postado em 27/12/2008 09:41
Embora o ano do Fluminense tenha sido melancólico, com o vice da Taça Libertadores e a luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o centroavante Washington saiu no lucro. Marcou gols decisivos no torneio sul-americano e foi artilheiro da competição nacional, com 21 gols, ao lado de Keirrison, do Coritiba, e Kléber Pereira, do Santos. O desempenho valeu ao atacante o que ele considera um ;prêmio; para qualquer atleta que atua no paÃs: a transferência para o poderoso São Paulo.
Em BrasÃlia, onde nasceu e morou até os 15 anos, para visitar familiares, o jogador explicou ao Correio Braziliense, em entrevista exclusiva, os motivos da opção pelo time paulista. ;A proposta do Fluminense era melhor. Pensei na estrutura do clube e nos objetivos de conquistar tÃtulos;, afirma o goleador de 33 anos, 1,89m e 92kg. Mas a moral dele já estava em alta com o novo clube. Washington marcou cinco gols no São Paulo este ano.
O atleta diz perceber uma mudança estrutural em alguns clubes brasileiros, que estão se preparando melhor para o Campeonato Brasileiro de pontos corridos, vencido três vezes seguidas pelo tricolor paulista. Mas observa que os cariocas estão ficando para trás. Ele também comentou a depressão que tomou conta da equipe do Fluminense após a derrota na Libertadores e os planos de encerrar a carreira.
Ambição de goleador
O Fluminense brigou para renovar com você, e dois clubes do Japão (Gamba Osaka e Urawa Red Diamonds) também o queriam. Por que o São Paulo?
Tive também uma proposta do Grêmio. Descartei os dois times do Japão porque pretendo continuar mais um pouco no futebol brasileiro. Quero conquistar um tÃtulo importante. Por isso, minha opção pelo São Paulo. O clube oferece uma estrutura invejável. É o primeiro do Brasil e vai lutar por tÃtulos. Não que o Fluminense não vá, mas a possibilidade de ganhar com o São Paulo é mais real.
As outras propostas eram mais vantajosas financeiramente?
As do Japão, indiscutivelmente. Aqui, a proposta do Fluminense era melhor do que a do São Paulo. Mas, como eu falei, pensei na estrutura do clube e nos objetivos de conquistar tÃtulos.
No ano passado, você foi o carrasco são-paulino, ao marcar cinco gols, dois deles no jogo pela Taça Libertadores (3 x 1 para o Fluminense, resultado que garantiu os cariocas na semifinal). Você acha que isso pesou?
Isso ajudou um pouquinho (risos). Mas o São Paulo já tinha feito proposta quando cheguei do Japão. Só que optei pelo Fluminense. Mas os gols pesaram, sim. O próprio Rogério Ceni, no jogo contra no Morumbi (1 x 1, pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro) disse: ;Pára de fazer gol em mim. Chega;. Até o Muricy Ramalho falou comigo. Num lance em que bati a cabeça e saà do campo, voltei pelo lado do banco do São Paulo. Ele falou: ;Calma, grandão, calma; (risos).
Nos últimos anos, o São Paulo tem jogado com apenas um atacante de área. Agora, tem você e o Borges, que foi muito bem na temporada. Você acha que o Muricy pode mudar o esquema de jogo e escalar os dois?
Acho que pode. O São Paulo tem grandes atacantes ; o Borges, o Dagoberto, com quem joguei no Atlético-PR, o André Lima, que também é de área. Dependendo do jogo, o técnico pode colocar dois jogadores de área ou preferir um que jogue mais aberto. O Borges tem um estilo um pouco diferente do meu. Ele sai um pouquinho. Eu fico mais dentro da área. O importante é que o São Paulo terá opções e dispõe de um elenco formidável para municiar os atacantes.
Quem são os favoritos ao tÃtulo da Libertadores?
Acho que o São Paulo é o principal favorito, com o Boca Juniors. A LDU é a atual campeã, mas não a considero favorita. O Grêmio também pode chegar. Sem falar no Cruzeiro e no Palmeiras. Vejo o Cruzeiro acima do Palmeiras, no mesmo nÃvel do Grêmio. Mas pode pintar surpresa.
