postado em 29/07/2008 09:08
Bastou tirarem os olhos das lâminas para os alunos do respeitado Instituto de Microbiologia da Academia Chinesa de Ciências perceberem algo diferente na paisagem da vizinhança. Do outro lado da Kehui South Road, que passa pelos fundos da Vila Olímpica, dezenas de bandeiras brasileiras enfeitam as janelas dos apartamentos ainda vazios do bloco 6C. Apesar da decoração antecipada, os primeiros inquilinos só serão vistos hoje, com a chegada dos seis atletas da Seleção Brasileira de Remo a Pequim. A brasiliense Camila Carvalho, Fabiana Beltrame, Luciana Granato, Anderson Nocetti, Thiago Almeida e Thiago Gomes integram a equipe.Os três edifícios destinados pelo Comitê Organizador dos Jogos (BOCOG) à missão verde-amarela ficam na parte mais afastada dos 470 mil metros quadrados de área construída da Vila. Nem por isso, os atletas brasileiros desfrutarão de tranqüilidade absoluta. Do lado esquerdo está uma checagem de segurança 24 horas, destinada a veículos oficiais e que serve de ponto de apoio para ambulâncias.
Embora, por questões de segurança, apenas veículos credenciados circulem pelas vias ao redor do Parque Olímpico, o trecho onde ficam os prédios brasileiros serve de ponto de passagem para táxis e ônibus em direção ao Estádio Nacional Olímpico, ao Centro Principal de Imprensa (MPC) e ao Centro de Transmissão de Imagens (IBC).
Centenas de câmeras, cães farejadores nos acessos e duas altas grades metálicas separadas por um vão onde ficam guaritas de soldados a cada 10 metros compõem o cenário ao redor dos prédios. A paranóia oficial em evitar atentados em Pequim só não conseguiu, até ontem, evitar que moradores da região e fãs sem credencial circulassem livremente a pé ou de bicicleta pelos arredores da Vila. De qualquer forma, as delegações apontadas como possíveis alvos de terroristas ; casos de Estados Unidos, França, Rússia, Israel e até da própria China ; foram estrategicamente localizadas em prédios mais centrais.
Embora os atletas só comecem a chegar hoje, no bloco 6C já funciona, desde domingo, um escritório do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) no qual está trabalhando o chefe de missão, Marcus Vinícius Freire. Depois do remo, estão previstas as chegadas das equipes de saltos ornamentais, na quinta-feira, e de boxe, basquete feminino e ginástica artística no dia 1; de agosto.
Numa tarde de calor infernal e poluição reduzindo drasticamente a visibilidade em Pequim, poucos atletas e técnicos se atreveram a deixar seus apartamentos para circular pela Vila. Mas, assim como nos edifícios do Brasil, as diferentes bandeiras nas janelas sinalizam a presença crescente de atletas. Na tarde de domingo, um grupo de mais de 70 pessoas das equipes de canoagem e remo dos Estados Unidos desembarcou na capital chinesa, juntamente com cinco dos sete atletas que representarão a Líbia nos Jogos. Como de costume, os cubanos vieram em vôo fretado, com 85 de seus 165 competidores entrando ontem na Vila. A outra parte, do atletismo, só chega por volta do dia 5.
Temperatura
Na Zona Internacional, onde se concentra boa parte das opções de comércio da Vila, a corrida era para encontrar o ar-condicionado mais próximo. Sem opções agradáveis ao ar livre, o ponto de encontro preferido foi a imensa loja que vende produtos oficiais dos Jogos. ;Os preços são bem mais atraentes do que na Europa. O calor está grande, mas, pelo menos, já comprei alguns presentes;, disse o atirador polonês Andrezj Kijowski.Sem os simpáticos e cobiçados mascotes Fuwa para oferecer, as demais tendas, que vão de arte chinesa a salão de cabeleireiro, ficaram vazias durante toda a tarde por conta do calor que beirou os 40 graus, mesmo sem que o sol pudesse ser visto. As competições só começam no dia 9, mas a chapa em Pequim já esquentou. ;Isso aqui está pelo menos 10 graus centígrados mais quente do que Gana. Já conferi na internet. A organização dos Jogos está perfeita, mas esse calor, só africano acha normal;, brincou o ex-prefeito da capital Acra e hoje coordenador do time de boxe ganês, Salomon Danko.