postado em 02/06/2008 22:45
Com a vaga candanga na Série C herdada pela desistência de Ceilândia e Brazlândia, o Legião decidiu apostar no sucessor de um dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro para deslanchar na competição. Em sua sede no Lago Sul, o clube laranja apresentou nesta segunda-feira seu comandante na terceirona, o carioca Renê Santana, de 51 anos, filho do falecido Telê Santana, técnico da Seleção Brasileira nas copas de 1982 e 1986, e do São Paulo bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes em 1992 e 1993. Com uma carreira praticamente construída em equipes pequenas do interior mineiro, Renê já garante estar acostumado ao peso de ser comparado ao pai. "É claro que muitos podem esperar ver o Telê Santana. É injusto, principalmente para o Telê Santana, que já fez sua história. Todos os meus acertos vêm do Telê Santana, meus erros, não", homenageia o novo treinador do Legião. Renê aposta na vasta experiência no mundo do futebol, como filho de um ex-ponta-esquerda do Fluminense e ex-treinador até de Seleção, para levar o clube candango longe na competição.
"Meu pai era um grande jogador de um grande clube. Não consigo me separar da história do Telê, mas o fato de ter vivido dentro do futebol me deu muita independência também", lembra o sucessor. Ele chegou a ser jogador em categorias de base até sofrer um acidente de moto que o levou a pendurar as chuteiras. Mesmo com três acessos no futebol mineiro no currículo, Renê jamais disputou a terceirona nacional.
No entanto, se orgulha de ter conseguido a vaga e participado pelo Mamoré da Copa Sul-Minas de 2002 ; o clube de Patos acabou na 15; e penúltima posição. "Não trabalhei só em Minas. O fato de ter atuado fora me deu experiência para disputar uma Série C que nesta fase (primeira) é uma competição regionalizada", lembra o técnico. Depois do modesto sexto lugar do Legião no torneio candango, Renê Santana assume a vaga de Marcos Falopa com planos de voar alto.
Com a terceirona valorizada, o novo comandante sonha em atingir um dos dois objetivos do campeonato ; como sempre, os quatro melhores se classificam para a Série B do ano seguinte, mas desta vez os outros 16 times mais bem colocados vão garantir vaga na Série C de 2009, reduzida a apenas 20 clubes. "A nossa meta tem de ser a máxima", avisa. "Se não subir, pelo menos que não caia", admite. O filho de Telê Santana superou uma concorrência com três adversários: Vítor Hugo e Sérgio Alexandre, ambos ex-Gama; e Roberto Oliveira, atualmente nos juniores do Vila Nova-GO. "Decidi por ele a partir do momento em que me disse estar preparado para aceitar o desafio", revela o presidente Ítalo Nardelli, que desmente qualquer interferência do BMG, patrocinador do clube, na definição do técnico.
No entanto, ser herdeiro de um grande ex-jogador e treinador não é garantia de sucesso. O futebol candango testemunhou o fracasso do Luziânia na própria Série C de 2006 sob o comando de Paulo Zagallo, herdeiro de Zagallo, ponta-esquerda bicampeão mundial em 1958 e 1962, técnico da Seleção na conquista de 1970 e coordenador no tetra, em 1994. De tarde, Renê Santana conheceu os jogadores no Centro de Treinamento do Jaguar, na apresentação do grupo. O nome mais famoso é o do atacante candango Léo Borges, de 23 anos, revelado pela Assefe, com oito anos de Vasco e que ajudou o Uberaba a se salvar da queda nos quatro últimos jogos do Campeonato Mineiro.
O treinador espera definir o elenco em até uma semana. O Legião estréia na Série C em 6 de julho, no Mané Garrincha, contra o Itumbiara, atual campeão goiano. O Dom Pedro II, vice-campeão candango, e o tradicional Anápolis completam o Grupo 10. Na primeira fase, em ida e volta (seis rodadas), os dois melhores de cada chave garantem a classificação. "O principal adversário nessa fase é o campeão de Goiás, o Itumbiara. Apesar de não ter mantido a equipe, vem com o respaldo daquele título. Isso dá muita moral", prega Renê.
Dividendos
O presidente Ítalo Nardelli nega a suspeita de compra da vaga nos bastidores, mas admite ter acertado ;parcerias; com a dupla de desistentes que alegaram falta de condições financeiras para disputar a terceirona. Além de usar o CT e um ônibus do Ceilândia, o clube laranja conta com três jogadores do alvinegro: o volante Thompson, que já se apresentou; o meia Luiz Fernando e o atacante Douglas, ainda ausentes. Já o Brazlândia cedeu seis jogadores (o zagueiro Piu, o atacante Edicarlos, os meias Kiki e Liuson e os volantes Daniel e Augusto) e o presidente Moacir Ruthes, curiosamente convertido em gerente de futebol mesmo sem nenhuma experiência em qualquer competição nacional.
Do elenco sexto colocado no torneio local, o Legião manteve apenas seis jogadores. O goleiro Fernando, o meia Kim e os atacantes Chefe e Alison se apresentaram ontem. O volante Erivaldo é aguardado para hoje, enquanto o zagueiro Ícaro está nos juniores para a disputa do campeonato candango da categoria, no qual o Legião é o vice-líder com 100% de aproveitamento, atrás do Brasiliense apenas pelo saldo de gols.
PERFIL - RENÊ SANTANA
Nascimento: 21 de agosto de 1956
Local: Rio de Janeiro (RJ)
Clubes anteriores: Mamoré, Valeriodoce, Ipatinga, Tupi, Democrata de Sete Lagoas, Patrocinense, São Carlense (SP), Matsubara, Rio Branco de Americana (SP), Rio Branco de Andradas (MG) e Vilavelhense (ES)
Títulos: Campeão mineiro da segunda divisão de 2000, pelo Mamoré, e de 2006, pelo Rio Branco; da terceira divisão de 2000, pelo Patrocinense