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Choro de corintianos quebra script de despedidas no futebol

postado em 21/07/2009 16:08
Ao se levantar, coloca o relógio no pulso direito e o colar no pescoço. O primeiro pensamento é que falará naquele dia pela última vez como jogador do Corinthians, onde conquistou três títulos em pouco menos de um ano de clube. É assim que sai de casa nesta terça-feira o volante Cristian, sem acordar esposa e filha, tomando o caminho de quase todos os dias da semana, o Parque São Jorge. No carro, o jogador se lembra de muitos bons momentos com a camisa alvinegra, das amizades que construiu e da reviravolta na carreira como profissional. Escorrem no rosto as primeiras lágrimas. No horário marcado para o início do treinamento físico, atividade praxe na reapresentação do elenco depois de uma partida, Cristian segue direto do estacionamento para a sala de musculação do Parque São Jorge. Lá estão malhando o atacante Ronaldo, o zagueiro Chicão e os volantes Elias e Jucilei. Com uma caneta hidrográfica preta e uma camisa do Corinthians nas mãos, ele pede autógrafos e desaba a chorar, em meio a um abraço e outro dos futuros ex-companheiros. Ainda ouve frases que o marcarão para sempre. Tudo é acompanhado e registrado pelos jornalistas, do outro lado do vidro da sala. Uma despedida nada convencional. De repente, aparecem na sala de imprensa ele e o lateral esquerdo André Santos. Ambos enxugam as lágrimas antes de se sentarem à mesa. A emoção por deixar o Corinthians e jogar no Fenerbahce, com o qual assinarão contrato com duração de cinco anos, comove os dois jogadores e outros profissionais do clube com quem trabalhavam diretamente. "É um momento difícil, vamos deixar grandes amigos, excelentes pessoas", comenta André Santos, o primeiro a falar. "Passei por momentos difíceis na minha vida", acrescenta Cristian, que depois de fazer um bom Campeonato Estadual pelo Flamengo no ano passado, não apresentou futebol igual no Campeonato Brasileiro e foi afastado pelo técnico Caio Júnior na Gávea. "O Corinthians abriu as portas para mim", tenta explicar o jogador, ciente de que as lágrimas não são recorrentes em despedidas no futebol. "Quando você está no estádio e vê a torcida te incentivar do começo ao fim, sem vaiar, você começa a amar o clube de verdade. Posso falar que hoje sou um corintiano, um maloqueiro", emenda Cristian. "Minha filha canta o hino do clube, o hino da torcida. É muito difícil algum jogador chorar porque vai embora". Do seu lado direito, André Santos esperava para dizer que também tinha se tornado corintiano. A surpresa dos jornalistas foi visível e justificável. Numa época em que a transferência de brasileiros para o exterior é apontada como culpada pela inexistência de ídolos, a emoção dos dois agora ex-corintianos surpreende. Ainda mais quando atletas deixam suas equipes sem satisfações, como o atacante Keirrison, que nem sequer se despediu do elenco do Palmeiras ao fechar com o Barcelona. Para quebrar o clima de tristeza, Cristian explica, ainda com a voz amarrada pelo choro, que a emoção mais contida de André Santos se dava pelo fato de o lateral até aquele momento ainda não ter se despedido do grupo. "Eu cheguei cedo para me despedir do Ceará (massagista), que é uma figura. O André sempre chega atrasado, não tem compromisso com nada, por isso que vai chorar mais depois", conclui o novo volante do Fenerbahce, com o raro riso de mais um dia difícil da carreira.

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