empresária — a prova viva de que as mulheres podem conquistar seu lugar no mercado. Ela admite, porém, que, infelizmente, o esforço ainda precisa ser maior, pois as mulheres enfrentam mais barreiras para o sucesso.

Em junho deste ano, o Sabin foi destaque no ranking da Great Place to Work® (GTPW) Brasil por suas práticas étnico-raciais. Pelo quarto ano consecutivo, o grupo figurou, também, entre as melhores empresas para a mulher trabalhar. E foi eleita a empresa do ano pelo Guia Exame da Diversidade.

Como a medicina diagnóstica tem um papel importante no contexto de uma pandemia, 2020 tem sido um ano de desafios. É um momento de crise, que, segundo a empresária, exige agilidade dos administradores, adaptações constantes e planejamento de curto e longo prazos.


O que tem sido mais desafiador para vocês, do Sabin, nesta pandemia?
Desde do início dos primeiros casos identificados no mundo, o Grupo Sabin adotou procedimentos preventivos para contribuir com o controle e evitar a disseminação do novo coronavírus. Instalou um comitê de crise multidisciplinar para análise e implantação das ações de enfrentamento à covid-19 na empresa. Além de acompanhar todos os reports da Organização Mundial da Saúde acerca da pandemia, bem como estatísticas de todo o Brasil. A equipe também é responsável pela análise de impactos e riscos, bem como ações de contingência e adaptação de processos e também pela implantação das ações estratégicas de transformação pós-crise. Os investimentos contínuos em inovação e no conhecimento, bem como na capacitação das pessoas, também permitiram a pesquisa e o desenvolvimento in house do exame de detecção da covid-19, o teste molecular RT PCR. Ao longo dos meses, nosso time aumentou a capacidade produtiva para conseguir a ampliação do exame para a população, alcançando mais de 200 mil exames realizados em todo o Brasil, entre testes moleculares e sorológicos. Mesmo diante dos desafios de abastecimento e insumos, nosso grupo foi um dos poucos do Brasil que mantiveram o atendimento ininterrupto para a população.

Quais situações relacionadas à pandemia foram mais complicadas até então?
O momento tem exigido de toda a empresa agilidade para buscar inovação, corrigir rotas para seguir um plano de curto e médio prazos, garantindo, assim, a entrega de valor para todos os parceiros. Vivemos nosso propósito plenamente – inspirar pessoas a cuidar de pessoas, e estamos entregando, com a dedicação de nossa equipe, serviços de saúde de excelência. Diante de uma crise sem precedentes, seguimos engajando parcerias, fomentando projetos, desenhando campanhas e contribuindo para o desenvolvimento do ecossistema de inovação social, a partir de estudos para a compreensão dos principais reflexos da pandemia e para a promoção de respostas positivas em favor da sociedade. Mesmo diante das adversidades, a 111ª Ludoteca foi inaugurada, em Campinas; 97 organizações sociais foram assistidas; e quase 4 mil exames fornecidos, gratuitamente, à sociedade.

Vocês receberam prêmios tanto pelas práticas étnico-raciais dentro da empresa quanto por ser uma das melhores empresas para as mulheres trabalharem. O que significa, para vocês, receber prêmios como esses todos os anos?
O Sabin é uma empresa de alma feminina. Eu e minha sócia, Janete Vaz, sempre buscamos que nossas colaboradoras encontrassem essa sintonia com os valores e princípios e que sejam engajadas a trilharem seus caminhos rumo ao desenvolvimento pleno. Aqui, elas têm voz e se tornam protagonistas de suas histórias. Recém-eleita Empresa do Ano, pelo Guia Exame da Diversidade, hoje, contamos com mais de 5.400 colaboradores, e apostamos na diversidade das equipes para promover a inclusão e fomentar o encontro de diferentes visões e ideias inovadoras. Fomos destaque no ranking da Great Place to Work® Brasil, o GPTW For All 2020, pelas nossas práticas étnico-raciais. Celebramos diariamente a cultura de diversidade e inclusão do grupo, e isso também permitiu que conquistássemos lugar de destaque nos últimos rankings divulgados pela GPWT como a Melhor Empresas para a Mulher Trabalhar. O Brasil é um país tão diverso e aqui, no Sabin, não teria como ser diferente. São 36 anos de trajetória marcada por conquistas, e elas são resultados do trabalho feito por muitas mãos, que, juntas, superam desafios e unem forças para seguirmos oferecendo serviços de excelência.

