postado em 02/10/2008 19:36
O cenário já está montado: no subsolo de um hotel da zona do Sul do Rio de Janeiro, Carlos Arthur Nuzman será, nesta quinta-feira, eleito pela quarta vez consecutiva presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), permanecendo no cargo até 2012. Como ao que tudo indica, apenas uma chapa - a do atual presidente - participa do pleito, Nuzman será mais uma vez aclamado na função.Mas será que as confederações brasileiras estão realmente satisfeitas com o trabalho do COB nos últimos anos? A despeito do que ocorre com os esportes que recebem muitos recursos da Lei Agnelo-Piva, além de dinheiro de empresas estatais, existem muitas reclamações por parte de confederações menores com relação à distribuição dos recursos públicos e com o fato de o COB ser uma entidade ;fechada;, que quase nunca consulta todos seus associados na tomada de decisões. Porém, a falta de articulação entre estes dirigentes e o medo de represália impede a formação de uma oposição a Nuzman.
Um dirigente que pediu para não ser identificado afirmou que é grande o temor entre algumas entidades de perderem recursos ao se unirem e lançarem um outro candidato nas eleições. ;Imagine que você trabalha em uma empresa e tem família para sustentar. Como vai fazer se tiver ainda menos recursos?;, comentou. ;Em conversas informais, vejo que há muita insatisfação com a gestão dele, só que ninguém quer bater de frente com medo de repersálias. Mas realmente as confederações que se sentem assim deveriam se unir mais;, emendou.
Como se não bastasse, Nuzman utiliza, segundo alguns presidentes de confederações, um outro recurso para sufocar uma possível oposição: a forma como convoca eleições. No caso da desta quinta-feira, alguns dos dirigentes foram avisados fora do prazo determinado pelo estatuto do COB, datado de 2004, que prevê comunicação escrita a todas as entidades até oito dias antes das eleições, além de publicação de um edital em um jornal de grande circulação. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, dois editais foram publicados no dia 23 de setembro no Jornal dos Sports e no Jornal do Commercio, que não estão entre os cinco maiores do Rio de Janeiro.
As falhas no processo abrem espaço para a impugnação da eleição, desde que alguém faça o pedido. Esta, porém, é uma possibilidade bastante improvável. ;Não adianta fazer isso, pois ele tem muita força. Mesmo que a eleição seja anulada, o Nuzman vai ganhar de qualquer jeito;, afirma o dirigente. A principal fonte de apoio de Nuzman está nas grandes confederações, aquelas que possuem mais dinheiro e, conseqüentemente, costumam aparecer mais na mídia e que normalmente geram resultados para o Brasil em grandes eventos internacionais.
É o caso, por exemplo, da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb). ;Não vou dizer que se aplaude 100% o que ele faz. Mas temos que reconhecer que o esporte brasileiro ganhou uma outra dimensão depois do Nuzman. Com ele, nós conseguimos, por exemplo, sediar um Pan, que apesar dos problemas, fortaleceu os esportes do país. Além disso, depois da Lei Agnelo-Piva, o handebol conseguiu muito mais recursos;, destacou Manoel Luiz Oliveira, presidente da entidade.
Entre os diversos problemas do Pan-2007 está o relatório divulgado, na semana passada, pelo Tribunal de Contas da União. O TCU, inclusive, pediu maiores esclarecimentos com relação à declaração de gastos do evento.
Por sua vez, o COB alega que não é obrigatório comunicar todas as confederações, apesar de esta ser uma prática habitual. Além disso, não há a necessidade de se avisar a imprensa. O desempenho aquém do esperado nas Olimpíadas de Pequim (menos ouros que em Atenas-2004 e mesmo número de pódios que Atlanta-1996, a despeito dos maiores recursos no último ciclo) também foi minimizado por Nuzman, que preferiu ressaltar o recorde de finais alcançado pelo país (38) para declarar o melhor desempenho do Brasil na história dos Jogos.