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Brasil se prepara para emergências na pista de Interlagos

postado em 15/10/2009 09:37
O acidente que feriu gravemente Felipe Massa no GP da Hungria, em julho, colocou novamente em foco a importância de um bom atendimento médico na Fórmula 1. Em 59 campeonatos disputados, a principal categoria do automobilismo mundial já viu 36 pilotos morrerem nas pistas, além de dezenas de feridos. Mas e o GP do Brasil? A disputa em São Paulo está preparada para uma situação de tamanha emergência? Totalmente, garantem os responsáveis pelo atendimento, operado pelo Hospital São Luís há nove anos. Desde 1973 presente no calendário da Fórmula 1, a etapa verde-amarela jamais ficou marcada por um acidente que culminou em óbito. Entretanto, já passou por grandes sustos, como a forte batida sofrida por Fernando Alonso em 2003 ao acertar destroços do carro de Mark Webber, que havia se chocado no muro que delimita a curva do Café. No próximo domingo, cerca de 150 profissionais estarão a postos para qualquer emergência, além de sete veículos de atendimento, dez ambulâncias de pista, um medical car e dois helicópteros. Câmeras disponibilizadas pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) servem para que os chefes da equipe saibam de todas as informações da situação, mesmo estando à distância. De lá, os profissionais que estão no centro médico já recebem as orientações dos prováveis machucados e como devem se preparar para receber o paciente. Tal serviço não é para qualquer um. "Trata-se de uma situação pré-hospitalar, que exige um conhecimento mais focado. Você pode ser um ótimo profissional dentro do hospital, mas se não tem expertise torna muito difícil esse atendimento. É um perfil completamente diferente do ponto de vista emocional e de protocolo", explica Pedro Rozolen Jr., diretor médico adjunto do GP do Brasil. Inaugurado no ano passado, o novo centro médico do autódromo de Interlagos possui cerca de 300 metros quadrados, com sala para realização de exames e até uma unidade de terapia intensiva (UTI) - estes equipamentos, no entanto, servem apenas para estabilizar um possível paciente, removido de helicóptero para o hospital assim que possível. A estimativa é que o trajeto até a unidade Morumbi do São Luís demore de três a cinco minutos. Junta há sete anos, a equipe comandada por Dino Altmann - o mesmo médico que acompanhou a situação de Massa após o acidente em Budapeste - começa a relembrar os procedimentos a serem adotados uma semana antes do GP - em anos anteriores, essa preparação chegou a ser de três meses, mas a experiência adquirida permitiu a diminuição do prazo. Durante a visita da Gazeta Esportiva.Net ao centro médico do autódromo, duas equipes de remoção treinavam exaustivamente como proceder caso seja necessário retirar algum acidentado do carro. "Existe toda uma técnica para retirar o piloto. É preciso ser rápido e eficaz no sentido de imobilização, pois ele potencialmente pode ter uma lesão de coluna cervical. Tudo gira em torno de manter o alinhamento da coluna", explica Rozolen. Atualmente, os bancos dos carros de Fórmula 1 são feitos de tal forma que também auxiliam na proteção aos ossos das costas. De acordo com o diretor adjunto, a pior situação possível envolve um tipo de acidente extremamente improvável. "Se o carro cair no lago vai ser uma coisa inusitada e péssima porque com o fogo a gente lida, mas com a água vai ser meio complicado", afirma o profissional, que logo em seguida menciona possibilidades mais realistas. "A situação com fogo fica mais dramática, porque aumenta o risco de uma lesão maior no piloto e dificulta a abordagem para retirá-lo do carro", explica. Instalado este ano em alguns dos carros da Fórmula 1, o KERS também mereceu atenção especial por parte do time comandado por Altmann. "É como se fosse uma bateria que pode dar choques que chegam perto de mil volts. Esse ano tivemos que nos policiar de equipamentos de proteção, como mantas, luvas e botas que possam suportar esse tipo de carga", comenta Rodolen. O atendimento brasileiro é considerado tão bom que este ano receberá a visita de Stephen Bernard, novo diretor médico do GP da Austrália, que vem conhecer aquilo que é feito em São Paulo. E, apesar de tamanha responsabilidade envolvida, tal trabalho rende até mesmo situações curiosas. "No ano passado, quando terminou a corrida e o Massa perdeu o título, uma pessoa embriagada que estava na torcida subiu no guard rail e pulou porque queria bater no Timo Glock (piloto que foi ultrapassado na última curva por Lewis Hamilton, manobra que garantiu o título ao inglês). Mas ele teve que fratura exposta do tornozelo e acabou sendo levado para cá. Depois, no hospital, teve que passar por uma cirurgia", conta Rodolen, que lembra: na próxima segunda-feira, os médicos já começam a preparação para 2010. "A gente pensa em Fórmula 1 o ano inteiro", finaliza.

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