A senhora diria que precisou, em alguns momentos, batalhar em culturas empresariais machistas? 
As mulheres têm provado sua capacidade por meio de muito esforço e dedicação. Mas, ainda há barreiras a serem vencidas, como o preconceito e a violência. Essas previsões refletem o status atual e servem para incentivar ações e políticas públicas para reduzir a discriminação contra a mulher. Quando fundamos o Sabin, muitas vezes, as pessoas comentavam que gostariam de conhecer os donos e, quando ficavam sabendo que duas mulheres haviam fundado a empresa, se surpreendiam. Naquela época, não era comum que as mulheres se destacassem como empreendedoras. Conseguimos, com qualidade, inovação e dedicação, conquistar nosso espaço e mostrar a capacidade das mulheres de fundar e gerir empresas. Essa é uma das razões de não só levantarmos a bandeira do protagonismo feminino, inspirando outras mulheres, mas, também, realizando investimentos em programas como o da Women Entrepreneurship (WE), projeto que inspira o empreendedorismo feminino no país. Nesse projeto, estamos apoiando empreendedoras com negócios de base tecnológica na vertical Internet das Coisas (IoT), Saúde e Energia, apostando em soluções inovadoras para democratizar o acesso à saúde de qualidade e entregar valor à população – recentemente, como fundadoras do Fundo Dona de Mim, microcrédito para Mulheres Empreendedoras Individuais, pelo Grupo Mulheres do Brasil.

Em uma sociedade que ainda engatinha em políticas públicas e particulares de igualdade entre homens e mulheres e também nas questões raciais, como vocês decidiram priorizar essas ideias tão progressistas?
Compreendemos que ambientes diversos de trabalho são bons para a empresa e para a sociedade. Quando todos têm oportunidades de trabalho iguais, crescemos como comunidade. Para nós, desde o princípio, foi importante que o Sabin oferecesse programas de gestão de pessoas direcionados para um ambiente de trabalho humanizado e inclusivo. Políticas de diversidade bem definidas conseguem trazer mais desenvolvimento e superação de desafios para o mercado. No cenário pós-pandemia, as empresas que tiverem o tripé transformação digital, inclusão e diversidade e sustentabilidade vão conseguir se destacar.

Um estudo australiano, baseado em dados enviados por seis anos à Agência Federal de Equidade de Gênero do país, chegou à conclusão de que empresas com mais mulheres em cargos de liderança performam melhor. A senhora acredita nisso? 
O sexo feminino tem características muito próprias que, se a mulher souber usar, contribuem para conseguir se destacar no mercado de trabalho: sensibilidade e visão sistêmica. A mulher tem capacidade de enxergar o todo. Nós nos preocupamos com a qualidade de vida dos colaboradores e dos clientes, pois as mulheres possuem uma forma diferente de liderar, com mais atenção e cuidado. Além disso, a mulher tem mais facilidade para incentivar o bom relacionamento, pela sua capacidade de comunicação, paciência e resiliência, aumentando, assim, a confiança e o comprometimento com propósito e estratégia empresarial. Dessa forma, elas praticam uma liderança mais compreensiva, que cobra resultados, mas observa de perto sua equipe, extraindo o melhor de cada um. Apesar disso, o gênero não é o principal. O respeito por todos faz parte da essência da empresa. Compreendemos que o acolhimento é primordial para que todos se sintam à vontade dentro do ambiente de trabalho. Valorizamos os talentos e o potencial de nossos colaboradores, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, deficiências e idades.

Muita gente alega que as mulheres têm dificuldade de conciliar a vida profissional e a maternidade. A senhora acredita nisso?
O caminho é difícil para ambos os sexos. Culturalmente, a mulher ainda enfrenta mais preconceitos e tem uma responsabilidade maior na criação dos filhos do que os homens. Mas, o cenário está mudando. E as mulheres é que precisam assumir as rédeas dessa mudança. No Sabin, 77% do quadro de colaboradores são mulheres e 74% dos cargos de liderança são comandados por mulheres. Esses números mostram que elas não precisam ter receio de escolher entre uma promoção ou engravidar. É possível fazer as duas coisas. Procuramos incentivar os nossos colaboradores a não abrirem mão dos seus planos pessoais. É possível dar atenção à família e também ser um bom profissional. O segredo é o equilíbrio.

Como foi para a senhora conquistar tudo que conquistou e ainda ser mãe de três?
Quando o Sabin estava começando, não podíamos abdicar de nossos empregos e tivemos que buscar conciliar todos os nossos papéis. Hoje, o Sabin é nosso legado para a saúde, para o desenvolvimento econômico das comunidades em que atuamos, para os colaboradores e para nossa família. Construímos um modelo de empresa que cresce junto com os clientes e toda a cadeia produtiva. Poder impactar positivamente tantas pessoas e famílias também nos traz uma responsabilidade grande, mas, ao mesmo tempo, nos dá alegria por fazermos a diferença em tantas vidas. Sou realizada profissional e pessoalmente. Além disso, participo de grupos que apoiam causas empresariais e sociais, em comitês e conselhos, com objetivo de compartilhar experiências, conhecimento e práticas. Meu legado também é desenvolver e formar bons herdeiros e conselheiros para que nosso sonho se perpetue.


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