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O ser humano é otimista por natureza

O maior estudo realizado sobre o tema acaba de ser publicado pelo Journal of Research in Personality, e envolveu 75 mil pessoas, com idades entre 16 e 101 anos, de vários países

Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 17:59

O maior estudo realizado sobre o tema acaba de ser publicado pelo Journal of Research in Personality, e envolveu 75 mil pessoas, com idades entre 16 e 101 anos, de vários países 

Não só o povo brasileiro, mas toda a raça humana é otimista. Essa é a conclusão de uma série de pesquisas que aponta que cerca de 80% das pessoas superestimam as chances de eventos positivos quando têm que predizer o futuro. Esse é um fenômeno inerente da natureza humana e é observado independentemente do gênero, da raça, da idade e da nacionalidade. Mesmo os experts são otimistas quando analisam prognósticos em suas áreas.

O maior estudo realizado sobre o tema acaba de ser publicado pelo Journal of Research in Personality envolvendo 75 mil pessoas, com idades entre 16 e 101 anos, incluindo americanos, alemães e holandeses. Esse grande estudo mostrou que, em todas as fases da vida, as pessoas têm forte tendência ao otimismo, independentemente de eventos negativos marcantes como viuvez, perda do emprego ou problema grave de saúde. O otimismo é menor entre os idosos, mas nem tanto, e muito associado a problemas de saúde.  

Pensamos que vamos viver acima da expectativa de vida do brasileiro, que teremos muito sucesso na carreira, quando completamos um curso de formação, e que nossos filhos serão brilhantes. Também costumamos subestimar as chances de eventos negativos, pois achamos que essas coisas só acontecem com os outros. Temos a tendência de incorporar ao nosso repertório as notícias que são ainda melhores que a nossa expectativa inicial. O contrário não acontece. Quando temos contato com previsões piores que nossa ideia inicial, não damos muita bola. A posição otimista é resistente a mudanças.

Pesquisas também mostram que as pessoas com quadros depressivos são as únicas que não apresentam essa expectativa otimista superestimada do futuro. Aqueles com um quadro de depressão leve não apresentam expectativas desviadas nem para o lado positivo nem para o negativo. Já aqueles com depressão grave enxergam o futuro de uma forma negativa exagerada.

Os cientistas já localizaram as regiões do cérebro que orquestram esse otimismo. Quanto mais otimista for uma pessoa, menos importância seu lobo frontal direito (giro frontal inferior) dará para expectativas ruins. É como se a censura ficasse adormecida. Quando a previsão é ainda melhor do que o esperado, os lobos pré-frontais são ativados de forma similar. Além disso, quando pensamos no futuro com otimismo, duas regiões envolvidas no controle das emoções são ativadas (amígdala e giro do cíngulo anterior rostral), as mesmas regiões disfuncionais em indivíduos deprimidos.

Mas, afinal, esse otimismo é um aliado de nossa saúde? Na maior parte das vezes, sim. Os otimistas têm maior longevidade e melhores marcadores de saúde. Apresentam menores índices de doença cardiovascular, doenças infecciosas, ansiedade e depressão, e vivem mais. Além disso, já foi demonstrado que pessoas mais otimistas têm maior tendência a assumir hábitos de vida saudáveis. Por outro lado, aqueles com excesso de otimismo podem ter uma saúde mais vulnerável, pois têm tendência a assumir comportamentos de risco.

E por que o ser humano é tão otimista? Uma explicação bem interessante é a de que, ao adquirirmos a consciência sobre o futuro, passamos a conviver de forma mais intensa com a ideia de nossa finitude e nossas fragilidades. Ilusões otimistas criam um equilíbrio para que toda essa nossa consciência não atrapalhe a dinâmica da vida.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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