postado em 15/04/2009 10:25
No fim de janeiro, um esperançoso Alyson contava à Gazeta Esportiva.Net sua aposta no Petrolina como prova de que acertou ao trocar o trabalho de funcionário público federal para seguir os passos de seu irmão dois anos mais novo, Hernanes. Após pouco mais de dois meses, o meia-atacante de 25 anos se contenta com o futebol sergipano e celebra a queda de sua ex-equipe no Campeonato Pernambucano como lição para as más administrações.
Sem receber no clube que confirmou seu rebaixamento com uma rodada de antecedência e revoltado com a falta de condições estruturais, o meia-atacante voltou ao Itabaiana-SE, time em que mais se destacou desde sua volta ao futebol profissional, em 2008. Dizendo-se mais tranquilo financeiramente, o jogador nem sabia do fracasso do Petrolina. Porém, já alertou para uma possível greve de seus companheiros.
Falando do Sergipe com a GE.Net, Alyson mostrou surpresa com o destino do Petrolina, mas logo se conformou. "Caiu mesmo? Nossa! Sinto pelos jogadores que ficaram lá, tentando lutar contra as dificuldades. Mas eu torcia para a equipe ser rebaixada, assim como os principais jogadores do grupo. Um time naquelas condições não podia fazer parte da elite do futebol pernambucano", defendeu, disposto a fazer seus ex-superiores a pagarem pela ligeira desilusão que causaram em seus planos de se igualar a Hernanes.
"Joguei lá dois meses e meio e só recebi 40% do salário mês de dezembro. Isso até me desanimou", admitiu. "Eu, como vários jogadores do Petrolina, vou entrar na Justiça se não me pagarem até o final do campeonato (domingo). E soube por amigos que estão lá que, se não pagarem nesta semana, nenhum jogador entraria em campo na última rodada (contra o Serrano, fora de casa). Mesmo rebaixado, o clube seria multado por isso", avisou.
A curta passagem pelo Petrolina é mais uma frustração na carreira de Alyson. Nascido em Recife, como Hernanes, o irmão mais velho da família do são-paulino se destacou no futsal pernambucano e em 2003 se tornou profissional no campo defendendo o Intercontinental, já extinto clube de seu estado. Deixou a equipe por divergências com os dirigentes e abandonou o futebol no ano seguinte. Tornou-se técnico do Ministério Público da União. Mas desistiu da vida no escritório motivado pelo sucesso de seu mais famoso parente no Morumbi.
Confiante, atuou por Pirambu e Itabaiana, ambos do Sergipe, em 2008. Animou-se com o convite do Petrolina para voltar ao seu estado e atuar em um campeonato mais valorizado. Até aceitou ganhar 70% do que receberia se renovasse com o Itabaiana. E a decepção não demorou a aparecer.
"Aguentei enquanto pude porque era um campeonato com uma visibilidade maior, mas o time começou a cair de rendimento. Começamos com o salário atrasado e era só promessa atrás de promessa", reclamou. "Torcia para a equipe ser rebaixada porque gosto de futebol como forma de espetáculo, como um atrativo para o público local. Com as condições que foram propostas, era para cair mesmo."
As escassas atuações pelo time que conquistou apenas 12 de 63 pontos possíveis no Estadual foram suficientes para deixar no meia-atacante uma visão pessimista quanto ao futebol pernambucano. O estádio do Petrolina estava interditado e a equipe do Sertão do São Francisco era obrigada a encarar 200 km para mandar suas primeiras partidas no torneio em Serra Talhada. E quem mais sofria era o elenco.
"As viagens duravam entre 9 e 11 horas em um ônibus sem ar condicionado, muitas vezes dividindo com os juniores, que fazem as preliminares. Saíamos à meia-noite, chegávamos às dez da manhã e, quando chegávamos, não tinha nada pronto no hotel, não liberavam a hospedagem... E ainda tínhamos que jogar às quatro da tarde do mesmo dia. Em campo, esquecíamos de tudo isso e dos salários atrasados, mas o time não rendia", relatou Alyson.
O irmão mais velho da família de Hernanes desistiu destes obstáculos em 3 de março, dois dias após o empate sem gols com o Ypiranga, já em Petrolina, na primeira rodada do segundo turno do Pernambucano. O jogador garante que deixou seu clube sem criar problemas com os diretores, que facilitaram sua saída para o Itabaiana para receber o mesmo salário que ele recusou no fim do ano passado.
"Quando as portas fecharam no Petrolina e ouvi a proposta daqui, nem pensei duas vezes. Apesar não participar de um campeonato como o Pernambucano, tudo o que foi prometido está sendo cumprido. Além disso, já recebi na mão. Ou seja, recebi para poder jogar", argumentou.
O prestígio de Alyson no Itabaiana era tanto que a diretoria correu para regularizar sua documentação até 6 de março, último dia para inscrições no Campeonato Sergipano. E o jogador logo fez o que faltou no Petrolina: gols e boas atuações. "Lá no Petrolina não consegui fazer nenhum gol, mas aqui já fiz dois em nove partidas. E um deles foi importante, porque classificou a nossa equipe para o quadrangular final", contou, alegre.
E é no Sergipe que o irmão do camisa 10 do Morumbi tentará, mais uma vez, chamar a atenção por seu futebol, e não pelo parentesco. No quadrangular que definirá os dois finalistas do Sergipano, o Itabaiana é o último colocado, sem nenhum ponto após três partidas. Precisa vencer os três jogos restantes e torcer por um empate entre Confiança e Sergipe na penúltima rodada para ir à decisão.
Se conseguir este feito e o título estadual, o clube disputará a Série D do Brasileiro - também joga a quarta divisão do Nacional se for vice-campeão, mas neste caso a taça precisaria ficar com o Confiança, único sergipano garantido na Terceirona. Assim, Alyson crê que pode finalmente brilhar. "O Itabaiana é um dos clubes grandes daqui. E, graças a Deus, cumpre tudo o que promete", alivou-se o ainda esperançoso irmão mais velho de Hernanes.