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Brasileiras formam seleção de críquete, treinam no gramado da Esplanada e seguem rumo à Copa das Américas

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postado em 10/04/2009 09:36
O críquete é o segundo esporte mais praticado no mundo. Ainda assim, é um mistério para os brasileiros. Muitos conhecem apenas um ;primo pobre;, o bete (do inglês bat: bastão), que obedece dinâmica semelhante ao jogo de origem britânica, mas com regras simplificadas e redução do número de jogadores. No entanto, Brasília tem se destacado como a capital nacional da modalidade. Praticado nos gramados da cidade por membros do corpo diplomático internacional, o esporte tem crescido bastante, especialmente entre as mulheres. Em dois anos de formação, a seleção feminina conseguiu crescer e disputa, em maio, a Copa das Américas, na Flórida (EUA). Na reta final para o torneio, considerado o mais importante da modalidade, a equipe dedica em uma média cinco dias a treinos semanais. Entre tacadas, arremessos e algumas contusões, elas garantem: em breve, estarão em condições de competir com as líderes do esporte mundial. Será o segundo desafio da equipe feminina. Em janeiro, a delegação viajou para participar de um campeonato em Buenos Aires. Não conseguiram vencer nenhuma partida. ;Mesmo assim, ficou claro o crescimento técnico da equipe;, disse Rudy Hartmann, técnico da equipe. Segundo ele, a inscrição na Copa das Américas foi sugerida pelo Conselho Internacional de Críquete ; International Cricket Council (ICC), que aprovou o empenho das brasileiras. Hoje, o time conta com 16 jogadoras, com idade entre 18 e 34 anos ; 14 viajam para a competição. Algumas já são velhas conhecidas no desporto. É o caso de Márcia Negreiros, bicampeã mundial de futevôlei, e a capitã Kika Reinehr, que chegou às seletivas das Olimpíadas de Atenas, no caiaque-pólo. Conscientes do desafio que têm à frente, elas optaram por treinos mistos com membros da equipe masculina. Assim, buscam ganhar a agilidade, confiança e força. ;São treinos que exigem muito, mas nos colocam a par do que encontraremos lá;, explica Adriana Ribeiro, 28 anos. ;As canadenses, por exemplo, jogam com uma intensidade próxima à das equipes masculinas.; Adriana faz parte do time desde outubro do ano passado. Fundamentos A agilidade das jogadoras é treinada com uma máquina de arremessos de bolas, em treinos semanais, e em corridas na areia para ganhar velocidade. Além da técnica, elas também treinam a forma correta de apanhar uma bola. Confeccionada em cortiça e revestida de couro, a bola pode atingir velocidade superior a 100km/h, suficiente para fraturar um osso. Assim, por questão de segurança, são usados capacete, luvas especiais e protetores de pernas e joelhos. Apesar de treinar há menos de três anos, a estudante Juliana Brito, 24 anos, é considerada uma veterana no esporte. Ela conheceu o críquete em aulas na Universidade de Brasília, em 2006. Hoje, assume papel de liderança, especialmente entre as mais novas, graças ao bom desempenho em todas as fases do jogo. ;Demonstro às iniciantes que isso é resultado de observação de jogadores experientes e da prática sem medo em campo;, explicou. Se depender de garra, a equipe brasileira estará em breve no páreo entre as melhores. ;Levamos os treinos a sério e em pouco tempo conseguimos perceber melhora de desempenho. Temos a consciência de não sermos favoritas, mas também não faremos feio na Flórida;, completou Juliana. A equipe treina geralmente no gramado da Esplanada dos Ministérios, com times de embaixadas de países que passaram pela colonização britânica, como Paquistão, Índia e Austrália. Seleção masculina em ação Até domingo, será disputado em São Paulo o 8º Campeonato Sul-Americano Masculino de Críquete. É a primeira vez que o Brasil sedia o torneio, que contará com equipes da Argentina, Chile e Peru. Amanhã, a Seleção Brasileira enfrenta os peruanos e, no domingo, os argentinos. Os jogos serão realizados no campo de críquete do São Paulo Atlhetic Club, em Santo Amaro. O campeonato é organizado pela Associação Brasileira de Cricket, com o apoio do Conselho Internacional de Críquete ; International Cricket Council (ICC) ;, órgão máximo da modalidade. Sotaque britânico O críquete chegou ao Brasil no fim do século 19, quando os ingleses vieram trabalhar em ferrovias. O esporte está para as colônias inglesas assim como o futebol está para o Brasil: é jogado desde a infância, dos lordes ao proletariado. Por aqui, o críquete clássico nunca se manteve em voga. No entanto, ele influenciou o bete, uma das mais populares brincadeiras de infância. A diferença entre as duas atividades é o rigor das regras, a começar pela redução dos times ; no críquete, cada equipe conta com 11 jogadores, no bete, joga-se com duplas. Nas ruas, o improviso também transformou o taco oficial num cabo de vassoura ou pedaço de pau. A dura bola de cortiça revestida em couro é facilmente substituída pela bola de tênis ou de borracha.

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