Gustavo Ribeiro
postado em 14/08/2009 09:24
"O Brasil vai a Berlim para passear." A afirmação é do presidente do Centro de Estudos do Atletismo, Fernando Franco. Desde 1998, o especialista projeta com precisão o desempenho dos brasileiros nas principais competições da modalidade. Nos dois últimos ciclos olímpicos, em Atenas (2004) e Pequim (2008), por exemplo, Franco foi certeiro em todos os prognósticos. As análises e comparações são baseadas nos recordes mundiais e rankings da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). "Analiso as marcas de cada atleta, prova por prova, e posso calcular as chances que cada um tem de chegar ao pódio", esclarece.
As perspectivas do país para o Mundial de Berlim, que começa amanhã, são nada otimistas. A maior delegação brasileira na história da competição, com 45 atletas, tem poucas chances de ganhar medalhas, segundo Franco."Os brasileiros vêm tendo performances muito abaixo da elite do esporte. Não há como alcançarem os competidores de ponta", afirma. Para somar à lista de pontos negativos, seis corredores que participariam da disputa foram flagrados no exame antidoping para o hormônio proibido EPO.
Dos atletas que estão na Alemanha, apenas quatro podem beliscar o pódio. No feminino, Mauren Maggi, do salto em distância, e Fabiana Murer, do salto com vara. Entre os homens, Jessé Lima, do salto em altura, e Jadel Gregório, do salto triplo. Mesmo Maurren, que chega ao Mundial credenciada pela medalha de ouro na última Olimpíada, corre por fora e terá de contar com a sorte. "No último ano, ela não saltou acima de 6,90m. Não está no mesmo nível em que estava no ciclo anterior a Pequim, quando ultrapassava essa marca com frequência", explica Franco. No masculino, o cenário é ainda mais desolador. "Nem mesmo os atletas flagrados com doping conseguiram ficar no primeiro escalão. Temos recordes que duram há décadas, como o dos 100 metros rasos (10s), registrado por Robson Caetano em 1988", aponta Franco.
Muito dinheiro, pouco resultado
O curioso é que o atletismo tem recebido investimentos nos últimos anos. Desde 2001, a Lei Agnelo Piva (nº 10.264/2001) repassa 2% da arrecadação bruta das loterias para os comitês Olímpico e Paraolímpico. "A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) recebeu cerca de R$ 2,5 milhões em 2008. Há ainda a parceria com a Caixa Econômica Federal, responsável por investir mais de R$ 50 milhões desde 2003", afirma Franco. "A CBAt se gaba de levar cada vez mais atletas aos Mundiais, mas para quê? Eles não vão em condições de igualdade. Seria melhor uma delegação menos numerosa e mais qualificada", critica.
O especialista aponta o calendário brasileiro e a falta de especialização das equipes como causas principais para o fraco desempenho nacional. "Se nossos atletas competem durante todo o ano em etapas do Troféu Brasil, lá fora eles se concentram em competições mais fortes, entre junho e setembro. Isso permite que os estrangeiros tenham mais tempo para desenvolver a preparação física e se desgastem menos ao longo de uma temporada", analisa Franco.