postado em 04/01/2009 09:21
O paulistano Lars Grael diverte-se ao recordar aqueles Jogos Estudantis Brasileiros (Jebs) do distante 1974. O velejador, que mais tarde conquistaria duas medalhas olímpicas de bronze para o Brasil, disputou, naquele ano, em Campinas, sua primeira competição nacional. E o resultado, tanto para ele quanto para o irmão Torben ; dono de outras cinco medalhas olímpicas (duas de ouro), cujos filhos Marco e Martine também velejam e se destacam no cenário nacional ;, não poderia ter sido mais desastroso naquela regata da extinta classe pinguim.;Me lembro bem do meu primeiro campeonato brasileiro. Nós ficamos em último lugar;, contou Lars, com um sorriso. ;Os barcos de Brasília não apareceram. O Defer era o responsável por levar os barcos até Campinas, mas eles não chegaram. Então, tivemos que competir com barcos emprestados, em péssimo estado;, recordou. ;O Torben, que correu com um rapaz do Iate, chamado Mário Ramos, ficou em penúltimo. Eu e meu irmão, Axel, acabamos em último. Foi uma estreia nem um pouco gloriosa. Mas o início de uma carreira é assim mesmo;, completou, ouvido de perto pelos filhos, Sofia, 8 anos, e Nicholas, 11.
Perceber que o tão bem-sucedido pai não brilhou em sua primeira competição nacional talvez garanta um alívio para a pequenina Sofia, já que ela está prestes a começar para valer a carreira de velejadora. Entre 9 e 17 de janeiro, Sofia, a garotinha simpática e miúda, de fala calma e cabelos cacheados cor de ouro, e o irmão, Nicholas, estarão em Niterói para disputar a 34; edição do Campeonato Brasileiro da Classe Optimist. E quando um Grael entra em qualquer competição de vela é impossível não atrair para si boa parte dos holofotes. Sofia pode não saber disso ainda. Mas as chances de que ela e o irmão virem notícia na cidade fluminense são grandes.
Emoções
Em Niterói, Sofia viverá as mesmas emoções que Lars viveu naquele Jebs de 1974. Para ela, o Brasileiro de Optimist marcará a estreia em competições nacionais. Sofia começou no esporte no início de 2007, na escolinha do Iate. E, no ano passado, participou das primeiras competições em Brasília, na categoria estreante.
;Gosto de sair para velejar. Gosto de competir;, afirmou. ;Mas acho que vou ficar nervosa lá em Niterói porque vai ser meu primeiro Brasileiro. Vai ter muito barco;, ressaltou a filha de Lars, que sonha em seguir os passos do pai e do tio Torben e chegar a uma olimpíada. ;Deve ser muito legal correr uma regata em um lugar diferente e com pessoas de vários países;, imaginou.
Nicholas, por sua vez, não é um estreante. Em 2008, competiu no Brasileiro de Foz do Iguaçu. E, como o pai, teve uma primeira participação discreta. ;Tinha 160 barcos e fiquei em 100. Agora, vou tentar ficar entre os 30;, adiantou. ;Ele traçou uma meta muito difícil. Se ele ficar entre os 50 já vai estar muito bom;, ressaltou Lars.
Com dois pódios olímpicos no currículo, recheado de outros títulos de destaque, Lars Grael é direto ao confessar: ;Torcer é um sofrimento às vezes muito maior do que competir. Quando eles vão bem é um orgulho enorme. Mas quando vão mal, é uma angústia muito grande;, garantiu.
Seja como for, com orgulho ou angústia, Lars sente uma enorme satisfação ao ver Sofia e Nicholas garantindo a herança dos Grael. ;Fico muito feliz porque é uma tradição de família. Tentamos passar para eles valores de amor ao esporte, de cuidado com o meio ambiente e de formação de caráter. Espero que eles aprendam a velejar e que gostem. Uma vez aprendido isso, o resto vem naturalmente;, ensina.
Essas e várias outras lições parecem já ter sido assimiladas por Sofia. ;Aprendi muita coisa com o meu pai. Ele me ensinou a andar mais orçado (termo de navegação que significa aproveitar melhor o ângulo do barco em relação ao vento), a cambar (nome da manobra em que o velejador troca de lado no barco) menos e a sentar mais na frente do barco para fazer ele ir mais rápido;, revelou. ;Ah, ele já me ensinou tanta coisa que é até difícil lembrar de tudo;, encerrou a pequenina velejadora.