postado em 13/03/2009 16:18
Modalidade que deu sete medalhas ao Brasil nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, o caratê passa por um momento bastante conturbado neste começo de 2009. Como se já não bastasse todas as dificuldades que envolvem os esportes amadores no Brasil, os praticantes nacionais da "luta das mãos vazias" veem sua temporada ameaçada por brigas e conflitos nos bastidores.
Nesta sexta-feira, a Federação de Karatê do Rio de Janeiro entrou com protesto na Confederação Brasileira (CBK) contra a lista de convocados para os treinamentos que visam o Campeonato Pan-americano da modalidade, programado para maio, nas Antilhas Holandesas. Trata-se da principal competição verde-amarela no ano.
De acordo com os cariocas, não existem critérios na hora da convocação dos atletas: o presidente Edgar Ferraz puniria lutadores contrários à sua gestão com o afastamento do time nacional. Caso não haja uma solução, a promessa é de entrar na Justiça Comum já na próxima semana para tentar resolver o imbróglio.
Entre os atletas não chamados estão Juarez dos Santos, Carlos Lourenço e Vinicius dos Santos, respectivamente ouro, prata e bronze no Pan Rio-2007. "Em janeiro, houve eleições na CBK e a oposição, com oito federações, incluindo o Rio de Janeiro, conseguiu anular o pleito. Em represália, ele não chamou os nossos atletas", explicou Manoel Varella, técnico da seleção carioca, que sagrou-se campeã por equipes do último Campeonato Brasileiro.
De acordo com ele, a forma utilizada pelo dirigente para isso foi considerar como critérios os campeões individuais nacionais do ano passado, os vencedores do Pan-americano juvenil do ano passado e os participantes do Mundial do Japão, realizado em novembro - Juarez, Lourenço e Vinícius até estavam classificados para disputar o título mundial, mas, por falta de verbas, não foram ao Oriente e, consequentemente, não foram chamados agora.
"Vamos brigar na Justiça, se eles não nos reintegrarem. Estamos todos unidos contra essa injustiça", afirmou Varella, que também é treinador dos lutadores. Na verdade, a briga nos bastidores do caratê já é de longa data, mas ganhou contornos mais tensos no Campeonato Brasileiro do ano passado, disputado em novembro na cidade mineira de Uberlândia.
Na ocasião, os atletas que disputaram o Pan do Rio, em 2007, ficaram sabendo que não teriam mais direito às verbas do Bolsa Atleta, pois a CBK havia informado ao Ministério do Esporte que a principal competição pan-americana daquele ano foi o Pan específico da modalidade, realizado em maio, no México, e não a disputa carioca, para a qual a chamada "seleção A" havia sido treinada e convocada - inclusive, sob a alegação de uma melhor preparação para o torneio no Rio de Janeiro, os dirigentes da CBK impediram que os atletas fossem à América Central, para onde enviaram um "time B".
"Sem o dinheiro do Bolsa Atleta, aí é que eu não tive condições de juntar os R$ 10 mil para ir ao Mundial do Japão", afirma Vinícius, que, sem patrocinadores, tem como maior objetivo no ano "tentar continuar treinando bem". "O atleta não pode pagar pelo erro político de ninguém, mas chegamos ao ponto de vários atletas, ex-atletas e técnicos estarem contra a CBK. É um sinal de que as pessoas que estão lá não estão desempenhando um bom trabalho", emenda.
A própria CBK admite que, por falta de recursos da entidade, não teve como bancar a viagem dos 13 atletas que foram ao Mundial - todos eles pagaram os custos do próprio bolso ou com a ajuda de patrocinadores pessoais. Por não ser esporte olímpico, o caratê não pode contar com o apoio e recursos oriundos do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), como a Lei Agnelo-Piva. "Só temos verbas esporadicamente do governo federal e nossa anuidade é muito baixa. Não temos dinheiro", alega Luiz Otávio Lacombe, atual técnico da seleção brasileira.
Ele explica que a CBK tem condições de bancar, no máximo, a infra-estrutura e as hospedagens de hotéis em casos específicos, como o deste final de semana, quando os convocados para o Pan-americano das Antilhas ficarão três dias hospedados em Presidente Prudente, onde receberão as instruções para os treinamentos. Dos 22 inicialmente chamados, 12 (sete no masculino e cinco no feminino) vão ser selecionados para, de fato, lutar pelas medalhas em maio.
Lacombe defende os critérios estabelecidos, lembrando que o Brasil contou com 13 atletas, agora novamente chamados, no Mundial. Ele acredita que, apesar dos desfalques, conta com uma equipe de alto nível para o Pan-americano 2009. "Minha expectativa é a melhor possível. Acho que temos condições de ganhar o título geral, que não vem para o Brasil há nove anos", afirmou o treinador, que era justamente o técnico nacional nesta última conquista - depois, ele se afastou do cargo e assumiu as categorias de base, voltando ao posto no último mês de janeiro.
Sobre o fato de o Pan-americano do Rio não ter sido considerada a principal competição de 2007 para fins da obtenção do Bolsa Atleta, ele afirma que a CBK é filiada a Panamerican Karate Federation (PKF) e que foi indicado o campeonato realizado por ela. Já Jogos Pan-americanos é um evento ligado a Odepa. "E o COB é quem é ligado à Odepa e não a gente", explica Lacombe. Ele ainda diz que não sabe o porquê da decisão de não mandar o time "A" para o México, pois não fazia parte da comissão-técnica.
Segundo Lacombe, a polêmica não vai afetar a preparação da equipe nacional. "Não sou político, mas acredito muito no nosso presidente que está aí. Meus atletas estão acima disso", assegura. Procurado pela equipe de reportagem, Edson Ferraz não foi encontrado por estar em viagem ao Tocantins - o dirigente tem a sua última eleição, realizada em 17 de janeiro, contestada na Justiça pela oposição, que alega que ele realizou a Assembléia em condições irregulares.