postado em 27/07/2008 12:21
A maioria dos 277 atletas do país que competirão nas Olimpíadas de Pequim já deixou o Brasil para se aclimatar ao fuso de mais 11 horas da China. Mas para os saltadores brasilienses César Castro, 25 anos, e Hugo Parisi, que fará 24 no dia 1º de agosto, a rotina continua a mesma: saltos repetidos à exaustão, bem ali, na piscina do Colégio Mackenzie, no Lago Sul. Tudo com a orientação calma e precisa do técnico, também brasiliense, Ricardo Moreira.
[VIDEO1]Os três estiveram nos Jogos de Atenas, em 2004, e partem para a segunda experiência olímpica. Porém, ao contrário da maioria, eles preferiram estender o quanto puderam os treinos na capital. Tudo para ficar em um ambiente conhecido e perto dos familiares e amigos. Assim, César (Mackenzie/Correios-BRB Seguros), Hugo (Mackenzie/Academia Dalmo Ribeiro) e Ricardo embarcam apenas na próxima terça-feira rumo ao Oriente. E até a hora de competir ; César, no dia 18, no trampolim de três metros; e Hugo, 22, na plataforma de 10 metros ;, o que os saltadores pretendem é treinar leve e baixar a adrenalina, para garantir uma apresentação tranqüila diante dos sete jurados que os avaliarão na China.
;Estamos esperando a hora da competição e não vou mentir e dizer que não estou ansioso;, confessa Hugo Parisi. ;Mas estou muito tranqüilo. Quanto mais perto, mais aliviado eu fico, porque está chegando o final do trabalho. A parte mais difícil é treinar tudo isso, ficar sem sair com os amigos, sem relaxar muito;, completou.
Estar em Brasília às vésperas de uma olimpíada não é sinônimo de treinos mais leves. Pelo contrário. E para reforçar as orientações de Ricardo Moreira, a dupla conta com uma aliada de peso: a tecnologia. Ao comando do técnico, uma filmadora de última geração registra todos os saltos. E as imagens (em câmara lenta), são enviadas instantaneamente para um telão instalado logo abaixo das plataformas de saltos. Assim, quando César e Hugo deixam a piscina após executarem uma manobra, podem conferir o que fizeram de certo ou errado.
;É mais moderno treinar assim;, resume César. ;Nós copiamos esse tipo de treinamento das viagens que fizemos para a Austrália, em 2006;, detalhou. ;Tem ajudado muito. Eu tenho noção do que faço de certo ou errado, mas visualizando fica mais fácil corrigir;, ressalta o saltador. ;Uma coisa é o Ricardo falar o que a gente fez. Outra coisa é ver e comprovar o erro. A imagem não deixa dúvida. Ela nos ajuda a reforçar o que fazemos de certo e a corrigir o que fazemos de errado;, completa Hugo Parisi.
Em sua primeira olimpíada, há quatro anos, César Castro obteve uma classificação muito boa. Terminou os Jogos de Atenas em nono lugar. Agora, passado um ciclo olímpico, o saltador chega a Pequim fazendo as contas de quantos pontos precisará para melhorar sua posição. ;Eu acho que quem conseguir 460 pontos deve ter uma boa colocação;, calcula o brasiliense, que no ano passado, quando ficou com a prata no Pan do Rio, obteve nota 493 ; a maior de sua carreira, muito superior aos 430 pontos que lhe garantiram a nona colocação na Grécia.
Para Ricardo Moreira, quem pontuar acima de 500 pontos na China deverá chegar ao pódio. E César não descarta que tem chances de repetir a pontuação do Pan ou até melhorá-la. ;Nosso objetivo é chegar à final;, adianta Ricardo. ;Fazendo isso, que não é fácil, temos chances de melhorar a posição de Atenas;, frisa César, o primeiro atleta da delegação brasileira a garantir vaga para os Jogos de Pequim, em março de 2007, quando ficou em oitavo lugar no Campeonato Mundial de Melbourne.
Enquanto César sonha em igualar ou superar a pontuação obtida no Pan, Hugo Parisi, quinto colocado na competição continental do Rio de Janeiro, certamente deverá ganhar várias posições em relação ao desempenho em Atenas. Na Grécia, ficou em 32º entre 33 participantes. Agora, mais seguro e experiente, lutará para ir mais longe.
;Este ano, o Hugo está bem melhor preparado;, garante Ricardo Moreira. ;Se ele fizer o que vem fazendo nos treinos, tem condições de chegar a uma final, o que seria um grande resultado;. As boas previsões do técnico estão amparadas em resultados recentes. Em maio, o saltador conquistou boas colocações nos Grand Prix (etapas do Circuito Mundial) dos Estados Unidos e Canadá, terminando em sexto lugar nas duas competições. Considerando que 12 atletas avançam à final olímpica, o brasileiro está no páreo.
Seja como for, César e Hugo embarcarão com a consciência tranqüila de que a preparação foi bem feita e de que as próximas semanas serão apenas para lapidar um trabalho realizado com o máximo de empenho em Brasília. A coroação de tanto esforço residirá nos saltos executados pela dupla e na avaliação dos sete jurados olímpicos ; as duas notas mais altas e as duas mais baixas são descartadas. No final, três jurados decidem o destino dos atletas.
Tanto César quanto Hugo terão 29 oponentes em Pequim. E o desafio máximo é buscar um pódio que nunca foi alcançado por nenhum atleta do país. A melhor colocação brasileira nos saltos ornamentais foi o sexto lugar no trampolim, conquistado por Milton Busin em Helsinque (1952).