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Em busca da vocação: alagoana troca carreira no direito pela gastronomia

Patrícia Leal seguiu a inspiração da avó Creuza e da babá Dida e se especializou na arte de cozinhar bem

Correio Braziliense
postado em 20/07/2020 12:10
Patrícia Leal seguiu a inspiração da avó Creuza e da babá Dida e se especializou na arte de cozinhar bem
Na casa de Patrícia Leal, assuntos jurídicos sempre fizeram parte das conversas quando a família se reunia. Filha de um advogado e de uma procuradora, a alagoana parecia predestina a trilhar a mesma carreira dos pais. Ela até tentou seguir a lógica: cursou direito, fez estágio no escritório do patriarca, mas, quando se preparava para fazer a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), percebeu que não seria feliz na profissão.

Assim que se formou, Patrícia passou uma temporada em São Paulo. “Quando voltei para Maceió, estava angustiada, pois não era aquilo que eu queria. Conversei com o meu pai e procurei uma psicóloga. A terapia me ajudou a enxergar que o meu destino era mesmo a gastronomia”, resume.

A paixão pelas panelas não era exatamente uma novidade. “Minha relação com a comida sempre foi afetiva. Remete às lembranças da minha avó Creuza. Quando ninguém produzia esses bolos artísticos, ela já fazia. Também preparava doces, queijos, tudo com muito esmero”, recorda-se. Patrícia lembra que adorava observar a matriarca na cozinha. “Como era muito pequena, ela não me deixava mexer com fogo, mas eu sempre ajudava a arrumar a mesa. E isso de servir as refeições com capricho é algo que me acompanha até hoje. O amor não está só em cozinhar, mas em servir alguém.”

A alagoana cita, ainda, outra grande referência gastronômica: a sua babá, Eurídes. “Como minha mãe trabalhava muito, eu passava muito tempo com a Dida. Ela mal sabia ler e escrever, mas tinha o dom para a comida.” Foi com ela que Patrícia aprendeu o básico da cozinha. “Preparávamos feijão, carne assada, pão, biscoito... Assistíamos aos programas de gastronomia, eu anotava tudo e a gente reproduzia.”

Com essa bagagem, Patrícia passou a ser a cozinheira oficial nos encontros com os amigos. Tudo por pura diversão. Quando decidiu transformar a gastronomia em profissão, porém, viu que precisava se especializar. Só que em Maceió, na época, não existia faculdade na área. Como tinha uma tia morando em Brasília, decidiu se mudar para a capital e se inscrever no recém-inaugurado curso do Iesb.

Profissionalização
Logo nas primeiras aulas, percebeu que a decisão tinha sido acertada. “Deixei tudo para trás e comecei do zero. Foi a melhor coisa que fiz na vida. Quando a gente faz o que ama, é feliz”, atesta. Recém-formada, em 2010, Patrícia foi a São Paulo com o pai, e os dois jantaram no badalado Dui, restaurante da chef Bel Coelho, que fechou as portas em 2017. “Pedi para falar com a chef, para agradecer a maravilhosa refeição. Disse que tinha acabado de me formar em gastronomia e ela me ofereceu um estágio.” Patrícia nem pensou duas vezes em aceitar a oferta.

Depois de seis meses de intenso aprendizado, a alagoana voltou para Brasília. Foi quando um antigo professor indicou o nome dela para chefiar a cozinha do café que estava prestes a abrir no Hospital Santa Lúcia. Patrícia topou o desafio. Paralelamente, passou a fazer consultoria para restaurantes e cafés da cidade.

Há menos de dois anos, os proprietários do café onde trabalha arrendaram o restaurante do Itamaraty. E Patrícia também ficou responsável pela cozinha de lá. Com tanto trabalho, ela ainda encontrou tempo para desenvolver o serviço de que mais gosta: o de personal chef. “É quando eu fico mais livre para criar.”

