postado em 28/04/2008 16:40
A uma semana do início do último evento válido para obtenção de índice na natação para os Jogos Olímpicos de Pequim, o Troféu Maria Lenk, o técnico João Reynaldo da Costa Lima Neto é categórico.
A única ameaça à obtenção da marca pela nadadora Joanna Maranhão não está nas piscinas, mas dentro da própria atleta. Para Nikita, somente o emocional pode tirar a nadadora de sua segunda olimpíada. "Tem alguma coisa que a está travando no medley e não é de agora", diz Nikita, destacando a sensibilidade da atleta. "Meu único medo é esta trava se repetir e ela não conseguir se classificar".
O Maria Lenk começa dia 6, no Parque Aquático de mesmo nome no Rio de Janeiro. O evento é a última seletiva olímpica da modalidade e Joanna ainda luta por índice nas duas provas individuais que disputou nos Jogos de Atenas-2004: 200m e 400m medley, sendo a segunda sua especialidade. Podendo também se classificar no revezamento medley.
Apesar de não ter índice em nenhuma delas, a pernambucana já provou nas piscinas que pode estar em Pequim. No início do mês, durante sua participação no GP de Stanford, nos Estados Unidos, ela nadou abaixo do tempo olímpico exigido para os 200m borboleta (2min10s84), terminando a final com 2min10s54.
A marca, contudo, não rendeu classificação olímpica porque a competição não fazia parte da lista de eventos pré-estabelecidos pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para obtenção do índice. E segundo a Confederação, não há chances de o tempo ser válido para a classificação olímpica.
Ainda nos Estados Unidos, Joanna nadou os 200m medley, marcando 2min17s46 (índice 2min15s27) e obteve classificação para a final dos 400m medley, mas desistiu da prova por causa de dores lombares. O problema físico não preocupa mais, garante o técnico. No retorno ao Brasil, ela fez fisioterapia e retomou os treinamentos normalmente.
Imprevistos à parte, Nikita não tem dúvidas que a nadadora provou nas piscinas ter o necessário para alcançar os índices e que estes poderiam até já ter saído. "Era para ela ter feito os índices em Stanford ou até no Sul-americano (realizado em fevereiro na capital paulista)", explica o treinador. "Mas São Paulo não é o melhor lugar para isto por causa da altitude e a piscina também não ajudava por ser fechada".
Restando uma última chance classificatória, Nikita receia que a pressão comprometa o desempenho da atleta. "Tecnicamente não há nenhuma dúvida que pode se classificar e ela provou isto em Stanford. Mas a situação era diferente, porque ela entrou como franca-atiradora, sem a pressão do índice. No Troféu é com índice e isto muda totalmente", diz, destacando que a inconstância emocional é o verdadeiro obstáculo a ser superado pela nadadora. "E o primeiro passo é ela reconhecer isto".
Ex-nadador - disputou os 100m e 200m borboleta nas Olimpíadas da Cidade do México-68 -, Nikita lembra que esta pressão é um problema com o qual o atleta precisa lidar constantemente. "Eu particularmente sei o que é isto. Quando parei de nadar senti um alívio", relembra.
Vencido o obstáculo psicológico, o treinador garante que sua atleta poderá repetir os bons resultados obtidos na Grécia, quatro anos atrás. "Se ela conseguir o índice agora, vai chegar tão bem em Pequim quanto na Olimpíada passada", aposta.
Em Atenas, ela quebrou o jejum de 56 anos sem participação nacional em uma final feminina. Foi quinta colocada nos 400m medley e parou nas semifinais dos 200m de mesmo estilo.
Apontada como grande promessa da natação brasileira feminina, Joanna amargou um período de resultados fracos após as Olimpíadas. No início deste ano, ela revelou que parte disso era resultado de haver sofrido abuso quando tinha 9 anos.
Atualmente, Joanna lida, além da pressão competitiva também com os reflexos desta revelação porque seu agressor está processando a atleta e sua mãe na Justiça por danos morais.