Gustavo Ribeiro
postado em 05/10/2009 08:40
O esporte de alto rendimento se apoia cada vez mais na medicina para melhorar os seus resultados. Tudo graças ao aumento da capacidade física dos atletas. Isso se reflete nos equipamentos de treino, uniformes e, claro, no monitoramento da saúde dos esportistas. Desde 1984, um método criado pelo bioquímico Alexandre Cosendey auxilia a prevenção de lesões e doenças graves: a bioquímica do esporte. Trata-se de uma varredura no corpo do atleta feita por meio de uma amostra de sangue do paciente que detecta, em nível celular, qualquer anomalia antes que os sintomas clínicos apareçam.;Quando os sintomas aparecem, é sinal de que o organismo está mais fragilizado. A intenção é remediar enquanto o problema ainda é restrito;, explica Alexandre Cosendey, ao comentar a importância da bioquímica do esporte.
Toda a influência do meio externo em nosso corpo fica registrada no sangue. Com uma amostra de 10ml (pouco mais de três vezes a quantidade usada em um hemograma comum), é possível identificar o início de processos inflamatórios, fissuras musculares e problemas na absorção de nutrientes. Em função disso, o laboratório de Cosendey trabalha com 44 índices, tais como capacidade de oxigenação celular, absorção e ingestão de glicose. O ;pulo do gato;, segundo o criador da técnica, não é detectar o que está em disfunção, mas o porquê. ;Não dá para analisar cada componente do sangue isoladamente. Os índices são interdependentes e precisamos estudar o paciente por completo;, comenta ele, que tem em sua equipe ortopedistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e médicos. Além de doar uma amostra de sangue, o atleta a ser monitorado responde a um questionário sobre seus hábitos no dia a dia.
Alerta
Cosendey cita o fígado como exemplo de que os sintomas são um sinal de que os problemas já evoluíram. ;Quando um grupo de células desse órgão está com problemas, as demais se sobrecarregam para manter as funções hepáticas. O problema só é detectado quando é mais grave e os tecidos já não dão conta de compensar as falhas.;
Tratamento
Uma vez identificado algum fator alarmante, são sugeridas diferentes formas de tratamento. Em muitos casos, com micronutrientes. ;Analisamos as carências do organismo e estudamos a melhor forma de prescrever essa suplementação para que o corpo faça total absorção;, revela o bioquímico. Os efeitos são mensurados em monitoramentos posteriores. ;O resultado disso, além de uma performance mais forte, é o aumento da longevidade do atleta;, garante o especialista.
O ideal, para os profissionais, é que o acompanhamento seja feito, no mínimo, bimestralmente. No caso dos atletas amadores, o controle não precisa ser tão rígido. Pode ser mais espaçado, de ano em ano ou de seis em seis meses. Mas não é para todos os bolsos. O mapeamento do sangue sai por R$ 1.600, em média. Com a compra dos micronutrientes, esse valor sobe.
Longevidade nas pistas
Márcia Narloch se dedicou às maratonas por 26 anos e foi uma das principais representantes do Brasil na modalidade. Prova disso foi a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2004) e a de prata no Pan do Rio (2007). Márcia acredita que seu longo tempo no esporte, em grande parte, se deve à bioquímica do esporte. Ela conheceu o método por meio do ex-técnico, Jorge Agostinis. ;Antes de toda prova importante, eu procurava me tratar com mais intensidade, para chegar mais bem preparada;, comenta a ex-corredora. A atleta conta que seu acompanhamento era mensal. Mas, dependendo do calendário de competições, intensificava-o ainda mais. ;Os diagnósticos me diziam se era preciso diminuir a carga de treinos ou até mesmo parar por alguns dias. Antes de correr em Santo Domingo, por exemplo, descobri que estava sobrecarregando meu organismo. Mudei a preparação e isso foi essencial para vencer.;Narloch ostenta a marca de conquistar, por anos seguidos, as maratonas de Porto Alegre e São Paulo, ambas realizadas no mês de maio. ;Fui a única brasileira a fazer isso. Depois de correr no sul, estava hesitante em partir para o desafio paulista. Achava que não iria conseguir um bom rendimento. Mas, depois de me consultar com Cosendey, vi que estava preparada e subi no pódio novamente em primeira;, gaba-se.
Aprendizado na marra
Como todo ultramaratonista, Sebastião da Guia, de 42 anos, precisa monitorar a saúde com rigor. As provas que disputa duram, em média, 24 horas ininterruptas. O desgaste imposto ao corpo é inevitável. ;Todo corredor, ao fim de uma disputa, sofre de um princípio de lesão hepática. Ficar um dia inteiro correndo prejudica o fígado. Costumo dizer que pratico um esporte que não traz qualidade de vida, mas que arrebenta o organismo;, brinca.
Sem patrocinador, Sebastião contou com o apoio do entusiasta da bioquímica do esporte para se prevenir de lesões. Fazia as consultas sem custo. Mas relutou em seguir as recomendações no início. ;Fui alertado para não participar de uma corrida. Estava com os ossos debilitados e precisaria de descanso. Teimei em ir, e acabei sofrendo uma fratura na base no dedo mindinho do pé;, lembra. A partir de então, não contrariou mais os conselhos recebidos. ;Meu treino começa no laboratório;, garante.
Peso
O atleta passou a participar das competições mais gordo, para que houvesse reservas de energia ao longo das provas. Sebastião da Guia também mudou a alimentação. ;Não consumo mais nada além do que realmente preciso. Antes, eu fazia suplementação alimentar com aminoácidos.; Em um esporte que pune o corpo, Sebastião goza, agora, de uma recuperação mais rápida e menos traumática. Em vez dos costumeiros 20 dias para se restabelecer, hoje ela leva ;apenas; 12.