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Sozinhos novamente: o retorno dos pets à antiga rotina

Com a volta gradual dos tutores à normalidade, animais de estimação também precisam se reacostumar com a rotina de antes da pandemia, o que inclui ficar mais tempo sozinhos

Correio Braziliense
postado em 20/07/2020 12:41
Durante a quarentena,  Natália Cabral e Renan Abrantes decidiram adotar dois cachorrinhos:  Shoyu e Bacon fazem companhia um ao outro

Se teve quem gostou do período de isolamento e do home office, foram os bichos de estimação. Acostumados a serem deixados sozinhos, enquanto os tutores saíam para trabalhar, de repente, passaram a ter companhia 24 horas por dia. Ganharam todos: os pets, pela alegria de ter atenção o tempo todo, e os donos – principalmente os que moram sozinhos –, pela distração a mais em casa. E até uma desculpa para dar uma volta pela quadra.

Embora muitos prevejam que o modelo de home office veio para ficar, não deve se aplicar a todos. Aos poucos, a vida vai voltando ao normal, e muitas pessoas estão, gradativamente, retornando aos escritórios. Os pets também retomam a rotina de ficar longos períodos sozinhos no lar. De acordo com a médica veterinária da Purina, Luciana Pellegrino, é preciso readaptar tanto animais quanto tutores. “Já precisamos começar a (re)acostumar os pets à velha rotina de ficarem mais tempo longe de nós.”

Para a veterinária Amanda Peres, da DogHero, a mudança brusca pode resultar em diversos problemas comportamentais e até de saúde, mas isso varia de animal para animal. Geralmente, segundo a especialista, eles apresentam um transtorno chamado ansiedade de separação.

Os sinais mais comuns são: inquietude (andam de um lado para o outro); vocalização (tendem a ficar latindo ou uivando incessantemente); comportamento sombra (segue o tutor por toda a casa); contato físico constante (fica pedindo colo o tempo todo ou quer deitar sempre próximo ao tutor); comportamento destrutivo (liberam toda a frustração de estarem sozinhos nos objetos da casa); fazer necessidades fora do lugar; falta de apetite e até mesmo depressão.

Adoção

A arquiteta Natália Cabral, 32 anos, e o servidor público Renan Abrantes, 32, tinham um cachorro, o Pepe, que morreu em 2018. Ficou o luto misturado com a vontade de ter outro amigo. Superada a dor da perda e trabalhando de casa por conta da pandemia, decidiram que este era o momento. “A gente se preocupava em deixá-lo sozinho. Veio a quarentena e pensamos: estamos em casa o tempo todo, mais do que nunca. Antes, era pra lá e pra cá. Agora, temos tempo para ficar junto e educar”, explica Natália.

A princípio, a ideia era adotar. Havia até dois que só poderiam ser levados juntos. “Achei muita loucura, mas comecei a pensar na possibilidade”, brinca Natália. Para Renan, era até mais natural. “Eu cresci numa casa cheia de cachorros. Via que era muito bom eles terem a companhia um do outro, porque a gente não consegue dar atenção 100% do tempo”, conta. A adoção não deu certo, mas a ideia de ter dois animais ficou na cabeça.

Foi, então, que vieram os dois companheiros: Shoyu e Bacon, chihuahuas de pelo longo. Para o casal, a decisão foi uma primeira estratégia para que não sintam tanta falta dos donos, quando voltarem ao escritório. “Nossa vida social também terá que mudar, apesar de que, a rotina como era antes, deve demorar, por conta da pandemia. E ainda há planos de neném pra frente”, avalia Natália. Mesmo com os donos fora, Shoyu e Bacon ainda terão um ao outro para se distraírem, brincarem e até brigarem.

Ambiente rico em diversão

Mas a iniciativa de ter mais animais de estimação pode parecer drástica para alguns. Há outras medidas que podem ser tomadas, nesses casos. A veterinária Rafaela Costa Magrini, do consultório MedVet, orienta a aumentar o enriquecimento ambiental. “É importante ter brinquedos diferentes, que os animais gostem. Pode, ainda, colocar ferormônio por meio de um difusor, o que diminui o estresse e a ansiedade”, cita. Além disso, ela sugere deixar uma peça de roupa suja do dono com o animal e, quando chegar, agradá-lo bastante: “Compensar com carinho, com petisco”.

