postado em 04/09/2009 08:39
O fraco desempenho dos brasileiros no Mundial de Berlim surgiu como a ponta de um iceberg de problemas na modalidade. Estagnado há mais de 10 anos, uma das soluções apontadas para a evolução é massificar a prática nas escolas, o que torna necessária a integração dos ministérios do Esporte (ME) e da Educação (MEC). Mas isso está longe de acontecer.Há quase cinco meses, quando foi à Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal para discutir o contigenciamento do orçamento do Ministério do Esporte, o ministro Orlando Silva foi questionado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) sobre como andava o ;casamento; com o MEC. A resposta foi que se tratava de um ;início de namoro;.
Desde então, os dois ministérios não apresentaram nenhum projeto de integração. O único programa que desenvolvem juntos, desde 2008, é o Mais Educação, que envolve também as pastas do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente, da Cultura e a Secretaria Nacional da Juventude. Nele, o esporte entra como um dos 10 possíveis campos de desenvolvimento, para evitar a evasão escolar e melhorar o rendimento dos alunos. Mas entre as 13 opções esportivas não figura o atletismo.
Outro indicador da falta de interesse das duas casas numa possível integração foi o Seminário Educação Física e Esporte Escolar, organizado pela Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, em 13 de maio deste ano. Tanto Fernando Haddad, ministro da Educação, quanto Orlando Silva apenas mandaram representantes.
Os dois ministérios foram procurados pelo Correio para comentar a possibilidade de inserir o atletismo no currículo escolar. O MEC informou, por sua assessoria, que a parceria entre os dois órgãos se restringe ao Mais Educação e explicou que, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a modalidade esportiva que será ensinada nas aulas de educação física fica a cargo das redes de ensino ou da própria escola. Logo, não há obrigatoriedade no ensino de nenhuma modalidade.
Apesar de ter sido procurado desde quarta-feira pela reportagem do Correio, o Ministério do Esporte não tinha se pronunciado até o fechamento desta edição.
COB não entra na conversa
A postura do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) diante do problema foi semelhante à dos ministérios. Por meio de sua assessoria, o órgão informou que não teria como contribuir com a discussão.
De acordo com o COB, a sua participação mais próxima de uma massificação é a realização das Olimpíadas Escolares. A resposta para as possibilidades de desenvolvimento da modalidade nas escolas seria competência do governo.
O superintendente executivo de esportes do COB e ex-jogador de vôlei, Marcus Vinícius Freire, disse que a função do órgão é de repasse de verbas. ;Esses recursos auxiliam no planejamento e na execução das ações programadas em conjunto pela CBAt e o COB.;
Marcus Vinícius não avalia como fraco o desempenho da delegação nacional em Berlim. ;A análise do COB independe das medalhas conquistadas. Historicamente, o desempenho de atletas brasileiros no Campeonato Mundial de Atletismo é melhor na edição que acontece um ano antes dos Jogos Olímpicos. Os melhores resultados do Brasil nesta competição aconteceram às vésperas dos Jogos. Temos que trabalhar para que essa realidade seja permanente durante todo o ciclo olímpico;, encerra o dirigente.