Jornal Correio Braziliense

Superesportes

Jogadores das Ilhas Salomão à espera de um milagre

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Aos 34 anos, Nacanieli Seru nunca tinha se sentido tão importante na vida como naquelas horas de estrada que passou no trajeto entre Goiânia e Brasília na semana passada. A bordo de um ônibus de luxo e acompanhado de um grupo formado por 14 garotos recém-saídos da adolescência, cuja missão é representar bem as Ilhas Salomão na Copa do Mundo de Fusal da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Seru e todos os outros companheiros se sentiram como se fossem estrelas do esporte ao serem escoltados pela polícia durante toda a viagem. Aquilo, para eles, foi algo quase tão especial quanto o que viverão hoje, às 10h30, quando a bola rolar no ginásio Nilson Nelson para a partida entre Brasil e as Ilhas Salomão. ;Ficamos honrados quando fomos escoltados pela polícia quando viemos de Goiânia para cá. Nos sentimos como estrelas, com toda aquele esquema de proteção e todas as pessoas sorrindo para nós por onde passávamos;, lembrou Seru, o chefe da delegação. Com uma população de pouco mais de 580 mil pessoas (censo de 2008), as Ilhas Salomão, no Oceano Pacífico, são um arquipélago formado por centenas de ilhas, a maioria pequenas e desabitadas. A capital, Honiara, concentra a maior parte dos moradores do país, que chega pela primeira vez a uma Copa do Mundo. Para ganhar o direito de disputar a competição, os salomônicos, que em janeiro já haviam surpreendido ao avançar às semifinais do Torneio Australiano, triunfaram no Torneio Classificatório da Oceania. Beneficiados pelo fato de a Austrália ter se transferido para a Confederação Asiática de Futebol em 2006, não desperdiçaram a oportunidade de fazer história. Os jovens jogadores ganharam as primeiras páginas dos únicos dois jornais do país quando estrearam com vitória, em junho, sobre a Nova Zelândia, por 5 x 1. ;O resultado desse jogo foi destaque na primeira página dos dois jornais de nosso país. Foi só depois disso que a maioria da população foi descobrir o que era o futsal, já que quase ninguém tinha ouvido falar no esporte ou sabia como ele era jogado;, contou Nacanieli Seru. Embalados pela goleada, foram deixando para trás seus adversários e, no fim, desbancaram, além dos neozeolandeses, as seleções de Fiji, Taiti, Tuvalu, Vanuatu e Nova Caledônia até, finalmente, conquistar o direito de representar a Oceania no Mundial do Brasil. Muito desse feito se deve ao talento de Micah Leaalafa. Aos 17 anos, nascido em Honiara, em 1º de junho de 1991, foi artilheiro do time no Torneio Classificatório da Oceania. Seus 12 gols contribuíram para o sucesso do time e hoje o dono da camisa 9 estréia na Copa do Mundo e transformará um sonho em realidade. ;Eu não joguei contra Cuba;, contou com certo ar de frustração. ;O técnico preferiu me poupar e disse que era para eu descansar para o jogo com o Brasil;, explicou. Epopéia aérea Micah Leaalafa jamais tinha viajado para um lugar tão distante, assim como todos os outros na delegação das Ilhas Salomão. Juntos, eles enfrentaram uma verdadeira maratona aérea até chegar ao Brasil. Foram três horas de vôo até Brisbane, na Austrália, outras três horas de lá até Sydney e mais 14 horas da cidade-sede das Olimpíadas de 2000 até Dubai. Dos Emirados Árabes, embarcaram em outro avião e voaram mais 15 horas até São Paulo. E de lá percorreram mais quase duas horas até Goiânia, onde fizeram a aclimatação e disputaram dois amistosos contra a Seleção de Goiás, que terminaram com vitória dos goianos por apertados 4 x 3 nos dois jogos. O esforço valeu a pena e hoje Micah ; um dos três jogadores menores de idade da equipe, que tem ainda Samuel Osifelo e Jenan Kapua, também de 17 anos ; e seus amigos estarão frente a frente com o todo-poderoso Brasil do superastro Falcão. ;Estou muito feliz por ter vindo para cá. Quando eu tinha 5 anos, sonhava em jogar uma Copa do Mundo. Meu time preferido é o Brasil e meu jogador preferido é o Falcão. Agora eu vou poder jogar contra ele e certamente vou tirar uma foto para guardar de recordação;, contou. A seleção que veio da Oceania está longe de ser experiente. O jogador mais velho, Philip Houtarau, tem apenas 22 anos. E, assim como o time, o futsal está em estágio inicial no arquipélago. ;O futsal começou a ser jogado no país apenas em 2000, para ajudar os garotos que tinham saído da guerra civil;, explicou Brian Codrington, um pastor australiano que foi o precursor da modalidade nas Ilhas Salomão. ;Na Austrália, eu tenho um grande centro de esportes com quase 2 mil crianças. Usei essa experiência para ajudar os meninos após o fim da guerra civil para que eles tivessem uma opção. Os trabalhos começaram com garotos de 12 anos com a idéia de mantê-los longe das armas e dos problemas. É por isso que o nosso time é tão jovem. Eles são a primeira geração do futsal local;, informou Brian. Basquete e tênis No time brasileiro, que tenta nesta Copa do Mundo quebrar a hegemonia da Espanha, vencedora dos últimos dois Mundiais, o confronto com as Ilhas Salomão servirá para dar mais ritmo de jogo à equipe para o duelo mais importante da primeira fase, contra a Rússia, no sábado. Ninguém no Brasil teme uma vitória dos rivais. Mas, a ordem é respeitar os salomônicos. ;Vi um pedaço do jogo pela tevê e é uma equipe teoricamente frágil. Mas temos de entrar com humildade como entramos contra o Japão. Temos de tentar fazer o resultado no começo do jogo para não complicar na final;, analisou Schumacher. Já o astro Falcão é sincero ao dizer que não sabe muita coisa sobre o adversário. Mas se o craque tem pouco conhecimento sobre a equipe que enfrentará, do outro lado os adversários sabem muito bem o que é a Seleção Brasileira e o que ela representa. Tanto que nas Ilhas Salomão todos são unânimes em dizer que são fãs do Brasil. ;Para mim será uma honra jogar contra eles. O Brasil é melhor time do mundo e vou tentar fazer o meu melhor. Já consegui marcar dois gols nesta Copa do Mundo e se conseguir marcar um gol contra o Brasil será a realização de um sonho;, disse o capitão Eliot Ragomo, de 18 anos, principal jogador do time.