Para cães, Amanda Peres indica brinquedos “recheáveis”, nos quais é possível colocar um alimento para eles “caçarem”. “Você também pode produzir esse tipo de brinquedo em casa com uma garrafa pet. Basta tirar o rótulo, colocar o alimento dentro e fazer furinhos na embalagem”, ensina. Outra recomendação é deixar petiscos escondidos pela casa para estimular o instinto de caça do pet e distraí-lo na “caça ao tesouro”.

Segundo Rafaela, existe a tendência de achar que os gatos são menos apegados aos donos, mas eles também podem sentir falta deles. Para os felinos, Amanda afirma que os arranhadores são indispensáveis. “O uso de caixas de papelão como brinquedo são uma boa ideia na hora de improvisar em casa. Eles adoram se esconder e arranhá-las.”

O local certo do xixi

Muitos tutores começaram a descer com mais frequência, mesmo que rapidamente, e se alegraram de ter reduzido ou acabado com a urina e as fezes dentro de casa. A veterinária Rafaela explica que, se o instinto de só fazer xixi e cocô fora de casa for incorporado, os animais podem passar a segurá-los por muito tempo, mesmo com a volta ao trabalho fora de casa e com menos passeios. Isso os predispõe a doenças urinárias. Para reacostumá-los, ela indica colocar mais tapetes higiênicos na casa.

O ideal, segundo Amanda, é que os passeios não sejam associados exclusivamente ao momento das necessidades. “Isso porque não devemos, de forma alguma, proibir o animal de fazer xixi e cocô em casa. Privar os animais a esse ponto pode acarretar em graves problemas de saúde, como: doenças renais, intestinais e cistites.”.

Para evitá-los, deve-se reservar um cantinho da casa com tapete higiênico ou jornal. “Sempre na hora em que vocês costumavam descer para passear, ou se você observar que o pet está inquieto, coloque-o no cantinho reservado e fique até que ele faça as necessidades. Depois disso, parabenize-o com um carinho, um petisco”, recomenda. E alerta: “Nunca esfregue o focinho do pet no xixi ou cocô, pois não são atitudes educativas e, sim, repreensões que prejudicam o aprendizado”.

De volta à rotina

- Acostume seu pet a uma rotina real: as horas da refeição, do passeio e de brincadeiras sofreram alterações. Portanto, volte a dar comida para o pet somente nos momentos em que você vai conseguir: ao voltar do trabalho, por exemplo. Tente programar, também, um período para indicar que está na hora de dormir. Os animais de estimação se beneficiam de rotinas.

- Crie momentos de isolamento: é importante que o animal entenda que nem sempre ele terá companhia. Aos poucos, experimente fechar a porta do quarto/escritório em momentos de reunião, por exemplo. Escolha um período da manhã e outro da tarde para passar meia hora em outro ambiente sem qualquer tipo de interação: vá aumentando o tempo no decorrer das semanas. Mas se lembre de deixar um ambiente preparado para isso, com tudo que ele necessita: brinquedos diferentes, água, um lugar para descansar e outro onde possa fazer suas necessidades.

- Horário para brincadeiras e exercício: programe horários de brincadeiras específicos para seu gato ou cão todos os dias. E reforçar positivamente o comportamento que você espera dele é muito importante. Você deve recompensar os bons comportamentos e ignorar os maus.

- Leve seu cão para passear ou jogue um jogo interativo com seu gato antes de sair: essa é uma estratégia calmante. Após o exercício, os animais de estimação costumam estar prontos para uma soneca, o que cria o momento perfeito para você sair.

- Agende um horário de interação calma com seu animal de estimação: nesse momento, os membros da família podem se sentar e os acariciar de maneira tranquila.

- Sons e estímulos: o isolamento social fez com que o movimento nas ruas diminuísse consideravelmente e que deixássemos de receber visitas em casa. Mas, também, pode ter feito com que ele se acostumasse com seu som. Colocar gravações de sons, ao fundo, de rádio, tevê ou até ligar um audiolivro ou podcast pode proporcionar-lhes algum envolvimento e distração e ajudá-lo a se sentir mais tranquilo. Além disso, o som de outras vozes humanas pode fazer com que os animais se sintam menos sozinhos.

Fonte: Luciana Pellegrino, médica veterinária da Purina, empresa de alimentos para cães e gatos




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