O que significa, hoje, para um jogador, ser contratado pelo São Paulo?
Para um jogador profissional, é um grande prêmio. É o clube no qual todos gostariam de estar. Para mim, com 33 anos, ser disputado por clubes do Brasil e acertar com o São Paulo é uma vantagem ainda maior.
Você acha que o equilÃbrio do Campeonato Brasileiro deste ano mostrou que outros clubes estão se organizando para fazer frente ao São Paulo?
Todos estão percebendo que têm de se estruturar. No começo do ano, eu disse que o Campeonato Brasileiro seria o mais disputado da era dos pontos corridos. Só não foi mais porque o Internacional deixou o campeonato de lado para disputar a Copa Sul-Americana. E o Fluminense jogou 11 ou 12 partidas com o time reserva, por conta da Libertadores.
Que clubes são esses?
Cruzeiro, Grêmio, Internacional também têm estrutura. E acho que todas as equipes de São Paulo. As do Rio de Janeiro deixam a desejar, mas estão contratando profissionais que começam a implantar uma idéia. O Fluminense, por exemplo, com o Renê Simões (técnico). Ele é um cara fantástico, fora de série. Se o Fluminense deixá-lo trabalhar, vai sair na frente no Rio.
Qual sua impressão sobre o futebol carioca?
Falta um pouco de profissionalismo. Tem de parar com esse negócio de diretores que falam demais, fanfarrões. O negócio é trabalhar em prol do clube. Os caras lá falam muito no nome, na história, na tradição, de 1930, 1940, 1950, 1960. Mas ficam por aÃ. O futebol do Rio de Janeiro não ganha o Campeonato Brasileiro desde 2000 (com o Vasco). Vão falar de que tÃtulo? Às vezes, montam uma equipe forte e ganham alguma coisa, mas depois não têm mais nada. Porque não têm estrutura para continuar.
Como você avalia seu desempenho em 2008?
Foi positivo, apesar de não ter conquistado tÃtulos. A perda da Libertadores foi um choque muito grande. Acabei artilheiro do Campeonato Brasileiro, com o Kléber Pereira (Santos) e o Keirrison (Coritiba), mas jogando menos partidas que eles. Na média, fui melhor.
Qual o melhor e pior momento que você teve na temporada?
A época da Libertadores foi o melhor. O pior foi a pós-Libertadores. Voltamos meio baqueados. O time não conseguia jogar. Eu também não. Foi brabo.
O que os jogadores tentaram fazer para espantar a depressão causada pela derrota na final da Libertadores?
Conversávamos bastante. ;Vamos esquecer. É outro campeonato, outra vida.; Mas o time estava sentindo, amarrado. Às vezes, jogava muito bem, merecia ganhar, mas perdia. Ficava afoito, queria decidir logo, levava um gol e não conseguia reverter. Foi muito delicado. Isso nunca tinha acontecido na minha carreira. Não desse jeito. O grupo tinha qualidade, bons jogadores. Era o fator psicológico, mesmo.
Ainda pensa em Europa?
Não penso mais. Na minha idade, tenho de pensar em Japão, de novo, Catar, Emirados Ãrabes. Agora, é por aÃ. A Europa só está pescando jogador de 16, 17 anos. Só se o cara estourar até ter uns 25 ou 26 anos para eles pegarem.
Você quer jogar até quando?
No máximo, uns dois anos. Mas agora só penso no São Paulo. No fim do ano que vem, vou ver o que traçar para 2010. Se for para um emirado da vida, posso até jogar mais tempo porque lá é mais tranqüilo. Se ficar no Brasil, é aquilo mesmo. Aqui, o estresse é grande. Não é mole, não.
Onde pretende encerrar a carreira?
Tenho enorme carinho por todos os clubes pelos quais joguei. Mas posso terminar no Caxias-RS, onde comecei. Depois, viro presidente do clube, alguma coisa assim (risos). Tive passagens marcantes pela Ponte Preta e Atlético-PR. Posso pensar neles também.
Ouça trechos da entrevista: