Gustavo Ribeiro
postado em 13/08/2009 09:18
Reza a sabedoria popular que nada é de graça. Atalhos para se conseguir um aumento rápido no desempenho fÃsico são possÃveis, mas trazem graves riscos à saúde. O hormônio EPO, por exemplo, encontrado em atletas brasileiros à s vésperas do Mundial de Atletismo de Berlim, pode até matar. Todas as substâncias estimulantes ao organismo são proibidas pelo Comitê OlÃmpico Internacional (COI). A única exceção é a cafeÃna, mas por um motivo fácil de se entender: o consumo em altas doses só atrapalha.
"A cafeÃna causa tremores e impede o atleta de realizar a atividade fÃsica com precisão", explica Eduardo De Rose, membro da equipe médica do COI.
A entidade máxima do esporte olÃmpico mundial vive um eterno jogo de gato e rato com uma parcela de atletas e médicos que tenta, a todo custo, encontrar brechas nas proibições*. Para fechar o cerco, são realizados exames sem previsão. "Antigamente, era comum que um atleta se dopasse para aumentar a carga de treinamentos e interrompesse o uso em tempo suficiente para que a substância fosse eliminada pelo organismo. Assim, ela não seria detectada nos exames durante as competições", conta João Zanini, especialista em medicina do exercÃcio e ex-responsável pelo controle de doping da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Se em nÃvel profissional o controle é rigoroso, entre os praticantes do esporte amador ele é inexistente. São muitas as pessoas que querem uma "forcinha" a mais para ter o corpo dos sonhos. É o caso de um fisiculturista de 48 anos. Ele conversou com o Correio sob a condição de não ter o seu nome revelado. Há 28 anos, o atleta usa três anabólicos esteroides: Deca Durabolin, Durateston e Estanozolol. Onde e em que local ele consegue esses medicamentos é tratado como segredo de estado. O "investimento", como ele chama, não sai por menos de R$ 1,5 mil por vez. Anualmente, um ou dois ciclos de consumo de seis semanas. "São duas aplicações por semana durante esse perÃodo", explica. O próprio personal trainner dele é o responsável pela injeção das drogas. "Ou então um farmacêutico de confiança", revela.
O fisiculturista se diz esclarecido sobre os riscos que a prática representa, mas garante que nunca teve problemas. E não pretende parar com o uso."Faço acompanhamento com um endocrinologista e um clÃnico-geral. Monitoro minhas funções hepáticas e renais, para garantir que nenhum imprevisto ocorra. Uso os esteroides de forma inteligente."
Mas esse consumo, em qualquer dose, nunca é inteligente. "Todo profissional de educação fÃsica sério é contra essa prática. Até porque, mais dia, menos dia, os efeitos colaterais vão surgir", alerta o personal trainner Marco de Paoli.
Remédio para animais
Quem não tem como bancar as drogas muitas vezes apela para uma solução mais barata e, exponencialmente, mais perigosa: remédios estimulantes para animais. Taquicardia (batimentos acelerados), vômitos e diarreia são os efeitos mais frequentes. Mas os medicamentos para animais de grande porte, como cavalos, podem facilmente causar parada cardÃaca. A veterinária Carleane Oliveira ainda alerta que esses remédios aumentam a propensão do organismo a desenvolver tumores. "Outro problema é que, nos locais de aplicação, são formados nódulos. O corpo não consegue absorver toda a substância", esclarece.
A veterinária trabalha em uma loja de produtos agropecuários no Núcleo Bandeirante e revela que recebe, com frequência, pedidos de "bombados" por estimulantes para cavalos. "O Potenai e o ADE são os mais procurados. O primeiro sai por R$ 7 a ampola com 10ml. O segundo custa entre R$ 44 e R$ 74", revela. O perfil é geralmente o mesmo: jovens de 17 a 25 anos. (GR)
Morte em menos de 24h
Em fevereiro deste ano, o brasiliense Thiago Pereira, de 22 anos, morreu depois de injetar o hormônio Estrol-5. Ele desmaiou no serviço e sua morte cerebral foi decretada menos de 24 horas depois.