O fraco desempenho do Brasil no Mundial de Atletismo em Berlim trouxe mais uma vez à tona os questionamentos sobre qual o papel da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). No início do mês, o Brasil se encantou com César Cielo, um fenômeno à parte, e com o resultado da delegação nacional no Mundial de Natação em Roma. Com 76 atletas, o país conquistou quatro medalhas (os dois ouros de Cielo, uma prata e um bronze). Foram 18 finais, nove recordes de campeonato, seis tempos das Américas e 33 novas marcas sul-americanas: a melhor campanha canarinha.
Nas pistas, os 42 representantes do país chegaram a apenas seis finais, e o melhor resultado foi o quinto lugar de Fabiana Murer no salto com vara e da equipe do 4x100m feminino. Logo após o pífio resultado em terras germânicas, sem nenhuma medalha entre os 47 atletas, o presidente da CBAt, Roberto Gesta de Mello, anunciou que trará técnicos estrangeiros.
;Defendo plenamente. Nossos técnicos não estão dando conta;, concorda Fernando Franco, presidente do Centro de Estudos de Atletismo de Brasília. O professor, que já havia previsto, conforme publicou o Correio, este desempenho do Brasil no Mundial, alerta entretanto que isso não é suficiente. ;Não adianta trazer o técnico estrangeiro se o técnico do clube não liberá-lo para treinar;, argumenta.
Para Franco, uma das soluções seria a CBAt montar uma seleção permanente com os melhores atletas, trabalhando sob o comando desse profissional internacional. Já o técnico João Sena, treinador da maratonista Marizete Moreira, defende a gestão de Gesta. ;A nossa confederação é a que mais ajuda;, assegura. Sena diz ainda que existe um intercâmbio com técnicos internacionais desde que Gesta assumiu a CBAt, há 20 anos.
O treinador que revelou Carmem de Oliveira ainda argumenta que não dá para comparar os resultados com a natação, pois o esporte aquático é praticado por pessoas da elite, e os nadadores são patrocinados pelos pais.
Dinheiro não falta
A CBAt está entre as confederações que recebem maior aporte das loterias federais, repassado pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB). São em média R$ 2,5 milhões por ano. A diferença para as outras está no patrocínio: a Caixa Econômica Federal repassou R$ 13,5 milhões só este ano. Nos nove anos de apoio, a ajuda passa dos R$ 64,3 milhões.
Enquanto isso, a Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos (CBDA), que recebe os mesmos R$ 2,5 milhões das loterias, conta com apenas R$ 10 milhões anuais dos Correios.
A falta de planejamento
O professor da Universidade de Brasília Paulo Henrique Azevêdo, especialista em Gestão e Marketing do Esporte, não acredita que a solução seja trazer técnicos de fora. ;O problema não é esse.; Para Azevêdo, o que falta é uma gestão responsável. E esse problema não é exclusivo do atletismo. ;A luta pelo poder tem enfraquecido o esporte no Brasil;, argumenta.
Para o professor, os dirigentes estão mais preocupados em se manter no comando das confederações do que em planejar um avanço para a modalidade. ;Quando neste país se fez um planejamento para alguma coisa? Só pensamos no hoje;, critica. Para o especialista, enquanto predominar a visão de que o esporte é coisa apenas para quem está no meio, essa realidade não mudará. ;Tem que haver uma qualificação de quem está à frente da administração;, justifica.
Paulo Henrique ainda lembra que o atletismo era o esporte mais procurado pelos profissionais da educação física antigamente. Movimento que não acontece mais, o que dificulta uma retomada da modalidade. ;O Brasil perdeu a base do atletismo há muitos anos. Quem vai atuar nisso sabe que vai ter que montá-la e desanima.;