postado em 05/02/2009 10:30
Primeira vez finalista da disputa pelo direito de ser sede de uma Olimpíada, o Rio de Janeiro entra em 2009 na reta final dos trabalhos para derrotar as candidaturas de Chicago, Madri e Tóquio pela edição 2016 dos Jogos. Até a data do anúncio decisivo, 02 de outubro, o Brasil tentará convencer os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) de que possui capacidade para organizar o maior evento esportivo do planeta.
A campanha terá basicamente dois "momentos-chave": o envio do dossiê detalhado da candidatura, até 12 de fevereiro, e a visita da comissão de avaliação do COI, entre 29 de abril e 02 de maio. Nestas oportunidades, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e diversas esferas do governo vão se esforçar para provar que as falhas dos fracassados projetos "Rio-2004" e "Rio-2012" foram superadas.
A missão, no entanto, não é simples: na primeira fase da seleção das candidaturas, encerrada em junho do ano passado, o Rio de Janeiro recebeu a pior média entre o quarteto remanescente: 6,5. O número é pior do que a eliminada Doha, excluída da disputa por ter proposto a realização dos Jogos de 2016 em outubro, fora do período especificado pelo COI (de 15 de julho a 31 de agosto).
O fato, entretanto, é minimizado por Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB e do Comitê de candidatura verde-amarelo. "Estas notas valem meramente para definir as cidades que vão à fase final. Elas serão zeradas e as candidaturas passam a ser avaliadas pelo dossiê. Analisando as notas de cidades que conquistaram as Olimpíadas, nota-se que quem tirou as maiores notas não fará os Jogos. Para 2012, Londres foi terceira. Já Sochi (cidade russa que sediará os Jogos de Inverno de 2014) teve a nota mais baixa das cidades e ganhou", argumenta.
No auxílio à campanha olímpica, o governo federal liberou inicialmente nada menos que R$ 85 milhões - um valor que já teve acréscimos para contração de consultorias estrangeiras e que é alvo de investigação do Ministério Público. Além disto, existe a possibilidade de haver uma CPMI nos próximos meses para investigar a aplicação de verbas públicas no movimento olímpico brasileiro.
Ao mesmo tempo em que tentam abafar a criação da CPMI, COB e Ministério do Esporte se articulam para juntar justificativas suficientes para trazer uma Olimpíada para a América do Sul pela primeira vez na história. Entre os colaboradores, está a consultoria McKinsey & Company, que trabalhou na vitoriosa candidatura de Londres-2012, além de Michael Payne, que conseguiu valorizar a marca olímpica, quando exerceu o cargo de diretor de marketing do COI, entre 1988 e 2002.
O comitê da candidatura brasileira divulgou, no começo do ano passado, uma estimativa inicial de gastos na casa dos R$ 5,5 bilhões, um valor 37,5% maior que o gasto no Pan-2007, que teve suas finanças contestadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) -Nuzman negou este número em evento realizado no dia 13 de janeiro, no qual explicou a elaboração do dossiê, que conta com 600 páginas, a ser entregue no mês que vem. "Nunca falei em número nenhum, até porque nunca existiu nenhum número", alegou.
Entre as ações já realizadas pelo Rio-2016 está o patrocínio a uma roda gigante de 36 metros no Forte de Copacabana, que no ano passado foi utilizada como ação promocional de uma marca de cerveja. Sob orçamento total de R$ 6 milhões, dividido com outras empresas, a atração visa divulgar o projeto olímpico da cidade. "A primeira ação realizada no local foi a contagem regressiva do Réveillon 2009, um evento que teve imagens divulgadas para o mundo inteiro", comentou Leonardo Gryner, diretor de Marketing e Comunicação da candidatura à Gazeta Esportiva.Net.
De acordo com ele, o retorno da associação com a marca Rio-2016 vem sendo muito positivo. "A roda gigante já virou um ícone do verão carioca", assegura Gryner, alegando que a ação também tem um lado prático. "A roda é um local onde cariocas e turistas brasileiros e estrangeiros podem se informar sobre a candidatura e se cadastrar como voluntários", explicou.
Ele lembra que a base do projeto do Rio de Janeiro são os polêmicos Jogos Pan-americanos de 2007. "Os Jogos Pan e Parapan-americanos foram resultado de uma experiência inédita de trabalho em conjunto dos três níveis de governo em torno de um mesmo projeto. Essa coordenação multigovernamental está sendo aprimorada ainda mais no projeto Rio 2016", afirma Gryner.
Na opinião do ex-prefeito Cesar Maia, o evento continental é justamente o que pode fazer a diferença para o sucesso carioca em sua terceira tentativa de sediar a Olimpíada. "A prefeitura organizou o comitê para 2004, com apoio do governo federal, mas a nossa candidatura naufragou. Descobrimos ali que havia um erro de conceito: quem tem que encomendar um projeto olímpico é o esporte, não a administração pública. Nós somos viabilizadores e ponto final. Fizemos essa inversão para 2012 e também não fomos classificados. Por quê? Porque ali descobrimos que tínhamos um projeto absolutamente competitivo, mas ele era uma possibilidade, uma vontade de fazer. Com o Pan subimos de status: saímos da vontade para uma grande base já realizada", argumenta.