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Um campeão agoniza

Clube mais antigo do Distrito Federal, o Guará está à beira do desaparecimento. O dono do título candango de 1996 desistiu de disputar a terceirona local e fechará o ano sem ter feito nenhum jogo

Cida Barbosa
postado em 24/08/2009 08:59

Na chegada ao Cave, o advogado Sérgio Copertino olha ao redor e não se contém: ;Já vi este estádio cheio;. A lembrança do presidente interino do Clube de Regatas Guará remonta aos tempos em que o Lobo disputava competições, sonhava com títulos. Isso ficou no passado. Agora, o vazio do local só não é maior porque garotos de uma escolinha de futebol da cidade fazem seus treinos por lá.

Eles ocupam o espaço que deveria ser usado pelos Clube mais antigo do Distrito Federal, o Guará está à beira do desaparecimento. O dono do título candango de 1996 desistiu de disputar a terceirona local e fechará o ano sem ter feito nenhum jogojogadores profissionais do Guará. Mas não há nenhum. Rebaixado no ano passado para a terceira divisão candanga, o campeão da elite local de 1996 se licenciou da competição por total falta de estrutura. Nem mesmo tem um time. Assim, o clube de 52 anos de existência, o mais antigo do Distrito Federal, encerrará 2009 sem ter entrado em campo. ;Equipe não é problema porque a gente faz, mas precisa ter dinheiro. Há muitos outros gastos, com comissão técnica, transporte, material esportivo, arbitragem. E o Guará, em termos financeiros, não existe. Tudo que resta são os troféus;, explica Sérgio Copertino.

Na verdade, o clube ainda tem um patrimônio: uma sala comercial no próprio Guará. Mas já ostentou quatro apartamentos na cidade e um terreno de 219 mil metros quadrados no Núcleo Bandeirante está envolto em um longo imbróglio na Justiça. ;Houve muitas gestões ruins, mas nada ilegal;, alega Alcir Alves, diretor de marketing do clube entre 1989 e 1996. ;O fato é que o patrimônio foi consumido com o time porque faltava patrocinador.; Ele se mostra descrente em uma mudança de cenário. ;Vai ser difícil alguém querer assumir a direção nessa situação.;

Divino Alves, ex-presidente e ligado ao Guará há mais de 20 anos, teme pelo pior. ;Se o clube está sem atividade, a tendência é de que desapareça;, afirma. ;O mercado está muito competitivo e o que manda é o poderio econômico. Quem pensa em levar o futebol só na paixão, pode esquecer. Eu me sinto frustrado.;

Apesar de o futuro se desenhar desolador, Sérgio Copertino procura manter o otimismo. ;Acho que não há perigo de o Guará desaparecer. Quem sabe não aparece alguém para comandá-lo? O clube tem muita tradição;, argumenta o cartola, que ocupa a presidência porque ninguém mais se dispôs, como ele mesmo confessou.

Ex-técnico lamenta

Uma das pessoas que mais lamentam o declínio do Guará é o técnico Déo de Carvalho. Foi sob o comando dele que o Lobo conquistou seu único troféu de campeão candango, em 1996. Diante de 3.600 pagantes no Estádio do Cave, o tradicional time bateu o Gama por 3 x 1, de virada, no segundo jogo da decisão (venceu a partida de ida por 1 x 0, no Bezerrão.

;Fico triste com o que está acontecendo. É o clube mais antigo do DF, tem um local para jogar, uma torcida boa, mas acabou entregue a pessoas que não gostam de futebol;, reclama ele, sem citar nomes. ;O Guará tinha patrimônio. Tudo acabou e ninguém cobra nada;, emenda o ex-goleiro das divisões de base do Lobo.
Atualmente, Déo de Carvalho se divide entre a escolinha de futebol que tem em Taguatinga e o comando do time feminino Renascimento, de Guiné Equatorial, país da África Ocidental.

Confusão com o xará da cidade

; O Clube de Regatas Guará costuma ser confundido com o extinto Clube Esportivo Guará, atualmente transformado no Botafogo-DF, líder da segundona candanga. Até mesmo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ignora a diferença entre os dois xarás. Os pontos do novato pela participação na Série C de 2007 e na Copa do Brasil de 2008 foram computados para o mais velho no ranking da entidade. O sumiço do Lobo abriu espaço para outros times ocuparem espaço de treinos e jogos no Cave, como o tradicional Brasília, o Capital, da terceirona local, e a filial do Botafogo.

Placar

Guará 3
Cláudio; Márcio Franco (Elson), Zinha, Gilson e Carlos Eduardo; Marquinhos, Marco Antônio, Júlio César e Rogério (Edi Carlos); Missinho e Éder Antunes (Wagner)
Técnico: Déo de Carvalho

Gama 1
Cássio; Flávio (Régis), Gerson, Jairo e Edinho (Gilmar); Deda (Pacheco), China, Romualdo e Paulo Henrique;
Carlinhos e Anderson
Técnico: Joel Martins

Gols: Anderson, aos três, Rogérios, aos 21 e Éder Antunes, aos 30 minutos do primeiro tempo; Júlio César, aos 38 minutos do segundo tempo Renda: R$ 15.760 Público: 3.600 pagantes

Perfil

Nome: Clube de Regatas Guará
Cidade: Guará (DF)
Fundação: 9 de janeiro de 1957
Endereço: Estádio Antônio Otoni Filho (Cave), no Guará II, de propriedade do Governo do Distrito Federal, com capacidade para 7 mil pessoas
Título: campeão brasiliense de 1996
Campeonato Brasileiro: 1 participação na primeira divisão (1979), três na segunda (1980, 1982 e 1983) e duas na terceira (1992 e 1995)
Copas do Brasil: 2 participações (1997 e 1999)

Eu me lembro

;Ir aos jogos do Guará era o meu antiestresse. Vibrava, dava risadas, xingava muita gente. Já vi boas partidas do time, mas também vi outras que pareciam coisa de amadores. Teve um ano (1998) em que o Guará foi vice do Gama e eu fui para o campo depois do jogo. Aos poucos, todos foram embora e deixaram o troféu lá. Tive uma vontade louca de roubá-lo. Os caras esqueceram o troféu... Até hoje me arrependo de não ter levado para casa. Não devolveria de jeito nenhum. Infelizmente, acho que o Guará já acabou mesmo. E eu não vou torcer para nenhum outro clube. Não dá para virar a casaca aos 36 anos...;

Djalma Marinho, o Phu, baixista da banda de rock Macakongs 2099, morador do Guará

Eles já vestiram a camisa do Guará

; Lúcio (zagueiro da Seleção Brasileira e da Internazionale, da Itália)
Disputou apenas um jogo, da Copa do Brasil de 1997, quando o Guará foi goleado por 7 x 0 pelo Internacional no Mané Garrincha. Foi a última partida antes de se transferir para o próprio colorado
; Nunes (ex-atacante do Flamengo e da Seleção Brasileira)
Disputou a Série C do Brasileiro de 1992
; Josimar (ex-lateral do Botafogo e da Seleção Brasileira)
Disputou a Série C do Brasileiro de 1992
; Beijoca (ex-atacante do Bahia e do Flamengo)
Disputou os campeonatos candangos de 1989 e 1991
; Éder Aleixo (ex-atacante do Atlético-MG e da Seleção Brasileira)
Fez parte da campanha do título candango de 1996

O presidente Sérgio Copertino:

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