postado em 16/02/2009 09:36
Aos 45 anos, o espírito olímpico de atleta se mantém mais vivo do que nunca. Tanto que, uma década depois do acidente em que perdeu a perna direita, Lars Grael demonstrou garra e experiência para garantir, no último dia 8, uma vaga na Equipe Permanente de Vela Olímpica (EPVO) pela classe star. Apesar das restrições físicas para se movimentar, o medalhista de bronze nos Jogos de Seul (1988) e Atlanta (1996) admitiu estar sentindo o mesmo vigor dos seus 20 anos e a mesma empolgação de antes.
Lars sempre quis voltar a velejar em alto nível e, desde o ano passado, vinha conseguindo resultados expressivos com seu ex-parceiro, Marcelo Jordão, de São Paulo. Ele foi campeão brasileiro, sul-americano, vencedor do Estadual do Rio de Janeiro, do Campeonato do Distrito Federal e ainda faturou a Semana de Vela Internacional do Rio. Mas, com dificuldade para conciliar a sua agenda com Jordão, Lars apostou numa mudança. Optou por um proeiro (responsável pelas regulagens das velas) da Capital Federal: Renato Moura, mais conhecido pelo apelido de ;Tinha;.
;Começamos a treinar em janeiro, pois até então só velejávamos esporadicamente. Das nove regatas da pré-olímpica, vencemos oito e tivemos problemas em uma, quando quebramos o mastro do barco;, lembrou o atleta. ;A decisão de trocar de proeiro foi minha. Marcelo mora em São Paulo e era difícil velejar com frequência. Queria ter alguém mais perto já que moro em Brasília;, disse Lars.
Disposto a investir seu tempo na vela, o atleta do Iate Clube pretende intensificar os treinos de olho no calendário de competições internacionais. A rotina com relação às atividades na água e a preparação física será maior, mesmo dividindo seu tempo ministrando palestras motivacionais pelo país e o cargo de consultor da Light no Rio de Janeiro ; empresa de fornecimento de energia elétrica. ;Por causa da minha deficiência não posso escorar (fazer o contra-peso) o barco com a mesma capacidade que o Tinha. Ele tem 98 quilos, mas terá de ganhar peso para trabalhar melhor. Precisará chegar aos 108 quilos, enquanto eu vou necessitar de baixar dos 89kg para 86. Assim teremos mais equilíbrio na embarcação.;
Lars, de fato, quer fazer um trabalho sério pensando em participar dos Mundiais de 2009, na Suécia e o de 2010, no Rio. E, quem sabe, ter condições de brigar pela vaga olímpica nos Jogos de Londres, em 2012. Orientados pelo treinador Eduardo Penido, campeão olímpico em Moscou (1980), pela classe 470, a dupla de velejadores não pretende descansar nem no carnaval. Na semana que vem, eles estarão no Rio para treinar e testar as velas do barco.
Duelo
O brasileiro, que chegou bem perto de participar dos Jogos Olímpicos da China, garantiu que não planejava a vaga como meta pessoal. O atleta afirmou que não fez uma preparação como deveria e só velejava quando restava tempo. Mesmo assim, mostrou estar em forma e promoveu um duelo espetacular com a dupla Scheidt e Bruno Prada, que levou a melhor na conquista da vaga olímpica e depois faturou a medalha de prata em Pequim.
Para o novo ciclo olímpico, Lars sabe que existem muitos adversários bons. Além de Robert Scheidt e Bruno Prada, número um do ranking, seu irmão Torben Grael, dono de cinco medalhas olímpicas, também deverá brigar pela vaga. ;Além disso, Reinaldo Conrad (medalhista em 1968, no México), admitiu que está pensando em Londres. Tem gente sonhando e eu sou mais um;, atestou Lars.
Renovação
A carreira esportiva dos irmãos Grael ganha seguidores. Na recente seletiva para formar a Equipe Olímpica Permanente, outros dois atletas, filhos de Torben, ingressaram nesse ranking familiar: Marco, e Martine. Ele, velejando no barco 49er como proeiro do atleta olímpico André Fonseca, o Bochecha, e sua irmã, como tripulante da velejadora Juliana Senfft na classe Match Race feminino.
AQUECIMENTO
Lars Grael esteve em Brasília ontem para competir na regata de comemoração dos 49 anos da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) do Distrito Federal. Os ventos de apenas quatro nós não desanimaram Lars e os outros 175 inscritos. Com o veleiro Stand by Me e na companhia dos amigos Caetano e Renato Moura, além da esposa, Renata Grael, Lars chegou em primeiro lugar no Grupo A na RGS-DF. Ele terminou em quinto no geral.
EQUIPE PERMANENTE DE VELA
RS:X masculino ; Ricardo Winick, o Bimba (RJ)
RS:X feminino ; Patrícia Freitas (RJ)
470 masculino ; Fábio Pillar e Samuel Albrecht (RS)
470 feminino ; Fernanda Oliveira e Ana Barbachan (RS)
Laser standard ; Bruno Fontes (SC)
Laser radial ; Adriana Kostiw (SP)
Finn ; Jorge Zarif (RJ)
Star ; Lars Grael e Renato Moura (DF)
49er ; André Fonseca e Marco Grael (RS/RJ)
Match Race feminino ; Juliana Senfft, Gabriela Nicolino e Martine Grael (RJ)
Convite especial
O brasiliense Renato Moura, 35 anos, o ;Tinha;, começou na vela aos 8 anos de idade por pura diversão. E, apesar de tomar gosto pela modalidade competitiva, não teve chance de se dedicar exclusivamente ao esporte devido à falta de apoio. A necessidade de trabalhar o fez acreditar que a fase de atleta já tinha passado. Mas, este ano, uma oportunidade única bateu à sua porta.
Depois de competir algumas vezes pela classe star ao lado de Lars Grael nas regatas em Brasília, ele foi convidado para ser o proeiro oficial do velejador olímpico. Tinha não esconde a satisfação. ;Conseguir a vaga na equipe permanente de vela e uma sensação muito boa. Nela, estão os melhores do Brasil. O grupo é seleto e todos sabem que chegar lá (se classificar aos Jogos de Londres-2012) é difícil;, garante Renato Tinha.
Mas o primeiro passo para novos desafios foi dado. Tinha contou que a dupla pretende participar de inúmeras competições este ano, de olho nos Mundiais de 2009 e 2010 e, no futuro, pensa em brigar pela vaga olímpica. ;Lars é um ídolo para mim. Ele mostrou ser um cara determinado, apesar do acidente que sofreu e que perdeu a perna direita. É um exemplo de superação; destacou o atleta candango, que atualmente divide o seu tempo entre o emprego e o barco. Ele trabalha com o irmão, Rodrigo Moura, o Kiko, como designer de páginas para a internet.
Renato Tinha iniciou na vela na classe optimist (categoria escola, para crianças de seis a 15 anos) como a maioria dos garotos. Estimulado pelo tio, Renato Pitanga, ele e Kiko logo adquiriram um barco e passaram a competir. Quando chegou na idade limite para a categoria, decidiu, primeiro pela classe dingue, na qual conquistou, em 1991, o título brasileiro. O atleta ainda velejou em barcos como laser, o próprio star e nos de oceano, mais possantes. (ER)