postado em 20/03/2009 09:57
O repatriamento das campeãs olímpicas Sheilla, Mari e Fofão pelo time do São Caetano/Blausiegel criou um novo cenário no voleibol feminino brasileiro: depois de quatro temporadas fazendo a final da Superliga, Rexona/Ades e Finasa/Osasco finalmente tinham o domínio ameaçado. Além do ABC, o perigo partia também - ainda que em menor grau - do Pinheiros/Mackenzie e do Brasil Telecom.
Logo na final do primeiro turno, eis que surge uma enorme surpresa: o jovem time do Minas, que por muito pouco não ficou fora da disputa devido à falta de apoio, desbancou o poderoso Osasco e encarou o Rexona, mesmo duelo que agora se repete nas quartas-de-final. No confronto, deu a lógica: fáceis 3 a 0 para as cariocas, mas ficou o sentimento de que o marasmo na modalidade realmente estava com os dias contatos.
Entretanto, três turnos depois, e a conclusão é exatamente a oposta: apesar de alguns percalços, o Osasco se recuperou e fez as outras três finais de turno contra o Rexona, que manteve o alto nível. Enquanto isso, os rivais não conseguem nada além de uma campanha instável e terão que melhorar muito nos playoffs para bater os tradicionais adversários.
Apesar de a diferença entre o segundo e o terceiro colocado na classificação geral ter diminuído neste campeonato (de oito para cinco pontos), o Rexona entra na fase de mata-mata mais favorito do que nunca: além de ter vencido os quatro mini-torneios, as atuais campeãs aplicaram verdadeiras surras no Osasco nas duas últimas partidas entre as equipes: 3 a 0 incontestáveis e fora de casa.
Apontado pelas atletas como o grande fator de desequilíbrio, o técnico Bernardinho abusa da modéstia. "Isso é difícil dizer", argumenta o treinador, questionado sobre a razão de tamanho sucesso. "É um pouco de razão daqui, um pouco de lá... nós temos é que tentar fazer as coisas da melhor maneira possível. Em momentos importantes, tivemos um melhor desempenho, mas acho que isso não deve ser levado em consideração em momentos futuros", alerta.
Comandante do Rexona nas cinco campanhas vitoriosas do time na história da Superliga, ele chega ao ponto de jogar o favoritismo para o outro lado da quadra. "Não podemos imaginar que somos favoritos por causa disso aí (a excelente campanha na primeira fase). O Osasco continua favorito, pois possui mais possibilidades que a gente no momento de uma final. Nesta temporada, eles não só se fortaleceram, como se fortaleceram enfraquecendo os outros, pois contrataram a Thaísa, a Sassá, a Lia...", observa.
Por sua vez, o técnico do Osasco, Luizomar de Moura, garante que o time não ficará abatido com os revezes. "Agora começa um novo campeonato e tudo o que foi feito fica para trás", lembra o treinador. "Se na sexta passada (dia da final do quarto turno), a gente tivesse vencido, meu discurso seria o mesmo. Temos que aprender com os nossos erros", afirma o treinador.
Responsável por abrir os playoffs nesta sexta diante do Medley/Banespa, o Osasco poderá contar novamente com Paula Pequeno. Eleita a melhor jogadora das Olimpíadas de Pequim, a capitã da equipe esteve afastada das últimas seis partidas devido a uma lesão no joelho. Mas isso não é motivo para encher Luizomar de confiança diante de uma equipe que conta apenas com dez jogadoras - um problema com o patrocínio atrasou os pagamentos das atletas e quatro delas deixaram o clube.
"O time delas, que já jogam sem responsabilidade, passou por situações que as forteleceram. Só o fato de elas estarem nos playoffs diante de tudo isso valoriza o Banespa. Temos que tirar o chapéu para eles", reconhece Luizomar. Ele aponta justamente a estabilidade como fatores que tem deixado Osasco e Rexona sempre um passo à frente dos demais. "Os patrocínios desses times fazem muito pelo voleibol e nos dão justamente condições de trabalhar tranquilos", destaca.
Auxiliar técnico da seleção brasileira feminina e comandante do Pinheiros/Mackenize, Paulo Coco atribui a manutenção da hegemonia justamente ao trabalho já feito. "Temos uma panorama muito favorável a Rexona e Osasco em virtude do que eles fizeram nos últimos anos", afirmou o técnico. "Criou-se uma expectativa muito grande por causa do São Caetano, mas isso é um trabalho de organização e planejamento que demora um tempo", observa.
A despeito da própria análise, Paulo reconhece que o desequilíbrio nesta temporada talvez não seja tão grande. "De uma certa forma, times como Pinheiros e São Caetano aproximaram-se um pouco, pois o nível do voleibol brasileiro deu uma crescidinha", destaca o técnico, que terá um duelo complicado diante do Brasil Telecom por uma vaga na semifinal. "Foram dois 3 a 2 para nós durante a fase classificatória. Este tem tudo para ser o duelo mais difícil", acredita.
Pelos lados do São Caetano, o discurso é de recomeço. "Estamos todas muito animadas, nos dedicando bastante aos treinos e com a cabeça voltada somente para o playoff. Agora muda tudo", acredita a levantadora Fofão. "Todas as equipes entram zeradas e tanto o primeiro, quanto o oitavo colocados têm chances e podem acreditar na classificação. É uma fase difícil, mas que sempre dá um ânimo a mais", garante.
Além de Fofão, o time do ABC aposta na competência de Sheilla. A camisa 13 da equipe e da seleção brasileira é, até o momento, a maior pontuadora da competição, com 337 acertos em 22 jogos - segunda colocada no ranking, Joycinha, do Rexona, soma 332, mas conta com quatro jogos a mais, decorrentes das finais de turno.
"A partir de agora vou procurar fazer ainda mais. Acho que pela confiança que a Fofão tem em mim, por termos jogado quatro anos juntas na seleção, ela deve me procurar bastante nessa próxima fase e estou preparada para ajudar o São Caetano a classificar para a semifinal. Não só eu, como todo o time. Queremos muito essa classificação", lembra.
Do outro lado da quadra, no entanto, estará o Mackenzie/Cia do Terno, equipe que conta com a força da veterana Bia, ex-seleção brasileira. E o time mineiro promete dar trabalho. "Nossa intenção é aproveitar a irregularidade deles e a nossa crescente", afirma o técnico Sergio Vera, que "esquece" as duas derrotas sofridas para as rivais durante a fase classificatória.
"No primeiro jogo, nós as respeitamos demais, mas na segunda partida tivemos a consciência de que era possível enfrentá-las", acredita, se referindo aos sets perdidos por "apenas" 25/22 e 25/23 fora de casa. Ele ressalta a figura de franco antirador do Manckenzie. "Depois de nem nos classificarmos para os playoffs no ano passado, nosso objetivo era de passar em sétimo. Passamos em sexto e já estamos no lucro", avisa.