Um amistoso marcado em cima da hora há 50 anos é considerado um dos jogos que mudaram o rumo da seleção brasileira. No dia 21 de maio de 1958, o time que seria campeão mundial um mês e meio depois na Suécia enfrentou o Corinthians, no Estádio do Pacaembu, na última partida antes do embarque para a Europa. O placar de 5 a 0 não importaria muito se não contasse com os primeiros gols de Garrincha com a camisa amarelinha. O atacante do Botafogo, até então, havia disputado sete jogos pela seleção, mas ainda não havia marcado.
Mas nem tudo foram flores naquele duelo. Pelé sofreu uma entrada duríssima do zagueiro do Corinthians, Ari Clemente, e rolou de dor no gramado com as duas mãos no joelho direito. Esse lance quase tirou Pelé da Copa do Mundo. No vestiário do Pacaembu, o médico Hilton Gosling examinou o craque do Santos e constatou a gravidade da lesão. Perguntado pelo supervisor Carlos Nascimento sobre as chances dele se recuperar até a Copa, Gosling disse que seria difícil, mas o fato de Pelé ser muito jovem jogava a favor.
O técnico Vicente Feola, então, bateu o martelo e decidiu não cortar Pelé do Mundial naquele momento, mas ainda poderia fazê-lo se o craque não mostrasse evolução da lesão na escala que a seleção faria na Itália antes de partir para a Suécia. A comissão técnica ainda tinha até o dia 30 para mandar a lista oficial de 22 jogadores à FIFA. Se Pelé não tivesse condições, seria convocado para o seu lugar Almir, o pernambuquinho, jogador do Vasco.
A entrada de Ari Clemente foi tão forte que deixou Pelé sem condições de participar dos jogos amistosos contra Fiorentina e Internazionale, na parada na Itália, e dos dois primeiros jogos da Copa, contra Áustria e Inglaterra. Ele só reapareceria contra a União Soviética. Graças à competência e paciência de todos na seleção, ele não foi cortado e contribuiu decisivamente para aquela conquista.
Ficha do jogo:
CORINTHIANS 0 X 5 BRASIL
Data: 21-05-1958
Local: Estádio do Pacaembu, São Paulo
Árbitro: João Etzel Filho
Gols: Mazola, Pepe (2), Garrincha (2)
Corinthians: Aldo, Olavo, Ari Clemente, Cássio (Idário), Valmir (Homero), Benedito, Bataglia, Luizinho, Índio (Paulo), Rafael, Zague. Técnico: Cláudio Christovam Pinho.
Brasil: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa), Bellini (Vasco), Orlando Peçanha (Vasco) e Nílton Santos (Botafogo); Zito (Santos) depois Dino Sani (São Paulo), Didi (Botafogo), Pepe (Santos) e Mazola (Palmeiras); Garrincha (Botafogo) e Pelé (Santos) depois Vavá (Vasco). Técnico: Vicente Feola.