postado em 27/05/2009 15:04
Flávio Saretta deixou o tênis sem alarde. Não anunciou oficialmente, não fez uma partida de despedida, não emitiu comunicado oficial. Esperou ser perguntado para admitir que, aos 28 anos, se tornou um ex-atleta. Sem treinar desde março e ainda colhendo amargos frutos de uma fratura por estresse no cotovelo direito, o ex-número 44 do ranking da ATP optou por abandonar o esporte profissional.
Na verdade, a carreira de Saretta entrou na reta final em agosto de 2007, quando teve constatada a fratura - que já lhe causava dores há alguns meses. O tenista de Americana tentou retornar em meados de 2008. Não conseguiu. A volta 'definitiva' se deu em junho daquele ano, para torneios de nível challenger. Confiança não faltava ao tenista, que dizia ter "nascido de novo" após os nove meses fora das quadras, sem seque conseguir tocar violão - outra paixão do paulista.
Naquela ocasião, Saretta não se importava com o fato de estar na colocação 586 do ranking de entradas. Queria apenas voltar a jogar, mesmo que levasse uma 'bicicleta' (duplo 6/0). A disposição, porém, perdeu espaço com as dores que continuaram agudas. O cotovelo sarou, mas deixou sequelas com um problema crônico no ombro. O tenista pouco poderia treinar, sacar, jogar...
Desde o Challenger de Braunschweig, em junho de 2008 na Alemanha, Saretta disputou 16 torneios. Venceu 11 partidas de simples entre junho e março. O último triunfo veio no início de março, duplo 6/3 no argentino Juan Martín Aranguren, na primeira rodada do Challenger de Santiago (o paulista furou o qualifying). O jogo final foi em seguida: perdeu para o compatriota Franco Ferreiro na segunda etapa, 6/3 e 6/4. O último título, em setembro do ano passado: nas duplas do Challenger de Sevilha, com Rogério Dutra Silva.
Em comparação com a carreira de Saretta, porém, nada muito em relação ao auge do brasileiro, lançado ao tênis em 2000 e que dois anos depois furou o top 100. Em 2003, chamou a atenção em Roland Garros, quando eliminou o russo campeão de 1996, Yevgeny Kafelnikov, na segunda rodada: 3 sets a 2, parciais de 6/4, 3/6, 6/0, 6/7 (7-9) e 6/4. Parou nas oitavas de final - seu melhor desempenho em Grand Slams - diante do gênio norte-americano Andre Agassi, por sets seguidos.
Mas Saretta, que completará 29 anos dentro de um mês e está mais maduro em relação ao 'esquentado' tenista que foi quando iniciante, não tem mais condições físicas de reviver o auge e sequer se aproximar da 44ª colocação do ranking de entradas da ATP - posição que ostentou ainda em 2003. "Meu braço não sarou até hoje, para falar a verdade. A fratura que eu tive não existe mais, só que ainda tenho muita dor no ombro. E isso foi minando meu desempenho", admitiu o hoje ex-atleta, que entretanto não quer se desligar do esporte de raquetes e bolinhas.
"Na verdade, quero estar ligado ao tênis, pois é o que eu sei e gosto de fazer. Não sei ainda o que exatamente, já que estou sem jogar e resolvi parar depois de muito pensar. Agora quero relaxar a cabeça um pouco, mas depois, quem sabe, participar de algumas clínicas ou algo do tipo", projetou.
Saretta, que nunca ganhou um torneio de simples no nível ATP, despede-se com uma medalha de ouro no currículo. Ele conquistou a última insígnia dourada do Brasil nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, em 2007 - foi o sexto tenista nacional a conseguir tal feito na categoria masculina.
Para se igualar em âmbito pan-americano com Ronald Barnes (1963), Thomaz Koch (1967), Fernando Roese (1987) e Fernando Meligeni (2003), Saretta venceu por 2 sets a 1 o chileno Adrian Garcia, parciais de 6/3, 4/6 e 7/6 (7-2). Nas semifinais, o brasileiro derrotara o argentino Eduardo Schwank após salvar dois match points.