postado em 12/06/2009 10:41
Se há uma coisa de que o brasiliense André Miguez nunca se arrependerá é de ter tentado evoluir na carreira de jogador. E, se tiver sucesso, ficará orgulhoso do apoio que recebeu da família para uma investida no exterior, que lhe exigiu separação prematura dos pais e irmãos.
Há quase um mês, lá se foi André, de 15 anos, para a charmosa cidade de Como, na fronteira da Itália com a Suíça, a meia hora de Milão. Na rota do sonho de centenas de jovens brasileiros, ele se aventura num competitivo mercado para tentar buscar o estrelato na maior vitrine do futebol mundial, a Europa. Quem o conhece garante que o lateral-esquerdo é do ramo, desde criança. ;Ele é bom mesmo;, avaliza o amigo Guilherme Sousa.
A transferência do jovem, junto com mais dois brasilienses ; Yago Figueiredo e Lucas Oliveira ;, é apenas mais uma das centenas que ocorrem no país, anualmente. Em 2008, três candangos ; Jean Pablo Martins, Gustavo Coelho Souza da Conceição e José Luiz Nogueira Lopes Júnior, todos com 16 anos, tomaram o mesmo rumo, só que para a Espanha.
Entre 2005 e 2008, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) registrou a transferência de 3.603 jogadores para o exterior, contratados por 327 times. Os brasilienses, porém, não entram nessa contabilidade, pois saem numa negociação ainda pouco divulgada, que não passa pela CBF e que assusta até a Federação Internacional de Futebol (Fifa) pela rapidez com que se expande mundo afora.
Como os jogadores eram menores de idade, as transações dos clubes foram fechadas diretamente com os pais deles e com a participação de dois dirigentes, André Luís Bossolan e Marcelo Brandão. Além de dirigir escolinhas no Distrito Federal, a dupla se relaciona com instituições europeias, intermediando o movimentado negócio de descobrimento de craques. Do lado de lá do Atlântico, os clubes também sonham em encontrar entre os ;importados; pérolas raras como Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Robinho etc. Esses investimentos são estratégicos. Os cartolas estrangeiros evitam esperar que as jovens promessas despontem em gramados nacionais, o que tornaria a transferência milionária.
;Estamos seguros sobre as negociações para que nosso filho viajasse, pois foi um passo de cada vez, um atrás do outro. E nada pode ser feito sobre o futuro profissional do garoto sem a nossa assinatura;, conforta-se o médico Alberto Miguez, pai de André. As palavras são de confiança nos negócios do presente e nos do futuro, mas o valor da ;mesada; que o brasiliense receberá pela transferência é segredo. Porém, o teto da ajuda de custo fixado pela Fifa para garotos de 12 a 15 anos é de US$ 10 mil (R$ 19,5 mil) anuais.
Felicidade
Certo é que André já foi acolhido pela direção do Como ; time que disputou a Série A do Campeonato Italiano na temporada 2002/2003 e hoje se dedica à revelação de talentos. Lá, ele tem estudo do idioma italiano, alimentação, casa e assistência médica. ;É isso que eu queria. Estou muito feliz. Vou passar um mês em Como para ver se gosto da cidade e se será possível me adaptar. Também vou tratar da minha matrícula na escola;, conta André. Se tudo der certo, em um mês o garoto retornará ao Brasil para pegar o visto de estudante ; primeira série do ensino médio ; e se fixar de vez na Itália, dedicando a maior parte do tempo aos treinos e competições.
;Ele (André) é um menino muito disciplinado, bem centrado, que já morou sozinho em Goiânia, onde jogou nas categorias de base do Goiás;, explica o pai, para justificar a confiança que tem na saída do filho. ;O fundamental é que ele (André) não deixe de estudar, pois a escola é tão importante quanto a prática do esporte.;
A decisão de liberar um filho menor para morar sozinho no exterior, difícil para muitas famílias, foi bem discutida entre os pais de André. ;Um dia eu o ouvi se lamentando de que eu o impedia de evoluir no esporte. Isso me fez pensar muito;, revelou Alberto. ;Eu poderia ser o responsável por sua frustração profissional.; Em conversa com a mulher, Cléo, ele decidiu apostar nas pretensões do garoto. Mas e os riscos para um jovem de 15 anos morando sozinho na Europa? ;Os riscos existem, sim. Quando ele sai de casa para ir ali à esquina, já está correndo riscos;, compara a mãe, confortando-se com a esperança de que o filho seja vitorioso no sonho de se tornar um profissional. Famoso, de preferência.
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