A chef prepara tanto jantares ou almoços tradicionais quanto menus degustação em cinco etapas. Serve de um casal a até 70 pessoas. Tudo com cardápio personalizado, de acordo com o gosto e o bolso do cliente. “Antes, discutimos o que será servido, eu faço as compras e vou com minha equipe até o local, onde cozinho e fico até o fim do evento.”

Patrícia também lançou, ao lado da amiga Lara Torres, da Wine Consulting, dois outros serviços: o workshop enogastronômico e a confraria masculina. O primeiro ocorre uma vez por mês, quando um grupo de mulheres se reúne para executar, com os ensinamentos da chef, cinco receitas, devidamente harmonizadas com vinhos, sob a consultoria de Lara. O segundo trata-se de um menu degustação, também com harmonização, apenas para homens.

Tudo ia a pleno vapor quando, de repente, veio a pandemia. “Eu fiquei em choque. De repente, não podia ir mais ao café nem ao restaurante nem, muito menos, à casa dos clientes.” Depois do impacto inicial, Patrícia percebeu que precisava se reinventar. “Nunca fiz pratos para, simplesmente, vender. Eu vendo um serviço, uma experiência gastronômica. Não podia fugir da minha identidade.”

Foi quando surgiu a ideia de lançar, semanalmente, um menu especial para o jantar, que pode, ou não, ser harmonizado com vinho. Patrícia lança as duas opções de prato nas redes sociais com antecedência e recebe, até a quinta-feira, o pedido, que será entregue, com todo o capricho de que ela não abre mão, na casa do cliente na sexta-feira.

E o retorno não podia ser melhor. “Tem cliente que arruma a mesa e fica à espera do jantar, que não deixa a desejar a nenhum excelente restaurante.” O menu nunca se repete. “Fico realizada em saber que estou levando um pouco de alegria à casa das pessoas neste momento tão difícil.”



Filé de Saint Peter ao creme de espinafre acompanhado de batatas rústicas

Filé de Saint Peter
Ingredientes
* 1 filé de Saint Peter grande e limpo
* Pimenta-branca a gosto
* 1/2 dente de alho ralado
* ½ colher de café de tomilho
* 1 colher de sobremesa de manteiga
* 1 colher de sobremesa de azeite

Modo de preparar
* Tempere o filé de saint Peter com o alho, o tomilho e a pimenta-branca. Em uma frigideira aquecida, coloque a manteiga e o azeite e acrescente o filé e sal a gosto. Deixe grelhar de um lado e, em seguida, vire e grelhe do outro lado. Reserve.

Creme de espinafre
Ingredientes 
* 1 e ½ xícara de folhas de espinafre cortadas em tirinhas
* 1/2 dente de alho ralado
* 1 colher de sopa cheia de cebola picadinha
* 1/3 de xícara de vinho branco seco
* 150ml de creme de leite fresco
* 1 colher de café de amido de milho
* 1/2 colher de sobremesa de manteiga
* 1 colher de sobremesa de azeite
* Pimenta-branca e sal a gosto

Modo de preparar
* Em uma panela aquecida, coloque a manteiga e o azeite e, em seguida, a cebola e o alho. Refogue rapidamente e acrescente as folhas de espinafre cortadas em tirinhas até elas murcharem. Acrescente o vinho branco. Quando ele evaporar, acrescente o creme de leite fresco, a pimenta-branca, o sal e o amido de milho. Feito isso, deixe dar uma fervida até o creme dar uma engrossada. Reserve.

Batatas rústicas 
Ingredientes 
* 1 batata-inglesa cortada em 4
* 1 ramo de alecrim
* Sal e pimenta-do-reino a gosto
* Óleo quanto baste para fritar

Modo de preparar
* Cozinhe as batatas no vapor sem deixá-las muito mole. Coloque o óleo numa panela junto com o ramo de alecrim – ele perfumará e dará sabor enquanto frita. Quando as batatas saírem da fritura, tempere com sal e pimenta.

Finalização
* Em um prato, coloque o filé de saint Peter, o creme de espinafre por cima e as batatas rústicas ao lado. Depois, é só aproveitar!

Serviço
Instragram: @chefpatricialeal





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