postado em 22/05/2009 18:45
Após retornar de viagem do Rio de Janeiro, André Santos chegou tarde em casa na quinta-feira: já passara a hora do almoço. Por volta das 15h30, estava deitado no sofá esperando a comida quando o técnico Dunga elencou os 23 selecionados para defender o Brasil nos próximos compromissos do time canarinho.
Os repórteres presentes na sede da CBF, no Rio, leram em ordem alfabética ao vivo a lista de Dunga: "Alex, Alexandre Pato, André Santos, Daniel Alves..."
Ao ouvir seu nome, o lateral esquerdo corintiano (corintiano mesmo, desde criancinha), não teve muita reação: não esperava ser chamado. Na hora, ficou atônito. "Não tinha caído a ficha". A noiva Suélem pulou de emoção. "Nossa, não acredito", exclamou.
Fato era que André Santos fora considerado por Dunga um dos dois melhores alas canhotos do futebol brasileiro no momento. Mas não houve muito tempo para comemoração: era preciso atender aos telefonemas. Os aparelhos na casa do jogador não paravam de tocar.
O primeiro a ligar foi o volante Cristian - o mesmo que, no último domingo, criticou o excesso de individualismo de André Santos no empate por 0 a 0 contra o Botafogo, no Engenhão. Depois, amigos, familiares, colegas e ex-colegas de clubes procuraram o lateral selecionado.
Enquanto respondia a tantas chamadas, o jogador de 26 anos mal tinha tempo para saborear a realização de mais um objetivo de carreira. Meta que começou como sonho distante nas peladas com os amigos, na infância, quando todos imaginavam vestir uma camisa amarela com o nome Ronaldo ou Romário nas costas.
Nas brincadeiras de futebol, aquele menino canhoto gostava de ser o mais habilidoso da seleção. Geralmente o camisa 10. Rivaldo, na época. Parceiro de ataque de vários 'Ronaldos' na década passada, agora o lateral esquerdo é companheiro de time do verdadeiro - que já não é mais careca e tem um condicionamento físico muito mais avantajado.
O Ronaldo original, camisa 9, não mais da seleção brasileira, mas do Corinthians, procurou André Santos. Para dar os parabéns e sacanear o amigo. Não teve resposta na primeira tentativa. Mais tarde, arriscou nova ligação. "Deixa eu dar moral para ele", pensou o novo lateral da seleção, antes de atender.
Após uma noite de sonhos, André Santos foi ao Parque São Jorge na manhã desta sexta-feira realizar tratamento muscular - sentia dores na coxa direita. Tomou café-da-manhã com Ronaldo, o "presidente" da seleção (embora esteja afastado do cargo temporariamente). "Vou ligar para o pessoal tomar conta do meu filho", provocou o amigo Fenômeno, que nem é tão mais velho assim que o 'herdeiro': a diferença é de seis anos.
Brincadeiras à parte, Mano Menezes alertou o pupilo: "Parabéns, é uma nova etapa na sua carreira. Mas chegar a clube grande é difícil, mas se manter é ainda mais. E na seleção a pressão aumenta inda mais", profetizou o treinador. André Santos chegou ao Parque Ecológico do Tietê para conceder entrevistas já ciente. "A cobrança triplica", calculou o lateral, que não se conteve de curiosidade e foi folhear um jornal em que era a manchete principal.
Apesar da empolgação, André Santos elevou ligeiramente a voz em um momento: quando questionado sobre algumas declarações de comentaristas, que o tachavam de mascarado. A resposta veio afiada: "Quem está deste lado fala o que quer. Concordo que cada um tenha a sua opinião, mas quem vive comigo sabe que não sou assim. Não tenho dúvida de que vou sempre ser o André que sempre fui, desde que cheguei ao Corinthians", prometeu.
E é dessa forma, sem máscaras, mas com muita gana, que André Santos espera herdar a camisa 6, que já passou por grandes jogadores como Branco, Roberto Carlos, Júnior...e também traçar sua história com a amarelinha.